City of Chosts, um retrato da destruição feita pelo Estado Islâmico

Anna Clara Lôbo
Lôba no Covil
Published in
4 min readJun 13, 2020

Fundado em 2004 com a ajuda do Al Qaeda (Organização terrorista), o Estado Islâmico tem como principal proposta recriar uma forma islâmica de governo que foi extinta em 1924.

Segundo Pio Penna, professor da Universidade de Brasília (UnB) e diretor-geral do Instituto Brasileiro de Relações Internacionais (Ibri) em entrevista para a Agência Brasil, “Eles não reconhecem a legitimidade dos Estados que foram implementados no Oriente Médio, a partir dos interesses ocidentais, e então, simbolicamente, por exemplo, queimam os passaportes, as identidades nacionais. Eles querem criar uma identidade árabe, mas com base numa sustentação sunita do Islã”.

Com “sustentação sunita”, o professor esquece de falar que eles são, na verdade, de uma parte mais extrema da crença, essa que representa mais de 50% da população muçulmana, mas que não tem apoio de toda a população muçulmana. E é a partir daí que posso começar a falar sobre o documentário “City of Ghosts”, Cidade de Fantasmas em português.

No ano de 2014, o Estado Islâmico começou a atuar na cidade de Raqqa, na Síria. E em pouco tempo eles mostraram seu verdadeiro poder, de tal forma que alguns cidadãos se viram na obrigação de mostrar ao mundo o que estava acontecendo em sua cidade. Foi quando o grupo “Raqqa está sendo massacrada em silêncio” surgiu.

Dizer que o EI atuou em Raqqa é um engano. Na verdade, eles tomaram a cidade de quaisquer direitos que os cidadãos tinham de ter sua própria religião e/ou crença. Os que iam contra o regime eram mortos em praça pública, degolados ou mortos com tiros na cabeça, tudo para que todos pudessem ver. E o EI nunca teve medo de ser o mais extremo possível, utilizando de torturas para conseguir as informações que queriam. Dessa forma, algumas pessoas corajosas se juntaram e começaram a usar uma arma não tão letal, mas que mostrou ao mundo que estava acontecendo: o Jornalismo.

Com posts e vídeos em redes sociais como o Twitter e Facebook, os membros do Raqqa Está Sendo Massacrada em Silêncio mostraram a resistência do povo Sírio, fazendo denúncias e divulgando para o mundo o que acontecia em sua cidade natal. Com o tempo, o Estado Islâmico passou a considerar esse novo grupo um perigo, e a perseguição contra os membros começou.

Alguns integrantes conseguiram fugir do país, outros foram mortos e tiveram vídeos das suas mortes divulgadas para que os outros tivessem medo. Mas a luta continuou, e o EI mudou sua tática: tiraram os sinais de internet e televisão, para que nada saísse da cidade. Entretanto, o grupo ainda tinha seus informantes dentro de Raqqa, que passavam as informações por mensagem, ligação ou de qualquer outra forma que encontravam, ainda que estivessem praticamente com a faca na garganta, correndo o risco de serem descobertos e mortos a qualquer momento.

Ameaças a parentes dos integrantes também eram feitas, e um deles chegou até mesmo a ter seu pai morto em vídeo. Mais uma prova do quão cruél o Estado Islâmico é.

O HORROR COMO PROPAGANDA

O mundo estava avançando, e, com ele, a tecnologia. O grupo Raqqa Está Sendo Massacrada em Silêncio utilizava vídeos, textos em blogs, facebook, twitter e imagens para denunciar a chacina que acontecia em seu país. Quando o Estado Islâmico percebeu que eles também poderiam utilizar essa ferramenta como publicidade para o seu regime, não hesitaram.

Vídeos com produções que poderiam ter sido feitas em um filme de Hollywood foram produzidos. A diferença? Tudo era real.

Por causa desse investimento na produção de vídeos que mostravam a ideologia e ações do Estado Islâmico, mais pessoas ao redor do mundo se interessaram pelo grupo, que está na ativa até os dias atuais, na frente de guerras cruéis e a crença sunita acima de tudo.

Dirigido por Matthew Heineman, City of Ghosts foi lançado em 2017, e ganhou o Prêmio Coragem Debaixo de Fogo da Associação Internacional de Documentários, além de ter sido agregado em mais de 20 listas de críticos de fim de ano por Melhor Documentário de 2017.

Além disso, também foi nomeado para o Primetime Emmy, para o BAFTA, além de um IDA Award por melhor filme documentário.

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Anna Clara Lôbo
Lôba no Covil

Jornalista que se apaixonou pela área de experiência do usuário.