IoT: hype ou fruto da evolução natural?

Gustavo Bergamo
#LocalizaLabs
Published in
5 min readDec 22, 2021

Antes de mais nada, vale explicar um pouco o que me levou a escrever sobre IoT.

Não foi o fato de IoT estar num hype de tecnologia, mas sim, pois, ao ler bastante sobre o tema nos últimos anos, senti falta de algo que trouxesse o link entre o momento que temos hoje com o de sua origem e evolução. Aliando a isso a ótica de alguém que faz parte dessa indústria e seu ecossistema há tempos.

A origem

Pode soar antigo, mas pra quem ajudou a projetar e construir equipamentos que permitiam aos telefones públicos conectar pessoas a outros telefones no Brasil e mundo a fora, assistir a chegada dos celulares no começo dos anos 2000 foi memorável. Você deve estar se perguntando, o que tem a ver o telefone fixo e celular com IoT. Pois bem, antes dos celulares e toda sua infraestrutura de cobertura existirem, haviam máquinas e outros dispositivos eletrônicos que se conectavam usando linhas de telefone. Na época, ela era uma infraestrutura bem difundida e tais máquinas enviavam dados via modem. Sim, telemetria vem daí, medição remota.

Desde o início, as indústrias de semicondutores (fabricantes de processadores, memórias, componentes eletrônicos — hoje em dia, com a falta de chips no mundo, parece que todos se deram conta da importância dessa indústria); eletrônica (fabricantes de dispositivos eletrônicos e equipamentos eletrônicos); e telecomunicações (com implantação de redes e protocolos de comunicação bem como a comercialização de serviços relacionados) criam suas grandes cadeias de valor. E, no nosso contexto, a combinação delas trouxe a telemetria. Falei em combinação delas porque são indústrias por si só e elas evoluem em paralelo independentemente.

Voltando aos modems, transmitindo dados através das linhas telefônicas, podemos lembrar de algumas limitações clássicas: a taxa de transmissão (o que hoje todos conhecem por velocidade da banda larga, os Mbps) era baixa no início (eram quando boas medidas em kbps). Tudo isso levou anos até chegar nos padrões que temos hoje com fibras óticas chegando em nossas casas e escritórios.

Sobre os celulares, a combinação da larga penetração e cobertura das redes de celulares aliada a grande demanda do público em geral, trouxe a redução significativa dos custos dos modems celulares. Isso ocorreu, na época da rede GSM 2G (logo depois dos celulares analógicos), quando realmente houve o grande boom mundial, no começo dos anos 2000 e tais modems também enviavam informações/dados via a rede das operadoras. Sim, modems de novo, desta vez modem celular.

Felizmente os celulares evoluíram para as redes 3G, 4G (5G já rodando em alguns lugares do mundo) e agora podemos assistir a vídeos e fazer vídeo chamadas em nossos celulares de forma comum.

Mas note, que para se enviar dados de máquinas não é necessário grandes velocidades ou taxas de transmissão, kps (kilo = 1000 bits por segundo) é adequado, barato e viável em muitas aplicações. Um exemplo simples seria a medição do relógio de consumo de energia elétrica da tua casa.

E onde entra o IoT na história?

O “I” de IoT vem de Internet e ela sem dúvida nenhuma evoluiu muito desde sua criação em 69, principalmente nos últimos 20 anos. A Internet começou sendo algo restrito a universidades e pesquisadores. Depois, houve a fase de virar uma provedora de conteúdo e divulgação. Até chegar nos dias de hoje, sendo um meio de prover comércio e serviços. Isso, sem falar na conexão entre pessoas, via redes e mídias sociais.

Mas voltando ao IoT, Internet of Things, esse termo realmente surgiu devido a fusão de inúmeras tecnologias que vinham evoluindo em separado. A evolução dos computadores, servidores até a cloud, aliado a tudo que houve em termos de evolução de software, frameworks open source, bancos de dados e afins. Aliado ao constante avanço dos semicondutores, miniaturização dos processadores e system-on-chip, mais poder foi colocado nos dispositivos a um custo razoável consumindo menos energia. Sem esquecer das telecomunicações, protocolos de comunicação e conectividade com seus acordos de padronização mundial seja celular, WiFi, Bluetooth, etc.

E o que afinal é o IoT, basicamente diz respeito a termos a possibilidade de conectar qualquer coisa à internet, coletando/enviando dados com um propósito, uma dor a ser sanada. Esta normalmente toma a forma em serviços (SaaS — Software as a Service) via web ou APPs mobile.

A maturidade do IoT hoje

O fato é que hoje está mais fácil e acessível do que antes para se coletar, enviar e armazenar dados em nuvem. Para deixar mais palpável, diante da pandemia do coronavírus, vale a pena pegar como exemplo um termômetro inteligente (sem querer fazer propaganda aqui da Kinsa Health). Ele é capaz de medir a temperatura e transmiti-la com ajuda Bluetooth ao APP no smartphone, e dele para os servidores da empresa.

Isso só se faz possível por conta system-on-chip (chip que vem com camadas de conectividade como Bluetooth e microprocessadores) que rodam um código embarcado para ler o sensor de temperatura e transmite/recebe informações para/do smartphone usando pouca energia (alimentado por duas pilhas pequenas). Tudo isso a um custo relativamente baixo.

Comparando com 20 anos atrás, para fazer isso eram necessários muitos chips, eram muito mais caros e consumiam muito mais energia, sem contar que protocolos (forma comum de troca de informações sem fio) como o Bluetooth eram desconhecidos e limitados. Ou seja, nada viável em outros tempos.

Sem esquecer do propósito com os dados, em nosso exemplo desse termômetro inteligente, os dados de temperatura são utilizados para guiar os usuários em o que fazer diante a temperatura medida, além de, pela combinação de milhares ou milhões de informações dos usuários, pode-se determinar pontos de maior incidência ou disseminação do vírus COVID-19, em larga escala e em tempo real.

E isso é graças a muitas facilidades de software, seja APP mobile ou web, e escala dos serviços disponíveis em nuvem, os quais também eram muito menos acessíveis anos atrás.

Um ponto chave desse exemplo é que o modelo de negócio, a forma de pensar na dor e resolvê-la se torna totalmente diferente do termômetro de mercúrio simples. Existe uma dor real, de ajudar o usuário a interpretar a leitura da temperatura, poder registrá-la e monitorar sua evolução ao longo do tempo. Através da agregação de informações e até servir de base para ajudar autoridades a lidar com foco de epidemias, transformam completamente o cenário.

Apesar do exemplo parecer simples, a complexidade envolvida nesse novo modelo é muito diferente do seu antecessor de mercúrio. Desde a escolha do system-on-chip, do software embarcado, do dispositivo eletrônico, protocolo de comunicação sem fio, conectividade, APP para smartphone, e outras muitas camadas de software rodando em servidores dedicadas para ingerir, processar, normalizar, armazenar e mostrar os dados na web (pensando no caso de uso de mapear focos de epidemias). Ou seja, a competência e experiência em outras áreas de conhecimento é essencial.

Conclusão

Enfim, o IoT já é uma realidade viável a quase todo tipo de negócio, pois está mais acessível do que nunca devido a combinação de diversos fatores. Porém, requer uma forma diferente de pensar em termos de modelo de negócio e dores a serem sanadas, bem como exige capacidades em novos skill sets: fusão/integração de hardware, software e conectividade, além de serviços em nuvem. E o que devemos ver nos próximos anos é uma acelerada evolução do IoT e sua adoção nos mais diferentes tipos de objetos, o que de fato transformará modelos de negócio e a experiência das pessoas.

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