O Dono do Morro: um novo olhar sobre a criminalidade

Diego Mahs
Entrelivros
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3 min readJun 11, 2019
Photo by Andy Falconer on Unsplash

Caco Barcellos ganhou visibilidade e muitos prêmios quando escreveu “Abusado, o Dono do Morro Dona Marta”. Seu livro virou leitura obrigatória em qualquer faculdade de Jornalismo do Brasil. Menos conhecido no Brasil que Barcellos, o inglês Misha Glenny seguiu passos parecidos para contar a história de outro homem que controlou um dos morros mais importantes do Rio de Janeiro.

O Dono do Morro: um homem e a batalha pelo Rio” descreve um cidadão comum, que tinha um bom emprego, um apartamento uma mulher e uma filha recém-nascida que acabaria mudando a história de vida não só de seus pais como também do Rio de Janeiro.

Antônio Francisco Bonfim Lopes era chefe de equipe da Globous Express, funcionário exemplar, mas andava preocupado com Duda, sua filha, então com nove meses. A preocupação aumentaria ainda mais com o diagnóstico: HCL (Histiocitose das Células de Langerhans), doença raríssima, parecida com o câncer e com tratamento muito caro.

Sem dinheiro para pagar o tratamento, Antônio livrou-se do apartamento, foi a bancos em busca de empréstimos, pediu dinheiro a familiares e amigos e, mesmo assim, ainda faltavam 20 mil reais. Sem ter mais a quem recorrer, subiu o morro da Rocinha, foi falar com Luciano Barbosa da Silva, o “Lulu”, dono do morro. Lulu observou o caso e resolveu pagar todo o tratamento da menina Em troca, Antônio virou o “Nem” e começou a trabalhar como segurança do traficante de drogas.

O livro que conta a história do Nem da Rocinha, o homem mais procurado do Rio de Janeiro em 2011, não pode ser visto apenas como uma história, é praticamente um estudo social a demonstrar que onde o Estado falta, há gente de sobra para tomar seu lugar. As favelas do Brasil são Estados à parte, dominados por quem pode mais e também de quem “ajuda mais”. Os favores e benesses dos traficantes aos moradores é essencial para manter uma boa relação na favela.

Com história muito semelhante ao livro de Caco Barcellos, as comparações são inevitáveis.Se junto com Caco conhecemos o que era o CV (Comando Vermelho) e como ele funcionava, Misha revela a estrutura da ADA (Amigos dos Amigos) organização criminosa rival do CV.

No morro Dona Marta, Caco visitou várias vezes Marcinho VP. Com Misha, ao contrário, o livro só começou a ser produzido em 2011, quando Nem foi preso, onze anos depois de Nem entrar no tráfico. O livro, lançado em 2016, virou fonte obrigatória a quem deseja entender o contexto da violência atual no Rio.

Com a prisão de Nem, outras personalidades do tráfico resolveram tentar tomar o local e controlar um dos maiores pontos de vendas de droga do País.

Veredito

Mesmo com toda dificuldade natural da diferença entre os idiomas do autor e das fontes, Misha Glenny descreve com perfeição os problemas sociais que afligem o Rio e, por que não dizer, de boa parte do Brasil. Quem lê o livro nem percebe que o autor é um estrangeiro. A tradução propiciou uma escrita leve e de fácil entendimento. A pluralidade de fontes ajuda a montar um livro com ótima transição do começo para o meio e para o fim. Parece mesmo que o caminho fica aberto para que o autor, futuramente, escreva um posfácio atualizando o que aconteceu com Nem e com a Rocinha.

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Diego Mahs
Entrelivros

Estudante de jornalismo e apaixonado por livros.