CONTO: Fuga Desastrosa

Anna Clara Lôbo
Lôba no Covil
Published in
7 min readMay 17, 2017

Oi Gente!!

Então aqui vai o primeiro conto do blog. Espero muito que vocês gostem.

Não pretendo postar contos com muita frequência, porque é meio difícil o tempo pra conseguir escrever um, sem contar que também é difícil conseguir ter uma ideia que eu considere muito boa pra poder escrever.

NOVAMENTE ESPERO MUITO QUE VOCÊS GOSTEM. Um beijíneo, aproveitem.

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Não, não, não! Está tudo errado, eu não deveria nem estar aqui!

Esses eram os únicos pensamentos que passavam pela cabeça da morena que se encontrava acima de um enorme tablado de madeira pura, com um espelho igualmente majestoso a sua frente.

Ela estava linda, sim, estava parecendo uma princesa de algum conto de fadas. Mas não se sentia ela mesma, pelo menos não casando tão nova. Suas madrinhas de casamento estavam todas ao seu redor, contemplando, maravilhadas, a amiga.

Mal sabiam o que ainda estava por vir.

- Ah! Vendo-a assim até me sinto com vontade de casar, também — uma delas falou, com um tom sonhador emitido em sua voz.

Todas assentiram, concordando.

A assistente da noiva anunciou que a cerimônia começaria dali a poucos minutos, e que as mesmas deveriam comparecer imediatamente ao saguão para finalizarem os últimos preparativos.

Todas foram calmamente, deixando Annie sozinha em frente ao espelho, mas não por muito tempo.

Um barulho de ranger soou pela sala, ao se virar, deu de cara com Stuart entrando pela janela com bastante dificuldade. Primeiro jogou seu longboard dentro para logo depois se jogar.

- Stuart! Meu Deus, o que está fazendo? — Ela se moveu para perto do rapaz com dificuldades devido ao seu longo vestido.

- Vim te ver antes da grande cerimônia, já que ao que parece o noivo não permite a entrada dos amigos da noiva — soltou com ironia.

- Como assim? Eu incluí todos vocês tanto na cerimônia quanto na festa.

- Então parece que algumas coisas foram modificadas sem sua permissão — ele agora falava enquanto se servia de alguns biscoitos encontrados em cima da mesa — Nossa, que delícia! São feitos de que?

Annie contemplou a feição de calma do amigo, totalmente indignada. Ela já estava sendo praticamente forçada a casar e eles ainda mudam detalhes pelas suas costas?

- Não vou mais me casar — disse, rispidamente.

Stuart quase engasgou com o biscoito e disse, afobado:

- OI?!?

- Não vou me casar, está decidido, não posso ser obrigada a fazer algo que não quero e aguentar pelo resto da minha vida por uma ambição dos meus pais.

- E como você pretende não casar? Sabe muito bem que eles vão te forçar, nem que tenham que colocar uma mordaça em sua boca, estilo filme de sequestro, e gravem sua voz falando “sim” — argumentou, deixando transparecer um sorrisinho, adorava problemas.

- Essa é a hora que você entra para me ajudar — mal terminara a fala e ouvira passos pelo corredor — Rápido, entre naquele armário — acrescentou abruptamente, apontando para o armário de madeira do outro lado da sala. Stuart correu e fechou a porta ao mesmo tempo em que a assistente adentrava no local.

- Tudo pronto? A cerimônia começa daqui dez minutos, no máximo. Daqui cinco minutos volto para te buscar — exclamou com sua fala robótica.

Annie assentiu e a outra saiu do ambiente.

- Nossa, agora contratam robôs para virarem assistentes? — Uma voz falou atrás dela. Stuart.

- Não temos muito tempo, primeiro quero que me ajude a pular a janela e sair despercebida — falou enquanto puxava a calda do seu vestido e ficava apenas com a versão de festa. Tirou os sapatos, amarrou o cabelo e foi em direção a janela.

- Só queria dar um aviso de que vai ser meio difícil sair despercebida já que todos sabem quem é a noiva.

- Apenas me ajude, ok?

Ele assentiu e desceu pena janela, primeiro.

O andar que eles se encontravam era o mais alto, Stuart só tinha conseguido chegar lá pelo fato dos andares abaixo possuírem varanda.

Os dois pularam na varanda de baixo e tentaram, sem sucesso, adentrar ao quarto. Optaram por escalar até a janela que dava acesso aos corredores. Entraram pela janela e correram para as escadas, descendo a toda velocidade.

- E se soarem um alarme ou algo do tipo? — O rapaz questionou.

- Eles não fariam isso, mancharia muito a reputação do nome da família. Eles provavelmente vão mandar toda a segurança para vasculhar a área, e se não me encontrarem, vão falar que eu tive de ser mandada às pressas ao hospital por motivos pessoais, então fique atento para qualquer um que venha a aparecer — respondeu, avidamente.

- Eu não queria falar, não, mas tem um segurança vindo em nossa direção agora mesmo.

Os dois finalmente chegaram na saída do prédio e começaram a correr colina abaixo, sob a grama verde cercada de todos os tipos de árvores e flores.

