Opinião — O Manifesto Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels

Matheus C.
Livromento
Published in
7 min readJun 24, 2021

Informações

  • Autores: Karl Marx e Friedrich Engels
  • Quantidade de páginas: 69
  • Tipo do livro: e-Book (Kindle)
  • Dificuldade de leitura: ■■■□□
  • Avaliação pessoal: ★★★★☆ (leia antes de me chamar de esquerdista ou direitista)

A Obra

O Manifesto Comunista é, sem sombra de dúvida, um dos, se não o mais conhecido e um dos mais importantes escritos a cerca do comunismo e socialismo.

Marx e Engels fazem uma breve análise histórica demonstrando como o antagonismo de classes sempre esteve presente nas sociedades trazendo a burguesia e o proletariado para o centro de sua narrativa. Fazendo uma crítica de outros ‘tipos’ de socialismo, os autores demonstram que nenhum destes tipos defende verdadeiramente o fim da exploração da classe operária pela burguesia.

Buscando provar como a burguesia explora o proletariado, Marx e Engels criticam a indústria moderna, a ascensão do que chamam de burgueses modernos, o lucro, o capitalismo e o que se originou dele e a concepção “burguesa” de propriedade privada.

Em um texto clássico sobre o comunismo, os autores tentam trazer alguma contribuição para a causa operária a fim de dar luz para que ocorra a Revolução Proletária, única maneira de libertar os proletários da exploração burguesa nas grandes indústrias.

Opinião

Procurando entender Marx

Nunca havia lido Marx. Apenas alguns trechos de O Capital e nada mais. Sempre fui um crítico do comunismo e socialismo mesmo sem conhecer de fato do que se tratava. Minhas críticas baseavam-se quase que completamente em falácias a respeito da ideologia. Também tinha algumas críticas que não partiam de falácias, mas que eram sempre baseadas em algum artigo que havia lido, algum vídeo, algum documentário que havia assistido — todos estes, quase sempre com uma visão enviesada sobre o assunto.

Foi aí então que decidi ler O Manifesto Comunista para entender de verdade do que se tratava e confrontar o que eu dizia com a realidade.

No geral, é um pequeno livro no mínimo interessante. Não tem uma leitura cansativa, porém, por citar alguns acontecimentos importantes da história sem entrar em detalhes, o considero de leitura relativamente difícil. Principalmente para alguém como eu, que não tem uma bagagem literária tão extensa, alguns acontecimentos citados pelos autores podem fazer com que tenhamos que pausar a leitura e pesquisar sobre o que eles falavam — isso não é um ponto negativo. A edição que peguei possui certo grau de requinte na tradução, o que também dificulta um pouco a leitura, mas não é algo que abaixe a avaliação da obra. Não foi um problema, pelo menos para mim.

O conteúdo

Um tratado contra o lucro. Marx é evidentemente contra o lucro — ao menos contra o lucro burguês. Seu próprio texto acerca da mais valia escrito em O Capital prova isso e O Manifesto Comunista não poderia deixar menos claro esse fato.

Para Marx, o lucro existe apenas através da “exploração” do proletariado pela burguesia — de um lado a real força de trabalho, de outro, uma classe de empresários preocupados apenas com o próprio lucro.

Essa é a ideia central da mais valia para Marx. A mais valia é o lucro, o lucro é a fração da mão de obra que não foi paga aos operários. Dessa forma, ocorre a exploração. A mais valia deveria ser paga aos operários, não “confiscada” pelos donos das grandes indústrias. Ele achava que o valor das mercadorias era determinado pela quantidade de trabalho que foi necessária para sua produção. Será mesmo?

A teoria marxista de mais valia foi refutada por liberais utilizando a Preferência Temporal. Além da Preferência Temporal, argumentos mais fáceis de serem compreendidos também foram utilizados ao refutar esta ideia, por exemplo entender que o lucro não é resultado da dedução do valor que deveria ser pago aos trabalhadores, mas sim que é o resultado do investimento financeiro do empresário — isso vai de encontro com a preferência temporal — ou seja, o empresário é protagonista na produção, pois investiu e planejou.

Marx não se limita apenas a criticar o lucro dos burgueses, mas também critica o desenvolvimento industrial. Chega a fazer algo impensável, que é assumir que os meios de produção capitalistas produzem produtos com baixos preços, ou seja, com maior acessibilidade. No entanto, essa assunção não traz elogios, pelo contrário, traz duras críticas aos meios de produção, dando, inclusive, a entender que os baixos preços são prejudiciais à sociedade, pelo fato de centralizar as riquezas nas grandes cidades, submetendo o campo a elas e submetendo os país subdesenvolvidos aos desenvolvidos.

