Tendências para o mundo da tecnologia em 2023

Minhas considerações pautadas pelas previsões do VP & CTO da Amazon

Todo começo de ano vemos muitas previsões futuristas para o novo ciclo de 12 meses, e neste ano não tem sido diferente, já me deparei com várias delas. Inclusive, muitas interessantes, mas teve uma com a qual me identifiquei mais e resolvi comentar aqui. Trata-se do artigo escrito pelo VP & CTO da Amazon, Werner Vogels, um cara que admiro demais. Ele lista 5 principais possíveis tendências de tecnologia para 2023, as quais vamos abordar aqui.

Antes, é importante também contextualizar com o cenário que alavanca essas possíveis evoluções que falaremos a respeito. O mundo passa por uma séria crise global, o que demanda ainda mais criatividade e inovação para que possamos passar por esse momento desafiador da melhor forma possível. A boa notícia é que a tecnologia se torna cada vez mais uma importante aliada, à medida que temos mais acesso a dados e novas tecnologias de forma cada vez mais facilitada. Como o próprio Vogels diz, “quando combinadas tecnologias de nuvem, visão computacional, aprendizado de máquina e simulação, estamos começando a vislumbrar aonde essa poderosa combinação de informações e aplicativos pode nos levar”.

Previsão 1: as tecnologias de nuvem redefinirão os esportes como os conhecemos

A Copa do Mundo no Catar já foi uma bela demonstração de como as novas tecnologias devem transformar o esporte, tornando-o cada vez mais digitalizado, justo, competitivo, inteligente e, acima de tudo, elevando a outro nível a experiência do público. E isso acontecerá do esporte amador ao profissional.

Como Werner bem lembra, as principais ligas do mundo já se utilizam de streams de vídeo, wearables e sensores de inteligência artificial, entre outras tecnologias, para fazerem análises em tempo real. E isso rapidamente irá se desdobrar a todos os níveis do esporte.

Já imaginou o benefício de um treinador ter na palma da sua mão dados biométricos que são analisados em tempo real para trocar um atleta antes que ele tenha problemas em campo? Ou até mesmo simulações em tempo real para prever jogadas do adversário? Isso simultaneamente melhora a segurança do jogador e aumenta a competitividade do jogo.

“A tecnologia, por si só, se tornará a base competitiva para esportes profissionais”. E concordo plenamente com esse pensamento. Quanto mais dados tivermos acesso, ainda mais em tempo real, mais inovações com alto poder transformacional surgirão.

E essas inovações irão extrapolar o campo, pois também elevarão e transformarão a experiência do torcedor. Com a rápida adoção de tecnologias que já vemos hoje no varejo, como uso de visão computacional e machine learning, poderemos em breve ver entradas em estádios sem necessidade de ingresso ou a aquisição de produtos no formato “grab & go” que hoje já vemos na Amazon Go. Além disso, o torcedor deverá ter acesso a mais recursos de realidade aumentada, seja no estádio ou no sofá de casa, aprimorando a experiência como um todo.

Previsão 2: mundos simulados reinventarão a experimentação

A nuvem democratizará o acesso à computação espacial, modelos de gêmeos digitais e simulações, o que era bem limitado até aqui. Vamos pegar o exemplo de uma simulação de dinâmica de fluídos para uma asa de jato ou um carro de corrida: isso pode levar até 150TB de dados apenas para simular um segundo de um cenário do mundo real. Nesta frente, a AWS acabou de lançar o SimSpace Weaver, uma tecnologia de simulação que abre caminho para que quase tudo em nosso mundo possa ser simulado de forma mais facilitada, o que nos auxiliará muito a tomar melhores decisões sobre a forma que nos organizamos e em como construímos tudo, além ainda da forma como responderemos de forma mais eficiente a desastres. Os cenários hipotéticos nos trarão respostas com mais agilidade e eficiência, evitando gastos financeiros e operacionais desnecessários.

Outra área em que Vogels aponta um rápido aumento na inovação é a computação espacial, uma vez que empresas já estão construindo hardwares especializados e usando tecnologias de nuvem para capturar e criar modelos 3D de praticamente qualquer ambiente. E fazer isso apenas com um dispositivo móvel logo será realidade, o que certamente irá inspirar uma nova onda de inovações em setores como os de arquitetura, construção, imóveis comerciais e varejo. As imagens estáticas de produtos 2D na Internet se tornarão uma coisa do passado, substituídas por modelos 3D que você pode pegar, girar e colocar em sua sala de estar com a mesma facilidade com que os vê em um navegador da web hoje. Já imaginou poder simular uma geladeira nova na sua cozinha por meio da realidade aumentada e ao mesmo tempo ter acesso a dados de quanto ela impactará no seu consumo de energia, tudo antes mesmo de clicar no botão “comprar”?

A nuvem, por meio de sua enorme escala e acessibilidade, conduzirá esta próxima era.

