Toc, toc | tem gente?

Águino Oliveira
#LocalizaLabs
Published in
6 min readJun 30, 2022

“No intervalo do almoço, ao escovar os dentes, escuto o bater da porta e a assistente de limpeza perguntar se tem gente. Sim, tem gente. Respondi.”
Pessoas, gente, seres. Que sejam trans, gays, lésbicas, queers… somos humanidade. Uma reflexão sobre dignidade da pessoa humana.

Créditos da imagem: @katierainbow

Marco histórico mundial, a aprovação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948, foi a primeira organização internacional que abrangeu quase a totalidade dos povos da Terra, ao afirmar que: “todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade.”

Tal consideração aponta o reconhecimento da dignidade humana que dá a base para outros direitos fundamentais, como a liberdade, a justiça e a vida.

Uma breve abordagem sobre o princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

Segundo definição da PROJURIS — Plataforma de Inteligência Legal, o princípio da dignidade da pessoa humana é um conceito filosófico e abstrato que determina o valor inerente da moralidade, espiritualidade e honra de todo ser humano. Um princípio fortemente influenciado pelo pensamento iluminista dos séculos XVII e XVIII, que influenciou intelectuais da época e a constituição de países que passaram por revoluções, como França e Estados Unidos. O termo “princípio da dignidade da pessoa humana” pode ter uma interpretação ambígua ou até ser tratado como um pleonasmo, contudo o termo “princípio da dignidade da pessoa” — no começo não é escrito assim, pois dentro do ordenamento jurídico não há apenas a figura da pessoa humana, mas também da pessoa jurídica.

Dessa forma, não é possível declarar que os princípios da dignidade alcancem também as pessoas jurídicas, uma vez que essas não são dotadas de dignidade ou de valores intrínsecos dos seres humanos. Já o “princípio da dignidade humana” é bastante utilizado, mas não leva em consideração a principal motivação para a criação do mesmo, que é a proteção da condição humana de cada indivíduo, independente da sua condição, finaliza a PROJURIS.

A partir daqui, à luz dos direitos que amparam a humanidade, temos diversos públicos que compõem a população mundial, contudo suas vozes são muitas vezes silenciadas ou pela violência abruptamente caladas. Um destes públicos é a Comunidade LGBTQIA+.

Em 2019, a Pesquisa Nacional por Amostra da População LGBTQIA+, realizada pela TODXS — Organização Não Governamental, mapeou dados demográficos da população LGBTQIA+ nos 27 estados do Brasil e concluiu que das pessoas entrevistadas: 65,47% se consideram homossexuais, 26,75% bissexuais e 4,3% se consideram pansexuais. No mesmo ano, a Universidade Estadual Paulista (Unesp), por meio de um mapeamento, informou que há 4 milhões de pessoas trans ou não binárias, o que representa 1,9% da população brasileira.

E no dia a dia do Brasil…

Com dimensões continentais, rico em diversidade e recursos naturais, nosso Brasil, um país com cerca de 210 milhões de habitantes (IBGE, 2019), está marcado por desigualdades sociais, políticas, de acesso a bens e pelas desigualdades de gênero e raciais. Infelizmente essas desigualdades são agravadas quando falamos de pessoas em situação de extrema pobreza, pessoas negras e as pessoas transexuais. Entre diversas histórias, as pessoas trans passam por inúmeros desafios, desde a família até os entraves e burocracias de documentos, alterações no nome, vida médica, etc.

E para dar voz a estas pessoas, convidamos para este artigo, Noriny Jullyana, mulher trans, colaboradora da Localiza:

“Olá, me chamo Noriny Jullyana, tenho 21 anos, sou uma mulher trans, e sou software Developer aqui na localiza.

Antes de entrar aqui na Localiza, eu tinha acabado de ser expulsa de casa, estava morando de favor na casa de amigos, e quando eu recebi a notícia da entrevista de emprego, eu fiquei super empolgada, era tudo que eu estava precisando pra melhorar de vida, hoje moro de aluguel e pago minhas contas. Antes de entrar aqui na empresa eu tinha medo de ser tratada diferente por ser trans, isso era um medo muito grande, e quando entrei aqui fui tratada super bem, foi quando eu percebi que aquelas diferenças não existiam, eu tinha voz, as pessoas me ouviam, e não sentia distinção, além de vários outros direitos que tive acesso aqui dentro, que é algo normal, como Nome social, etc. Uma pesquisa da ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais), mostra que apenas 4% da população trans tem emprego formal, só de pensar nisso eu vejo o quanto eu tenho sorte, o que eu mais quero é aproveitar esse espaço para encorajar e ser uma fonte de esperança a toda população trans, de que podem ter um futuro melhor.”