Trazendo ao mundo de hoje, à mim esta afirmação não faz mais tanto sentido. Por exemplo, vamos pegar um local como o Brasil e entender campo como a área rural de hoje em dia. É sabido que o êxodo rural desacelerou muito e o agronegócio da bons retornos graças a tecnologia e graças ao (adivinhem) modelo capitalista de produção.

O ponto central da obra é destacar ainda mais o antagonismo entre as classes proletariado e burguesia. Para isso, Marx diz que a burguesia não é capaz de melhorar a qualidade de vida dos operários e que quanto mais evoluem os meios de produção, menor fica a qualidade de vida, ou seja, para ele, o capitalismo apenas cria miséria. Na minha visão, ele faz bem em criticar isto, até porque, para a época, talvez essa preocupação fizesse sentido, afinal, a história mostra que de fato as linhas de produção eram cruéis com os operários. No entanto, a própria história também mostra que a previsão de Marx estava errada e que o padrão de vida das massas aumentou graças, principalmente a evolução da produção.

Ele chega a fazer uma comparação que parece-me absurda: basicamente, para Marx, um escravo tem mais chances que um operário.

Mas para oprimir uma classe é preciso poder garantir-lhe condições tais que lhe permitam pelo menos uma existência de escravo. O servo, em plena servidão, conseguia tornar-se membro da comuna, da mesma forma que o pequeno burguês, sob o jugo do absolutismo feudal elevava-se à categoria de burguês.

O operário moderno, pelo contrário, longe de se elevar com o progresso da indústria, desce cada vez mais baixo dentro de sua própria classe. O trabalhador cai na miséria e esta cresce ainda mais rapidamente que a população e a riqueza.

Uma frase talvez possa definir de melhor maneira o que é o comunismo:

O comunismo não retira de ninguém o poder de apropriar-se de sua parte dos produtos sociais, apenas suprime o poder de escravizar o trabalho de outrem por meio desta apropriação

Ou seja, posso obter ‘lucro’ pelo meu próprio trabalho, mas não posso abrir uma empresa e contratar alguém — se for para “contratar”, que seja para dividir igualmente o produto do trabalho.

Marx também é a favor da doutrinação nas escolas. Seu objetivo era retirar a influência da classe dominante (burguesia) de dentro das salas de aula:

E vossa educação não é também determinada pela sociedade, pelas condições sociais em que educais vossos filhos, pela intervenção direta ou indireta da sociedade, do meio de vossas escolas etc.? Os comunistas não inventaram essa intromissão da sociedade na educação, apenas mudam seu caráter e arrancam a educação da influência da classe dominante.

Seguindo as ideias de Marx, a mentalidade revolucionária já nasceria nas escolas.

Marx é um crítico ferrenho do Socialismo Utópico apesar de admitir que seus autores trouxeram enorme contribuição para a causa operária. Com críticas a Fourier, Owen e Saint-Simon, ele os critica por não terem suficiente mentalidade revolucionária. O socialismo descrito estes autores repele ações políticas e procura atingir seus fins por meios pacíficos, pela força do exemplo e experiências em pequena escala, que sempre fracassam. Para Marx, a ascensão da classe operária em classe dominante por meio de uma revolução é a única maneira de emancipação do proletariado.

E a respeito do estado, o que fala Marx? Bem, a respeito do estado não fala-se tanto durante a obra, mas uma coisa é clara: a finalidade do proletariado é atingir a supremacia política para tirar pouco a pouco o capital da mão da burguesia e concentrá-la nas mãos do estado com impostos progressivos até chegar na completa destruição dos burgueses e, dessa forma, acabar com qualquer antagonismo entre classes.

No fim das contas, o objetivo da revolução é tornar o proletariado a classe dominante para acabar com a burguesia e, dessa forma, após não haver outra classe, acabar também com sua própria dominação como classe, ou seja, todos serão iguais.

Reparei que em certo grau o comunismo assemelha-se com o anarquismo:

Uma vez desaparecidos os antagonismos de classes no curso do desenvolvimento e sendo concentrada toda a produção propriamente falando nas mãos dos indivíduos associados, o poder público perderá seu caráter político. O poder político é o poder organizado de uma classe para a opressão de outra.

Ao atingir seu ápice, não haverá mais estado em uma sociedade comunista.

Por fim, digo que é um livro importante e por isso o dei uma nota alta. Geralmente não gosto de livros que são muito tendenciosos e possuem vícios ideológicos, mas, este aqui merece atenção especial, pois é quase um fundador do pensamento comunista que nos atinge até hoje. Dessa forma, é uma leitura de extrema importância.

Recomendo para críticos e adeptos do comunismo, assim, todos saberão o que estão criticando e defendendo.

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Matheus C.
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Desenvolvedor de software que às vezes gosta de dar uma lida :)~