“Com você, construindo o futuro da mobilidade”: reflexões sobre um propósito coletivo

A complexa visão de mobilidade da Localiza e o papel de cada pessoa nessa construção de futuro, por um olhar filosófico, científico e, claro, de design.

Almir Henrique Dantas
#LocalizaLabs
10 min readMay 11, 2021

--

Com você, construindo o futuro da mobilidade.

Se você é uma pessoa cliente, colaboradora, parceira ou visitante da Localiza Rent a Car, é provável que já tenha ouvido em alguma reunião ou visto essa frase acima estampada em alguma parede, cartaz ou canais digitais da empresa. Este é o propósito da companhia, ou seja, representa aquilo que nos inspira e nos faz acreditar todos os dias que — como o atual CEO diz — “nós estamos construindo o futuro da mobilidade, criando soluções inovadoras de mobilidade para que nossos clientes vivam experiências únicas e, que isso é sobre alcançar resultados extraordinários, permanecendo uma empresa forte e sempre preparada para investir no futuro”.

Pois bem, chegando à Localiza, o meu senso curioso e questionador, de investigador, filósofo e designer que sou, me fez perceber o quão complexa, no sentido de intensa, essa frase é. Decidi então, me aprofundar um pouco mais em seu sentido mais amplo e estudar alguns conceitos e conhecimentos sobre o futuro da mobilidade e trago aqui visões e reflexões que podem ser interessantes…

Bora comigo nessa viagem? 😎

(Dica para melhorar sua experiência: durante a leitura recomendo ouvir “Cities of the Future”, música eletrônica do Infected Mushroom. Coloque em som ambiente e entre no clima, sinta-se presente na atmosfera do tema 🤘).

Sobre mobilidade 🚙

Na visão da Localiza…

“Mobilidade é ir e vir. No lazer e no trabalho. É aproximar amigos, amores, famílias, negócios e empresas. É fornecer soluções para dar velocidade aos encontros e acelerar o país. É falar do que nos conecta uns aos outros. É falar do nosso propósito, que envolve muito mais do que ir do ponto A ao ponto B. A mobilidade passa pela nossa ousadia para inventar o novo e evoluir constantemente, usando novas tecnologias, buscando excelência em tudo que fazemos, gerando valor para nossos clientes, colaboradores, investidores, parceiros, e a sociedade como um todo.”

Para a grande maioria das pessoas, pensar em mobilidade é pensar sobre circulação, trânsito, movimento ou transporte. Mas para o conceito de Mobilidade existem tantas perspectivas que vão desde “a mobilidade cotidiana, passando para as mobilidades social, residencial e do trabalho, ou, mais recentemente, à mobilidade simbólica; além também das migrações — bem como a mobilidade pendular, do turismo e do lazer ,– até chegar-se ao nomadismo ou ao imobilismo” (Balbim, 2016). Para esse autor, “todas as formas de mobilidade estão ligadas à divisão social e territorial do trabalho e aos modos de produção, que configuram o espaço — tanto social quanto territorial, em suas múltiplas escalas, – o que implica a humanidade moderna o aprofundamento da vida de relações, inclusive com os objetos, que também se multiplicam e se tornam portáteis.”

Mobilidade como Flexibilização

Nesse processo de portabilidade (de objetos e ações), a mobilidade ganha novas características: 1. ser um meio de criar e transmigrar culturas, visto que objetos e ações são partes da expressão de uma identidade cultural; e 2. flexibilizar a experiência desses objetos e ações através da adaptação do seu uso (a chamada responsividade — neste caso, além das telas) e até da produção do seu sentido.

GIF do desenho animado Os Jetsons, em que o pai (George Jetson) sai de uma nave espacial aperta um botão e ela se transforma numa maleta.
Portátil e flexível até demais, não? 😅 Sonho com esse dia!

Mobilidade como Movimento

A essência da mobilidade está na origem de sua palavra: etimologicamente, o termo “mobilidade” deriva do latim, mobilitas(átis), que por sua vez deriva de mobilis(e) que significa móvel, ou seja, que pode se mover. “No senso comum, mobilidade é entendida como a característica do que é móvel, do que tem a capacidade de se deslocar. Assim, é a própria capacidade de mudança, de deslocamento.” (Magalhães, Aragão e Yamashita, 2013).

Movimentar-se sempre foi um dos principais elementos que definiram comportamentos e estilos de vida dos indivíduos e das sociedades. O que marca então o início do nosso século é o processo emergente de virtualização, do espaço, de coisas/objetos, de não-coisas/informações, do tempo, etc. Compreendendo portanto a virtualização como um processo de potencialização (Lévy, 1996), isto é, ser em essência mas não necessariamente em ato. Dessa forma são exigidos e gerados novos espaços e novas velocidades, não havendo mais a necessidade do deslocamento físico para vivenciar contextos.

