Garota Tecnológica: a construção de uma TI mais diversa

Carolina Oliveira
#LocalizaLabs
Published in
5 min readFeb 24, 2022

Como estruturamos um programa educacional para inicializar mulheres de BH na tecnologia

Quando pensamos em um profissional de TI, eventualmente vem à mente o estereotipo de uma pessoa nerd predominantemente masculina, que curte jogos e se alimenta de fast foods (aquela famosa imagem passada nos filmes). E não é que a TI tem desse profissional também? Mas, não somente!

Por vezes senti falta de estar em times diversos pelos outros lugares em que trabalhei, mas aqui na Localiza encontrei a oportunidade de estar trabalhando em um time bem diverso, com pessoas de diferentes idades, gêneros e experiências profissionais e de vida. E fica aquela pergunta, será mesmo que na TI há apenas aquele perfil estereotipado de profissional? Será mesmo que para conseguir refletir a realidade e as necessidades da população é interessante apenas um perfil? Obviamente, não.

Ao realizarem um estudo a fim de entender um pouco mais do cenário quanto a participação de mulheres em cursos de tecnologia no Brasil, Vivian Santos e Thales Cavalho concluíram que a falta de mulheres nesses cursos pode ocorrer devido a invisibilidade histórica dada às mulheres que contribuíram para o desenvolvimento da tecnologia no mundo, como Ada Lovelace, Hopper, entre outras [1]. De acordo com o site Feito para Ela, dados demostram que houve um aumento da quantidade mulheres na TI, porém elas ainda representam apenas 10% do setor [2].

Com o sonho de mudar esse cenário, a Daisy Assis propôs a realização de um programa que ela gostaria de realizar de forma colaborativa com outras mulheres da área. E assim surgiu o Garota Tecnológica com o apoio do Instituto Localiza , o nosso programa educacional que faz a inicialização de meninas do ensino médio de BH na área de tecnologia.

O objetivo do programa é proporcionar que meninas e adolescentes de escolas públicas tenham acesso a cursos de tecnologias que possam ser aplicadas no dia a dia e abrir um leque de opções para a escolha de suas profissões, mostrando um conteúdo fora do conhecimento trivial. Além disso, mostrar que a TI não é um local com estereótipos e que pode ser sim uma opção muito interessante para uma mulher trabalhar.

E para tocar essa missão sob a liderança da Daisy Assis, nos juntamos eu, a Sulamita Dantas, a Ana Mendes e a Amanda Aketlen, todas integrantes do #LocalizaLabs, para nos tornarmos as facilitadoras de conteúdo e irmos até essas alunas dividir um pouco da nossa vivência na área.

Inicialmente, começamos o programa com a Escola Affonso Neves em BH e dividimos módulos de conteúdo em duas partes, onde a primeira contempla a informática básica com Word, Excel e Power Point, e a segunda contempla Web com HTML + CSS, com carga horária total de 9 horas.

Nesta jornada, testamos dois ambientes para o ensino: na escola e na empresa. Entendemos que trazer as alunas para um ambiente corporativo proporcionou a oportunidade de uma imersão um pouco diferente do encontrado na escola, mas em ambos os casos foi possível conduzir o curso com os recursos necessários para as aulas e engajar o público-alvo do programa.

Depoimentos

“Vivenciar esse programa, poder compartilhar com as garotas um pouquinho da minha história e fazer com que elas enxerguem a área de tecnologia como uma opção de escolha para ingressar no mercado de trabalho, me enche de orgulho e brilho nos olhos.” — Ana Mendes, instrutora do programa

“Hoje concluímos a 1a. fase do Programa Garota Tecnológica. No início, ouvi que as meninas não tinham conhecimento e nem interesse específico pela área de tecnologia. Acredito que o interesse pode ser descoberto, que é preciso saber da existência de um mundo para ousar sonhar com ele. Hoje, ouço 100% das meninas com interesse e vejo o brilho nos olhos para um mundo que lhes foi apresentado. Com muita energia, elas disseram que querem continuar e pediram que o programa não terminasse aqui. Para mim é um orgulho enorme poder dizer que o objetivo foi atingido, que plantamos a sementinha, que despertamos o interesse das meninas pela tecnologia, que mostramos quão capazes elas são para abraçarem essa profissão. Agradeço a todos que acreditaram no projeto, em especial, a Diretoria do Labs e ao Instituto Localiza. A todos que se doaram e dedicaram seu tempo nesta jornada, agradeço muitíssimo emocionada por essa conquista social.” — Daisy Assis, idealizadora do programa

“O Curso em si é muito útil. Vários assuntos são abordados e abertos para discussões. São várias oportunidades que não fazíamos ideia de que poderíamos ter. Esse curso é perfeito!” — Érica Medeiros de Oliveira, uma das alunas do programa

Aprendizados

Poder estar perto das meninas me faz aprender um pouco mais sobre a situação do outro e perceber que as vezes conteúdos que utilizo no dia a dia de forma quase que implícita, pode ser muito útil de compartilhar com as pessoas e agregar nas suas escolhas futuras. Isso nos abre horizontes para evoluirmos ainda mais no programa, entendendo a fundo as oportunidades que podemos criar para o nosso público.

Visão de futuro

Dando continuidade, será conduzido o módulo 2 para o aprofundamento dos conteúdos repassados nas aulas do primeiro módulo, e temos perspectivas de abrir mais um módulo 1 para novas alunas, além de que almejamos expandir o projeto para o Labs Recife e atuarmos também lá na capital pernambucana, onde temos uma unidade do nosso laboratório de tecnologia e ciência de dados.

Por fim, esperamos que com o programa possamos mais do que impactar positivamente a vida delas, que possamos abrir novos horizontes na área da tecnologia para muitas mulheres em nosso país.

Agradeço a todas as pessoas envolvidas por trás deste programa que me inspira tanto, as quais têm se empenhado para que ele possa acontecer, e espero que realmente possamos fortalecer uma participação cada vez mais diversa na tecnologia, por meio da democratização do acesso à informação e a novas oportunidades de profissão.

Referências

[1] SANTOS, Vivian. CARVALHO, Thales. SBC OPEN LIB. Título: Mulheres na Tecnologia da Informação: Histórico e Cenário Atual nos Cursos Superiores. Disponível em: https://sol.sbc.org.br/index.php/wit/article/view/15847/15688 . Acesso em: 22 de Fevereiro 2022.

[2] Feito Para Ela. Título: Cresce o número de mulheres nas áreas de Tecnologia da Informação. Feito para Ela, 2021. Disponível em: https://feitoparaela.com.br/2021/06/15/cresce-o-numero-de-mulheres-nas-areas-de-tecnologia-da-informacao/ . Acesso em: 22 de Fevereiro 2022.

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