Mentoria como uma nova porta de entrada da diversidade na tecnologia

Brisa Ribeiro
#LocalizaLabs
Published in
5 min readMay 31, 2022

Não é novidade para ninguém que o ambiente de tecnologia ainda é majoritariamente masculino, mas aos poucos diversas inciativas vêm transformando este cenário, sendo uma delas a mentoria. Sim, parece simples demais, mas muitas vezes boas soluções estão na simplicidade. E um programa voluntário de mentoria é mais uma das iniciativas que temos colocado em prática no #LocalizaLabs para inspirarmos e encorajarmos novas mulheres se aventurarem no universo da tecnologia.

Qual a importância disso para termos mais mulheres em tech?

Vejo que me tornar mentora em temas de Tecnologia foi importante para trazer representatividade à área, uma vez que ainda hoje estima-se que apenas 20% dessa fatia de mercado é alavancada por mulheres.

Isso pode gerar conforto pela identificação gerada para mulheres que gostariam de fazer a transição de carreira. Muitas me buscavam nos momentos de seleção em programas como o da ”Escola de Agilidade” para entender como era, como eu me sentia. E percebo que se sentiam acolhidas ao conversarmos, já que muitas vezes compartilhava os mesmos desafios, inseguranças, etc. O fato da predominância masculina, um contexto com códigos de comunicação específico e grande apelo da lógica racional, pode intimidar até mesmo nas escolhas de desenvolvimento e aprendizado, como podemos ver abaixo nas estatísticas da USP. Ter pessoas com quem você se identifique facilita o fluxo.

(https://aun.webhostusp.sti.usp.br/index.php/2021/09/28/baixa-presenca-feminina-em-cursos-de-formacao-tecnologica-e-realidade/)

A partir da mentoria, da troca com uma outra mulher que já vive na prática o mercado da tecnologia, certamente podemos inspirar e encorajar mais mulheres a se encontrarem neste segmento tão instigante e repleto de oportunidades.

Quais estratégias utilizadas na mentoria?

Não existe “receita de bolo” quando estamos falando de ferramentas para desdobrar a estratégia nas mentorias. Cada contexto e mentorado(a) pede uma abordagem para atingir aos objetivos em seu potencial máximo. É hora de exaltar a diversidade, encaixar todos em uma forma singular pode não explorar os pontos que trariam o extraordinário para a mesa.

Por esse motivo, como estratégia, o primeiro passo para uma mentoria bem sucedida é conectar da forma mais genuína possível com o(a) mentorado(a) e seu objetivo, desde o primeiro momento.

Separei aqui um fluxo com o qual tenho buscado me organizar como mentora:

Passo 1 — Conexão

É essencial aplicação de ferramenta de assessment para apoiar esse momento, em que vamos buscar conhecer de uma forma geral o(a) mentorado(a) a partir de sua apresentação (Hobbies, motivadores, experiências de vida, etc). Esse momento lhe trará insights em relação a melhor forma de trabalhar para alavancar resultados. É importante ter atenção aos recados ditos e os não ditos também. O(a) mentor(a) também deve se apresentar buscando os pontos de convergência e conexão com o(a) mentorado(a).

E se puder dar uma dica, seria: divirta-se no processo, torne leve, poucas coisas conectam tanto quanto uma boa risada. Na medida certa, isso não tirará a credibilidade do seu trabalho.

Perguntas que respondemos por aqui:
— Onde estou? Quem eu sou? (Assessment)

Passo 2 — Desenho

É importante delinear sentimentos, sensações e resultados objetivos que são esperados a partir dessa intermediação. Aqui é essencial o despertar de que o mentor não é responsável por fazer com que as mudanças aconteçam, ele será um catalisador na tomada de consciência necessária para as transformações. No entanto, o(a) mentorado(a) é o(a) real responsável.

Importante definir tempo de duração e periodicidade em relação aos encontros.

Perguntas que respondemos por aqui:
— Onde você quer chegar? Qual o delta entre onde está e onde quer estar? Qual é o futuro estado? Qual é seu propósito aqui?

Passo 3— Racionalizar

Nesse momento, com clareza dos GAPs que se deseja endereçar, os propósitos e objetivos que são vislumbrados, vamos a cada encontro definindo o plano para avançar nessas conquistas, acompanhando pelos parâmetros definidos a evolução e os próximos passos. Aqui vale dizer que indicações de conteúdo, livros e filmes apoiam no desenvolvimento do(a) mentorado(a).

Os planos são definidos em conjunto levando em consideração a disponibilidade e energia de mobilização durante o período.

Para monitorar o avanço é importante definição de parâmetros tangíveis, que permitam a real avaliação de avanço ou necessidade de correção da rota.

Perguntas que respondemos por aqui:
— Qual plano irá nortear nossas ações? Como vamos trabalhar as oportunidades mapeadas? Quais são os pontos de ouro?

- Como vamos medir o sucesso das ações? Como vamos monitorar? Qual nossa expectativa de início dessa sensibilização?

- Existem rotas a ajustar?

Passo 4— Fechamento de Ciclo

O fechamento de ciclo deve ocorrer de forma planejada e com uma profunda reflexão do processo, de forma a clarificar pontos acertados e aprendizados do período. É apropriado que o rito seja um momento ideal para agradecimento das oportunidades desenvolvidas e principalmente CELEBRAÇÃO! Todo avanço deve ser comemorado!

Perguntas que respondemos por aqui:

- Alcançamos os objetivos almejados?

- Fatores de sucesso

- Pontos de aprendizado e desenvolvimento.

Se tornar um(a) mentor(a) é uma relação de ganha x ganha

Ser mentor(a) é uma oportunidade gratificante de compartilhar suas experiências e perspectivas com outras pessoas que estão buscando avançar em uma determinada trilha. E a que viemos, se não pelo gosto de apoiarmos uns aos outros em sua jornada de evolução? rs

Essa ação, ao contrário do que muitos pensam, não é um fluxo unilateral de benefício, uma vez que ao trazer suas experiências à tona também absorvemos a perspectiva dos mentorados, através de suas dúvidas e vivencias, criando novas conexões e significados aos temas. Dessa forma, além de contribuir para o desenvolvimento de ecossistemas ou comunidades aos quais se está de alguma forma relacionado, ainda traz a ambos mentorado(a) e mentor(a), contatos, trocas, aprendizados e novas conexões que ampliam o repertório com mais propensão a inovação.

Como tem sido a experiência como mentora?

Minhas experiências têm sido enriquecedoras, pois me traz novos contextos, ou contextos já vividos, mas por novas perspectivas. Isso tem me ajudado a expandir o repertório e dado mais flexibilidade no entendimento que existem vários caminhos até Roma.

Acima de tudo é muito gratificante ver o desenvolvimento das pessoas, vê-las alcançando seus objetivos e gerando impacto positivo na carreira e na vida delas.

Na minha trajetória tive diversos mentores e mentoras, formais e informais, em momentos diferentes do meu desenvolvimento. Esses certamente deixaram suas marcas e vejo claramente o quão mais segura me tornei por uma construção baseada em compartilhamento de experiências e experimentos.

“Se enxerguei mais longe é porque me apoiei nos ombros de gigantes.”

Você certamente tem muito a compartilhar, portanto compartilhe! Mentore e abra novos horizontes a pessoas que possam se identificar com a sua jornada. Afinal, você também terá muito a aprender com elas. E, de quebra, estará colaborando com a construção de uma tecnologia cada vez mais forte e diversa.

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