Isso implica no ‘lugar’ passar a ser identificado, não apenas por suas características intrínsecas, mas também pela “condição de mobilidade das pessoas que os ocupam e das redes que elas acessam e movimentam a partir desse ponto”, produzindo uma cadeia cultural sistêmica e em rede.

GIF do desenho animado Os Jetsons, em que o casal Jetsons estão em sua nave espacial enfrentando um trânsito aéreo.
Tá… mas para onde será que isso vai nos levar? 🧐

Sobre futuro(s) 🚀

O futuro de uma empresa, de seus produtos ou serviços, de suas operações, estratégias e planos é baseado no que chamamos de visão estratégica. Isso quer dizer que as empresas estão sempre planejando seus futuros — pois sim, há mais de um — a partir de dados, informações, conhecimentos e experiências vividas num momento passado e que sustentam e direcionam ações que estão sendo executadas no momento presente.

Triângulo de Futuros (Sohail Inayatullah, 2012).
Triângulo de Futuros (Sohail Inayatullah, 2012).

Bem, essa integração entre presente, passado e futuro pode ser melhor compreendida pelo Triângulo de Futuros, uma ferramenta dos Estudos de Futuros (ou Futures Thinking) criada pelo professor e cientista político Sohail Inayatullah, para o mapeamento de gatilhos e amarras que impactam na chegada do futuro. Nessa ferramenta, temos basicamente três eixos que atuam semelhante às forças da física mecânica: a tração do Futuro, isto é, um mapeamento daquilo que nos puxa para frente, para um futuro específico e projetável; o arrasto do presente, isto é, um mapeamento daquilo que encontramos no presente que está acelerando ou freando a chegada de um futuro específico; e, por fim, o peso do passado, isto é, um mapeamento daquilo de legado que carregamos na nossa história e que resistem às mudanças, impedindo ou retardando o avanço ao futuro.

Com isso as empresas conseguem antecipar estratégias organizacionais, a fim de evitar a obsolescência repentina perante o mercado, além de promover o senso de pioneirismo por meio da inovação e da produção de presença, isto é um forte sentimento de pertencimento arraigado ao tempo presente, em consonância com o Zeitgeist do momento.

Por falar em antecipação, sempre são imaginados dois cenários extremistas para o futuro global, já notou? Um totalmente positivista com recursos abundantes e processos sustentáveis de culturas regenerativas e, na contrapartida, um totalmente pessimista, pautado num tipo de apocalipse com várias desgraças naturais, incluindo a extinção da humanidade pela fome, miséria, pragas e terrorismo. Na verdade, o futuro irá mostrar-se uma realidade cíclica e mista desses cenários, como sempre foi.

Para o sociólogo Francesco Morace, há diversos horizontes (vieses) de futuro, vistos de várias perspectivas interessantes: “a intencionalidade como horizonte filosófico; o desejo do outro como horizonte psicológico; a salvação da alma como horizonte religioso; a evolução dos valores como horizonte sociológico; o acontecimento acidental como horizonte antropológico; a utopia feliz como horizonte político, o projeto de unicidade como horizonte arquitetônico; o curto-circuito entre arte e normalidade como horizonte do consumo cotidiano; o risco do lucro como horizonte econômico; a renovação tecnológica como horizonte de ficção científica; e a técnica de previsão como horizonte de pesquisa.”

Pois bem, muitas pessoas pensam que falar de futuro é falar apenas do horizonte da ficção científica, no qual toda a esperança é depositada apenas na tecnologia para revolucionar a vida humana. Para mim, falar de futuro é, essencialmente, falar sobre acessibilidade, no qual o papel fundamental da tecnologia é atuar como facilitadora de serviços (tangíveis ou intangíveis). Porém essa acessibilidade trata-se de uma escala muito maior de inclusão, compreendendo um sentido mais holístico e universal, atuando então num horizonte de futuro humanístico e tecnosocial.

O futuro portanto, antes de tecnológico, será (ou pelo menos deveria ser) acessível!

O progresso então, trazido (ou não) pela Modernidade devido ao Iluminismo, à ciência e ao avanço da tecnologia nos últimos séculos, nos trouxe uma visão de que sempre podemos tornar nossas vidas mais “fáceis”, mais “práticas”. O acesso em escala à iluminação, à rede telefônica, à água potável, ao transporte, à internet e ao conhecimento, por exemplo, nos dá uma esperança e aponta a direção para um futuro cada vez mais acessível. As tecnologias precisam ser pensadas para facilitar o acesso de algo para as pessoas, seja o acesso à informação, à educação, ao saneamento básico, à comida ou à própria mobilidade, por exemplo, pois tecnologia sem propósito não é futuro, é “ferramenta sem alma”.