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E agora, Théo Lima, homem trans, colaborador do Time de Assistência da Localiza:

Me chamo Theo, tenho 30 anos e faço parte do time da Assistência a Clientes e minha trajetória na Localiza começou há 4 anos ainda como terceirizado e após o fim do contrato fui convidado a fazer parte do time Localiza.

Nessa época eu ainda não tinha iniciado a transição, isso aconteceu após 1 ano da minha contratação. A primeira coisa que decidi fazer foi alterar meu nome na minha rede social e no dia seguinte quando cheguei na Localiza a minha gestora me chamou para conversar, disse que viu a mudança do meu nome na rede social e perguntou se gostaria de ser chamado daquela forma e respondi que sim. Ela prontamente fez uma reunião com a equipe para informar da minha vontade e que a partir daquele momento todos deveriam me chamar de Theo! Nossa, me senti extremamente acolhido com aquela atitude. Tive muito apoio da Localiza durante minha transição, mudei meu nome no cartório e apresentei a nova certidão de nascimento no RH já no finzinho do dia. No dia seguinte eu já não conseguia mais me conectar no PC, fui chamado novamente por minha gestora onde fui surpreendido com uma cerimônia, me entregaram meu novo crachá dentro de uma caixinha com meu novo nome e uma linda recepção, foi muito emocionante. Tive sempre o respeito dos meus colegas e com a ajuda deles realizei a cirurgia de mastectomia masculinizante, que é o procedimento para retirar a glândula mamária, onde foi feito uma Vakinha Online para arrecadar o valor, isso foi muito legal. Nessa mesma época minha família se afastou de mim e fiquei morando sozinho. Só não passei por tudo isso sozinho porque tinha meu trabalho na Localiza que foi onde busquei refúgio, onde fui aceito, ouvido e acolhido. Existem pessoas que não vão te aceitar, isso vai ser normal. Mas é obrigação do ser humano respeitar o outro.

E vamos trilhando esse caminho de perto…

Um futuro com condições iguais para todas as pessoas.

Um futuro em que a dignidade humana consista na qualidade intrínseca e distintiva de cada ser, que essa dignidade, respeito e inclusão possam proteger-nos contra todo tratamento degradante e discriminação odiosa, bem como assegurar condições materiais mínimas de sobrevivência.

E para cuidar desse futuro, aqui na Localiza desde 2020 foi criado o Comitê de Diversidade que constrói a cada dia um futuro da mobilidade sustentável mais diverso, mais plural e inclusivo. Dentro do programa, toda a alta liderança foi treinada sobre vieses inconscientes e temas sobre diversidade e inclusão, além das diversas lives, palestras e rodas de conversa sobre as temáticas.

Em se tratando de mudanças e evoluções, entre 2021 e 2022 o Comitê de Diversidade vem atuando no mapeamento da jornada de colaboradores trans, com o intuito de garantir um processo fluído e cada vez melhor; a disponibilização de apoio psicológico, banheiros inclusivos, a revisão da licença maternidade para o público LGBTQIA+. Conheça mais das nossas ações aqui: http://localizadoseujeito.com.br/

Essa jornada só começou. 🫶 🏳️‍🌈
E o mais legal é que sabemos que estamos no caminho.
Apertamos os cintos e começamos essa viagem.
Uma viagem de liberdade, união, diversidade e pela dignidade humana.

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Assinam esse artigo: @Águino Silva, Thay e Julia Malard — UX Writing Team da Localiza, com participações especiais de: Noriny Jullyana Pessoa & Eng Theolima.

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Águino Oliveira
#LocalizaLabs

Águino Silva é amante das palavras e estilos comunicação. Licenciado em Letras é também especialista em Gestão da Informação Digital e UX Writing