Pelo rádio, o segurança avisou aos colegas a localização dos fugitivos e em poucos segundos vários outros seguranças vinham em suas direções, os forçando a trocar e rota e ir em caminho a cerca. Por sorte, toda cerca tem uma abertura, eles acharam uma e passaram. Aproveitaram um pouco a vantagem que o longboard dava aos dois e começaram a ir cada vez mais rápido pela estrada, mas não por muito tempo, pois, em poucos segundos estavam sendo perseguidos e circundados por vários carros.

O chefe deu um passo à frente e disse:

- Srta. Armstrong, creio que deveria estar em sua cerimônia de casamento neste momento.

- Não me diga — rebateu com ironia.

- Se não vier por vontade própria temo que terei de leva-la a força.

Eles não haviam percebido que durante o diálogo os dois jovens começavam a se mover lentamente para trás no intuito de pegar o carro.

- Temo que isso não será possível — Stuart falou enquanto se aproximava do carro que se encontrava com a porta aberta, seguido de Annie que correu e entrou no banco traseiro.

Trancaram as portas, Annie se moveu para o banco do passageiro, Stuart deu a volta e começou a correr pela estrada. Sentiram a presença dos outros carros atrás e aceleraram ainda mais.

No máximo dois minutos haviam se passado, quando um estrondo soou abaixo deles, fazendo o carro tremer.

- O que foi isso? — Annie questionou enquanto segurava com força o aro de segurança acima da janela.

- Não tenho a mínima ideia, e nem quero descobrir.

Tarde demais. Na frente deles uma enorme rachadura começou a vir abrindo em sua direção, forçando-os a trocarem de pista e desacelerarem o carro por causa dos tremores. Mas não parou por aí, outra rachadura se formara atrás daquela e vinha abrindo mais ainda o buraco que a outra havia deixado. Felizmente não acertou o carro dos dois.

Atrás, alguns carros foram levados pela força subida e intensa da rachadura.

- Meu Deus — exclamou, ainda assustado.

Annie apenas se segurava no aro com os olhos fechados e com uma expressão pálida.

Sem ao menos ter tempo para assimilar o que havia acontecido, o céu começara a perder seu brilho e cor, dando espaço para um negro opaco com tons vermelhos, transformando todo o local em uma espécie de câmara escura, exceto que o vermelho praticamente gritava, como se esperasse a morte de quem tivesse coragem de mostrar a face.

Os dois jovens dentro do carro ainda não haviam percebido, mas, em conjunto com o céu rubro, uma fenda se abriu e um vácuo se formara.

Os seguranças ficaram desnorteados e pararam os carros, saindo dos mesmos para ver o que estava acontecendo. Tudo transcorreu muito rápido. No momento em que pisaram no chão para fora um arder tomou conta de seus corpos e em poucos segundos eram apenas uma carcaça coberta de fogo azul.

- O QUE INFERNOS É ISSO? — Annie gritou, horrorizada pela cena que acabara de presenciar.

O pânico agora era claro na feição do rapaz.

Os seguranças começaram a andar na direção do carro, agora parado. Stuart, movido pelo horror, deu a volta com o carro e dizimou alguns dos seguranças, que se transformaram em cinzas com chamas azuis em volta.

- Ok, vamos organizar os pensamentos, não faço a mínima ideia do que está acontecendo mas temos que achar algum lugar seguro para ir, quem sabe quantos mais desses não tem por aí — Annie falou — e ficou bem claro que não podemos sair do carro por enquanto.

- O único lugar seguro no momento é o prédio do casamento, e creio que depois disso ninguém mais se importa se você fugiu ou não.

Stuart acelerou o carro o máximo que pode, a tempo de ver uma esfera flamejante e laranja passar por cima deles e acertar algum lugar a frente. A medida que eles se aproximaram viram que o prédio havia sido acertado em cheio pela bola gigante, que agora se dissolvia e passava ateando fogo enquanto escorregava para baixo, como se fosse um vulcão se auto destruindo.

No térreo conseguiram avistar algumas pessoas fugindo e sendo automaticamente carbonizadas, se transformando naquela mesma criatura azul que eles haviam visto.

- Então, acho que não é mais uma opção segura — Stuart começou a rir de nervoso.

Tomada pelo pânico e horror, Annie começou a chorar. O pavor aumentou ainda mais quando ela vira sua mãe correr para fora do prédio afobada e interceptada pelas carcaças de fogo azul que se formavam. Fizeram um círculo ao redor da mãe de Annie e os olhares das duas se encontraram. O olhar de sua mãe dizia um claro “me desculpe” que logo foi coberto pelos monstros.

Sem pensar, a jovem saiu desesperada do carro e correu em direção ao prédio, nem lembrava que a exposição aquele céu desmanchava qualquer um que mostrasse a face, e não foi diferente com ela. Em poucos minutos tudo o que era pele havia se dissolvido e se transformado em pó. Agora só restavam seus ossos, cobertos pelo mesmo fogo azul.

Stuart ainda estava no banco do motorista, estático.

Sem enxergar outra saída, saiu do carro e deixou o arder tomar conta de si. Resolvera o pânico e o pavor com um simples ato de suicídio.

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Anna Clara Lôbo
Lôba no Covil

Jornalista que se apaixonou pela área de experiência do usuário.