Suspiria — A Dança do Medo

Anna Clara Lôbo
Lôba no Covil
Published in
5 min readOct 5, 2019

Em Suspiria: A Dança do Medo, nova interpretação de Suspiria (1977), de Dario Argento, é contada a história de como Susie Bannion (Dakota Johnson), uma dançarina americana, entra na Markos Tanz Company, uma companhia de dança em Berlim, na Alemanha.

Quando faz um teste para entrar na companhia, Susie impressiona de início, e não demora para conseguir o antigo lugar de uma ex dançarina do local, essa que é dita como uma traidora da sociedade alemã na época, e sua saída fica sobre um manto de mistério. Logo no início das cenas, é perceptível um clima de mistério e energias ruins que acompanham as moradoras do espaço, o que se comprova quando Madame Blanc (Tilda Swinton) da o primeiro indício mágico de que seja uma bruxa.

No decorrer da história, sonhos estranhos e macabros fazem parte das noites de Susie, como também repentinos acidentes durante uma sequência de passos de dança e um desdobramento sobre o que realmente acontece por trás das paredes da companhia. O corpo de mulheres que está no comando desse ambiente é revelado aos poucos, assim como suas reais habilidades e intenções.

Luca Guadagnino adotou um estilo enigmático para essa versão de Suspiria: A Dança do Medo. Por ter dirigido “Me Chame Pelo Seu Nome”, que carrega prêmios de peso tanto para o roteiro quanto para outras categorias, existiu uma certa expectativa para o seu filme seguinte, Suspiria, que chegou com um conceito completamente diferente, divergindo em gênero, estilo, cores, fotografia, roteiro. Absolutamente tudo.

A história é cheia de enigmas, que nos fazem prestar bastante atenção nas cenas, uma vez que pode ser difícil entender o que está acontecendo e quem é quem. Os diálogos tentam indicar que o telespectador sabe o que está acontecendo, o que não é o caso, aumentando o suspense que paira por toda a história.

Diferente das companhias de dança que estamos acostumados a ver nos filmes, a competição não existe nessa. Normalmente somos bombardeados de cenas em que as dançarinas competem entre sí, brigam, fazem ameaças e passam por cima umas das outras, mas não é o caso da Companhia Markos. Pelo contrário, as moças se completam na dança e se esforçam para melhorar seu papel, aparentemente tendo noção da sua importância individual para a dança. Existe, também, uma leve semelhança com Cisne Negro, de Darren Aronofsky.

A sensação é que se trata de um filme sobre mulheres, o que não deixa de ser verdade. A presença de homens no filme é escassa, e os únicos que aparecem são com um propósito: ajudar no que acontece lá dentro, mas ninguém ainda sabe o que é isso, apenas que é ruim, como se tudo fizesse parte de um culto maligno.

A falta de história por trás das personagens incomoda, o que deixa a a narrativa rasa e sem maiores explicações essenciais para a curiosidade e melhor entendimento de quem está assistindo. E, em uma das principais cenas finais, um efeito de fotografia impossibilitou uma melhor aproveitação estética. Pode ser questão de gosto, mas acredito que tirando esse efeito, o aproveitamento da cena seria melhor.

É uma filmagem calma. Existe uma enrolação para chegarmos ao clímax, fato que não tira a surpresa em algumas cenas, como também não deixa de transformar episódios bizarros e marcantes para quem está assistindo. A respiração é uma característica permanente nas cenas, a qual recebe bastante atenção no roteiro, o que nos leva a acreditar que exista uma ligação entre a dança, a respiração e o próprio nome do filme, Suspiria.

A fotografia entra em quase perfeita harmonia com a história, com exceção de algumas cenas, ou melhor explicando, recortes de cenas macabras que entram na tela, mas não explicam muito sua ligação com a história. As presenças do marrom, do cinza e do vermelho são as mais fortes, exibindo um tom quase medieval. Sua trilha sonora é equilibrada com o contexto, onde melodias de dança são as mais presentes.

Guadagnino não quis que sua versão de Suspiria fosse um remake do filme de 77, por isso, a única parte que se iguala nas duas versões é a premissa. Ele quis criar sua releitura por ter sido uma experiência assustadora ao assistir o original, nos entregando então sua versão que se destaca na carreira. Suspiria: A Dança da Morte tem cenas assustadoras, macabras e sangrentas. Pode dividir bastante seu público alvo, com o benefício da dúvida se é bom ou não, e, no final, se assemelha mais ao gênero de horror do que terror.

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Anna Clara Lôbo
Lôba no Covil

Jornalista que se apaixonou pela área de experiência do usuário.