Previsão 3: Uma onda de inovação em energia inteligente

À medida que o mundo se torna cada vez mais digitalizado, surge também o desafio da sustentabilidade energética. Porém, as novas tecnologias podem nos auxiliar numa maneira mais eficiente e inteligente de como geramos, armazenarmos e distribuímos a energia.

A tecnologia em nuvem está habilitando novas pesquisas neste sentido, como por exemplo a integração do armazenamento de energia na própria estrutura do objeto que será alimentado. Werner dá o exemplo de um navio de transporte onde suas laterais são, na verdade, as baterias que o alimentam em sua jornada.

Outra aposta na visão dele é a descentralização da energia. Uma vez que há a incerteza em torno da disponibilidade de energia, algumas comunidades já estão se organizando com micro redes, onde os membros as usam para se sustentar, reduzindo a dependência das tradicionais empresas de geração. Por exemplo, no próprio bairro onde ele mora, a energia solar já é coletada pela micro rede de sua comunidade e é compartilhada entre os inquilinos.

Neste sentido, as tecnologias de nuvem desempenharão um papel importante para possibilitar tudo isso, afinal dados de painéis solares, parques eólicos, energia geotérmica e hidrelétrica serão transmitidos, armazenados, monitorados, enriquecidos e analisados na nuvem. E todo o aprendizado de máquina será usado para analisar e prever picos de uso e evitar interrupções por meio da redistribuição de energia em um nível doméstico de granularidade.

Previsão 4: A próxima transformação da cadeia de suprimentos

Muitas empresas ainda se deparam com importantes desafios logísticos, mas isso deve mudar em breve. A adoção de tecnologias como visão computacional e deep learning impulsionará a cadeia de suprimentos. Frotas sem motorista, gerenciamento autônomo de armazéns e simulação são apenas algumas das otimizações que levarão a uma nova era na logística inteligente e na cadeia de suprimentos global.

Vogels prevê que os sensores de IoT nas fábricas irão proliferar e o aprendizado de máquina será usado não apenas para prever falhas de máquinas, mas também para evitá-las. Além disso, com a alimentação das redes em nuvem, os dados em tempo real auxiliarão às transportadoras otimizarem suas rotas em todo o mundo de forma mais eficiente e a responderem rápido a imprevistos como falhas de equipamentos ou interrupções climáticas.

O transporte autônomo será outro aspecto que deve provocar um profundo impacto positivo na cadeia, afinal um motorista humano tem seu limite físico e intelectual, mas um caminhão autônomo pode ficar na estrada por dias initerruptamente. Ou seja, mais rapidez, segurança e eficiência.

Ao chegar a um depósito local, a coleta robótica, a classificação de pedidos e a embalagem automatizada também se tornarão mais comuns. Continuaremos a ver isso evoluir com inovações em robótica que usam inteligência artificial, visão computacional e manuseio preciso de produtos individuais no estoque de uma empresa. Werner faz uma previsão nesse sentido: “imagine ser capaz de acrescentar um operador de empilhadeira, que passa boa parte do tempo simplesmente procurando produtos, com um gêmeo digital em tempo real do estoque, que é constantemente atualizado por meio de drones autônomos”.

Cada etapa da cadeia irá passar por importantes transformações tecnológicas, reduzindo custos e simplificando e agilizando os processos.

Previsão 5: Chips customizados se tornarão populares

Em sua quinta previsão para 2023 e além, Werner aposta que o uso de chips customizados para fins específicos aumentará rapidamente, e que isso acelerará à medida que aproveitarmos melhor as otimizações de hardwares que maximizem o desempenho, reduzindo o consumo de energia e os custos.

Tradicionalmente, os ciclos de atualização de software e hardware para aplicativos e sistemas de negócios são mais longos que os ciclos cada vez mais rápidos para laptops, smartphones e wearables voltados ao consumidor. Mas, isso deve mudar em breve, uma vez que há um movimento de consolidação do silício customizado, o que permitirá o desenvolvimento de chips para usos específicos, de forma que sejam mais eficientes e econômicos.

A economia de custos e os benefícios de desempenho levarão a mais experimentação, mais inovação, mais adoção e, eventualmente, mais silício personalizado para outras cargas de trabalho específicas. É ciclo virtuoso. E Werner cita uma passagem de Alan Kay: “as pessoas que realmente levam o software a sério devem fazer seu próprio hardware”. E é esse movimento que devemos ver se tornar cada vez mais comum daqui pra frente.

Conclusão

A jornada em nuvem será a maior habilitadora da nova onda de inovações que veremos daqui pra frente. O acesso a mais dados em tempo real nos abrirá uma enorme janela de oportunidades, a qual irá nos tornar ainda mais inteligentes, mais eficientes e mais sustentáveis.

E pra você, quais são as tendências que devem transformar o mundo como conhecemos hoje?

— — — —

Texto original do Werner Vogels: https://www.allthingsdistributed.com/2022/12/tech-predictions-for-2023-and-beyond.html