Opinião — A pérola que rompeu a concha, de Nadia Hashimi

Matheus C.
Livromento
Published in
4 min readApr 4, 2021

Informações

  • Autor(a): Nadia Hashimi
  • Quantidade de páginas: 448
  • Tipo do livro: e-Book (Kindle)
  • Dificuldade de leitura: ■□□□□
  • Avaliação pessoal: ★★★★★

A obra

Em A pérola que rompeu a concha, Nadia Hashimi desenvolve a história de duas personagens — Rahima e Shekiba — com uma narrativa comovente que toma como lugar o Afeganistão. A autora aborda principalmente temas como a desvalorização das mulheres, casamento infantil, política, corrupção e guerras.

Capa de ‘A pérola que rompeu a concha’

A história é narrada por Rahima (já mais velha), que viveu com seu pai — um guerrilheiro viciado em ópio — , sua mãe, e as 4 irmãs em um ambiente hostil onde as mulheres não podem trabalhar, nem ir a escola.

Não ter um filho homem é, logo no início do livro, revelado como sendo um desastre na vida do pai, que, por falta de segurança, se vê obrigado a proibir as meninas de estudar.

Tendo isso em mente, a tia de Rahima, Kahla Shaima, sugere a mãe da protagonista que a menina adote um antigo costume afegão — bacha posh — , onde uma família que não tem filhos homens, designa uma das meninas para vestir-se e comportar-se como um menino, dessa forma, a criança pode trabalhar, ir a escola, escoltar suas irmãs e ajudar a família como um filho, pelo menos enquanto seus traços femininos ainda são discretos, ou até a primeira menstruação. A mãe de Rahima, então, a designa como a bacha posh da família.

Kahla Shaima, também descreve para Rahima e suas irmãs a história de Bibi Shekiba, trisavó das meninas, que também foi bacha posh e teve uma vida repleta de tragédias e violências.

O relato a respeito de Shekiba desperta um sentimento de coragem e, ao mesmo tempo, medo em Rahima, que, já cedo, percebe que os homens podem fazer o que quiserem com as mulheres.

Opinião pessoal

Como meu intuito não é apresentar um resumo para você, caro leitor, não vou expor detalhes da obra (os famosos spoilers), mas darei minha opinião pessoal a respeito e direi se a autora conseguiu me prender, se a obra foi boa e se eu a recomendo ou não.

Primeiramente, como visto acima, minha avaliação pessoal é de 5 estrelas. É uma boa obra, e vou explicar o porquê.

Já havia lido artigos e assistido documentários e filmes que retratavam a triste situação das mulheres no afeganistão sob o regime do Talibã, mas esse livro me pegou de surpresa.

Com uma escrita agradável e uma separação de capítulos que, ao meu ver, foi elegante e bem aproveitada, Nadia Hashimi nos proporciona uma leitura fluída, admirável e fácil.

Os capítulos não são longos, o que torna possível uma leitura compreensível mesmo para os leitores com a vida um pouco mais corrida. Ao fim de cada capítulo eu simplesmente não conseguia parar de ler e contava os minutos para acabar o trabalho e continuar.

E sobre os personagens? Nesse ponto não posso deixar de exaltar: a autora soube desenvolver os personagens excelentemente bem, a um ponto onde ela consegue nos fazer desenvolver amor ou ódio por eles. Não há como não se comover, não criar empatia e não amar Rahima, suas irmãs e Shekiba. Ao mesmo tempo, também é impossível não criar um ódio mortal por outros personagens.

No geral, a história contada no livro é triste, especialmente pelo fato de envolver a desvalorização das mulheres e o casamento infantil. É seguro dizer, para o bem da verdade, que as meninas — aos 13 anos dadas em casamento — eram estupradas e agredidas pelos próprios maridos, dentro de suas próprias casas. E isso, apesar de estar em um livro, sabemos que não é ficção, pois essa foi e ainda é a realidade de muitas mulheres afegãs.

A cultura não valoriza as mulheres, os homens se aproveitam de sua maior força física para agredí-las e estuprá-las, além de, claro, justificarem seus atos através da religião. Não que a violência contra a mulher não esteja presente no mundo inteiro, mas, em nenhum lugar ela é resguardada e “permitida” como no afeganistão, principalmente na época do Talibã.

Para encerrar, elenquei abaixo algumas frases tristes e repugnantes retiradas da obra:

“Eu compreendi algo que minha mãe já sabia: os homens podiam fazer o que quisessem com as mulheres” — Rahima

“Você é uma menina e precisa se lembrar de se comportar como uma. (…) Não olhe para as pessoas nos olhos, especialmente os homens, e mantenha a voz baixa.” — Raisa, mãe de Rahima

“Fui a única de minhas irmãs que teve a oportunidade de viver algum tipo de infância, e isso só porque fui uma bacha posh” — Rahima

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Matheus C.
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Desenvolvedor de software que às vezes gosta de dar uma lida :)~