Muito se fala, mas o que de fato significa uma transformação ágil?

Bruno Santos
#LocalizaLabs
5 min readSep 15, 2020

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Costumo abrir as minhas conversas sobre o tema fazendo uma analogia comparativa entre o leopardo e o camaleão. Qual deles é o mais ágil? Depende do ponto de vista!

Para a filosofia ágil, agilidade vai muito além da velocidade por si só. O manifesto ágil ressalta a importância de sermos ágeis na adaptação às constantes mudanças de cenários; sermos ágeis no tempo de resposta às reais necessidades e oportunidades de gerar valor ao cliente e ao negócio; sermos ágeis na maneira de nos organizarmos na rota de um objetivo; enfim, não necessariamente sermos apenas velozes. No mundo atual, onde o nível de incerteza e volatilidade é cada vez mais alto, muito provavelmente um camaleão terá uma vida muito mais longeva do que um veloz leopardo.

Vivemos um processo de transformação exponencial no mundo, impulsionada pelo avanço tecnológico e os seus consequentes impactos na vida das pessoas. E a velocidade deste processo só tende a aumentar, o que torna o futuro cada vez menos previsível e mais desafiador, mesmo que muita gente tente adivinhar o que virá pela frente. Claro que podemos antecipar muitas coisas, mas não tudo. Por exemplo, nos anos 80, o filme “Back to the Future” trazia uma visão de que hoje estaríamos pilotando carros voadores, vestindo jaquetas inteligentes e desfilando com os nossos hoverboards (uma espécie de skate voador) pelas ruas. Apesar de terem antecipado algumas invenções como a casa inteligente, videoconferências, entre outras, comprova-se que o futuro sempre trará a sua dose de imprevisibilidade. Afinal, quem imaginaria em janeiro deste ano que dois meses depois teríamos que mudar completamente nossas rotinas e comportamentos para lidar com uma pandemia?

Seguindo este racional, entendemos que o fator primordial da agilidade como forma competitiva deve estar empregada na habilidade e poder de adaptabilidade às cada vez mais velozes transformações que vivemos e viveremos. Porém, mesmo com toda incerteza sobre o futuro, nós podemos fazer uma grande previsão com alto grau de certeza: não haverá espaço no futuro para empresas que não trabalharem tecnologia de forma transversal, se tornando cada vez mais core para o negócio. Com certeza, no futuro as companhias que estarão na vanguarda de cada indústria serão empresas de tecnologia com especialidade em seu segmento. Por isso iniciamos esse processo de transformação ágil na Localiza, com o objetivo de nos tornarmos também uma empresa de tecnologia focada no nosso propósito de construir o futuro da mobilidade.

Esse processo de transformação ágil, hoje muito falado aos quatro cantos, é desafiador e muitas vezes pouco explorado em sua essência. No nosso caso, transformar uma empresa de 47 anos de história e com a robustez da Localiza, o desafio é ainda maior. Mas tem sido recompensador acompanhar os significativos avanços que esta nova cultura já vem agregando ao nosso negócio desde que começamos esta jornada de transformação digital.

E como estamos transformando a Localiza em uma empresa ágil? Toda essa jornada tem sido baseada em 5 princípios:

1. Ter uma visão clara e uma ambição de onde quer chegar com a transformação

Por mais que a gente não saiba como será exatamente o futuro, precisamos primeiro saber o que temos de ambição. Aqui temos um propósito extremamente claro: construir o futuro da mobilidade. Dentro deste propósito, temos 3 grandes ambições: ser cada vez mais digital para interagir com os clientes; cada vez mais digital para operar o nosso negócio; e estar cada vez mais preparado para aproveitar as oportunidades de novos negócios resultantes da revolução digital. Todas essas ambições se concretizam em 6 objetivos que direcionam nossas ações do dia a dia: gerar cada vez mais valor para o cliente; sermos cada vez mais eficientes em custos e produtividade; gerar cada vez mais resultado ao negócio; ter um time cada vez mais engajado e protagonista; elevar a confiabilidade das nossas tecnologias; e ser capaz de fazer releases cada vez mais frequentes, incrementando nossa cultura de experimentação.