O futuro portanto, vem com o devir: um processo natural, não linear, um movimento permanente e progressivo pelo qual as coisas se transformam. “O devir nada mais é do que a passagem — por geração, por destruição, por alteração, pelo aumento ou pelo movimento local — da potência ao ato” — ou para Lévy (1996) um processo de atualização. “Em Hegel, o devir constitui a síntese dialética do ser e do não ser, pois tudo o que existe é contraditório estando e, por isso mesmo, propenso a desaparecer, o que constitui um elemento constante de renovação.” (Japiassú, H. e Marcondes, D. 2008). Como Heráclito de Éfeso já dizia: “tudo muda e nada permanece sendo o que é.” (do grego “Panta Rei” — ou “tudo flui”), ou seja, tudo está em constante movimento, — sendo a mobilidade portanto como um princípio básico universal.

Viajou? 😅 Pois bem, nessa construção de futuro, acima de tudo, acessível e holístico, é preciso compreender o nosso papel como seres humanos e como designers pois esse processo de surgência, insurgência e emergência natural do devir, traz consigo cenários ricos em mudanças e em complexidade.

Tá, mas e o design? O que tem a ver design com tudo isso?

GIF do Barack Obama abrindo os braços numa expressão de não entender o que está havendo.
Onde entra o design nessa história? 😅

Nas últimas décadas, ouvimos muito falar em “experiência do usuário” ou “experiência do consumidor/cliente” através dos famosos termos UX (User Experience) e CX (Customer Experience). Designers, portanto, são responsáveis por projetar partes de uma experiência, no intuito de produzir sentido naquilo que as pessoas precisam fazer ou desejam experimentar, por meio de mecanismos e técnicas que atuam como facilitadores cognitivos capazes de despertar emoções e criar identidades.

Com metodologias flexíveis, pensamento abstrato (divergente) e concreto (convergente), caráter investigativo, integrador e multidisciplinar, o design visa agregar valores centrados no ser humano, tanto em produtos, serviços, experiências e interfaces, como também em negócios, lugares e até em culturas.

Para o professor de design Richard Buchanan, “não existe área da vida contemporânea em que o design, isto é, o plano, o projeto, ou a hipótese de trabalho que constitui a intenção nas operações realizadas, não seja um fator significante para a formação da experiência humana.”

“O assunto do design é potencialmente universal em seu escopo, porque pode ser aplicado a qualquer área da experiência humana.” (BUCHANAN, 1992).

Desse modo, enquanto a tecnologia tem o dever de atuar como facilitadora de serviços (tangíveis e intangíveis) para um futuro acessível, o design tem, em sua essência, a capacidade de atuar como um facilitador de conexões, criando pontes entre pessoas (stakeholders), negócios e produtos/serviços.

Nesse sentido, se imaginarmos a cidade como uma grande plataforma de serviços (em rede), podemos considerar a mobilidade como uma espécie de serviço que serve outros serviços — isto é, um metaserviço — que atua como um promotor de interações e relações entre serviços específicos. Portanto, assim como o design, a mobilidade tem por sua essência criar pontes e proporcionar interações e relações entre pessoas, locais e, consequentemente, culturas.

A partir desse ponto é possível perceber a complexidade que há na construção e na manutenção de sistemas (e ecossistemas) como o da mobilidade. Por isso, a necessidade de um pensamento sistêmico e da adoção de uma abordagem holística para projetar experiências centradas nas pessoas cidadãs, em escala, são com certeza caminhos para a construção de um futuro da mobilidade mais acessível, no qual as pessoas consigam acessar, não só as suas comunidades, mas cada vez mais, consigam estabelecer relações com as demais, de forma que o conhecimento e o propósito individual esteja cada vez mais conectado a um conhecimento e um propósito coletivo, estabelecendo uma espécie de rede ativa, proativa e reativa.

Portanto, construir o futuro da mobilidade não é algo simples, contudo eu diria que podemos começar com:

  1. a prática da empatia e da alteridade, tendo consciência de que o que eu penso e faço afeta diretamente as pessoas;
  2. colaboração e cocriação, estimulando redes ativas e participativas de gente em prol da resolução de problemas voltados para a mobilidade e com foco nas pessoas, promovendo o conceito de Citizen Experience (a Experiência do Cidadão);
  3. sistematização, com processos estruturados e bem suportados, com base no pensamento sistêmico, promovendo uma mentalidade holística orientada à experimentação e inovação, permitindo erros controlados, adaptações ágeis e divergências de opiniões.

Assim, podemos propor uma visão holística (e estratégica) de um mundo com futuros concebíveis, projetáveis, pautados na equidade, na acessibilidade, na inclusão, no empoderamento e na autonomia responsável das pessoas, a fim de promover culturas horizontais e regenerativas, com produções de sentido alinhadas com propósitos individuais e coletivos.

E você? Já sabe então qual é o seu papel nessa construção do futuro da mobilidade?

Pense nisso…😉

--

--