2. Estruturar um modelo operacional que gere a agilidade necessária

Nesta nova forma de encarar a tecnologia, é fundamental nos estruturarmos de uma maneira que possamos empoderar mais os nossos times com autonomia e responsabilidade, visando gerar ainda mais agilidade de adaptação e execução do plano. É preciso quebrar etapas e provocar os processos burocráticos, claro que sem deixar de manter uma forte governança e gestão sobre o todo.

Para avançar nesse sentido, mudamos completamente o modelo operacional da área de tecnologia da Localiza, criando o #LocalizaLabs (o nosso laboratório de tecnologia e inovação que já conta com quase 700 profissionais). Mudamos papéis e responsabilidades, criamos e fortalecemos nossos times de engenharia, produto, agilidade, devops, arquitetura e analytics, e implantamos ciclos trimestrais de planejamento com ciclos de execução baseados em sprints quinzenais. Tudo isso buscando construir a musculatura necessária para geramos e escalarmos negócios com agilidade.

Durante a crise do Covid, se tornaram ainda mais claros os benefícios desta nova forma de se organizar e se adaptar às imprevisibilidades. Por exemplo, a Localiza foi capaz de protagonizar uma rápida recuperação do negócio. E a nova forma de nos organizarmos com certeza foi um dos grandes viabilizadores desta rápida adaptação ao novo contexto global.

3. Execução adaptável e com clara governança

Uma transformação ágil não pode ser vista como um projeto com início, meio e fim. Ela é na verdade uma longa e desafiadora jornada. Portanto, temos que ter um olhar constante de melhoria contínua também para a transformação. Coletando feedback, medindo resultados e tendo ritos claros de governança para adaptar e melhorar não apenas o fluxo de valor dos times ágeis, mas também a jornada de transformação em si.

4. Ter uma cultura ágil sólida e que permeie toda a organização

Toda transformação digital na verdade é uma grande transformação cultural. É preciso entender as novas competências necessárias e o novo papel da tecnologia antes de lidar com ela para transformar os negócios. A tecnologia passa de “suporte” para estratégica, com voz ativa no centro do negócio. A cultura passa ser a de empoderar ainda mais os colaboradores, ampliar a colaboração e engajamento dos times, ter cada vez mais foco no cliente e na geração de valor, e fomentar o desenvolvimento de equipes de alta performance. É preciso que essa cultura permeie toda a organização, que ela seja disseminada aos quatro cantos, para que toda a companhia ande em bloco em busca de um propósito em comum.

Dentro deste novo jeito de ser, é fundamental se conectar cada vez mais com o mundo externo, estar próximo de parceiros, dialogar com o ecossistema de startups e inovação, abrir as portas para o aprendizado constante e para as novas oportunidades de negócios que venham a surgir.

5. Garantir os viabilizadores da transformação, principalmente tecnologia e apoio da liderança

Uma vez que temos uma visão clara quanto onde queremos chegar, governança estabelecida, processos definidos e cultura disseminada, é preciso garantir os viabilizadores desta jornada de transformação, dos quais destacaria dois pontos:

· Garantir que o plano estratégico esteja “comprado” por todos. De nada adianta se iniciar um enorme processo de transformação se parte da companhia não está confortável com ele.

· Se estruturar com tecnologia e recursos de ponta. Pois se a sua ambição é de construir o futuro, você precisa trabalhar com as ferramentas que te permitirão chegar lá com agilidade e produtividade.

Em suma, acredito que daqui pra frente qualquer companhia que queira protagonizar o futuro obrigatoriamente deverá se tornar não só veloz, mas ágil na forma de se adaptar às mudanças, de interagir com o cliente, de operar o seu negócio, de gerar novas oportunidades de valor e de escalar a sua produtividade.

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