A importância da presença feminina em tecnologia e como cuidamos disso na Loft

Luciana Biazoto
Loft
Published in
7 min readMar 23, 2022

Texto escrito em coautoria com Marcela Lins

A atuação de mulheres no mercado de TI representa nos dias de hoje apenas 20% do total de profissionais da área no Brasil, mesmo tendo aumentado quase 60% nos últimos 5 anos.

Ao mesmo tempo, e especialmente nos últimos dois anos, o mercado de TI vem crescendo aceleradamente e a busca por profissionais, principalmente mulheres, aumentou em mais de 600%.

De acordo com Eliane Montilla, existem três principais razões para esse interesse das empresas na contratação de profissionais mulheres da área de tecnologia:

1 — A análise de estudos que comprovaram que empresas com maior diversidade de gênero na liderança tiveram maior lucro;

2 — O entendimento de que mulheres pensam diferente e, consequentemente, a diversidade de ideias conduz a melhores soluções para os problemas;

3 — O impacto da inspiração e motivação gerada por mulheres em posição de liderança nas carreiras, contribui para a atração e retenção de outras mulheres nas empresas.

Esse último ponto é de grande relevância para a Engenharia de Software e tem sido discutido amplamente nos últimos anos, porém ainda temos desafios a serem superados e trabalhados diariamente na evolução da participação e da liderança feminina, na área da Tecnologia.

Imagem Professions Vectors by Vecteezy, disponivel em: https://www.vecteezy.com/free-vector/professions

A importância de termos mais referências femininas

Partindo desse tópico, eu, Marcela Lins, gostaria de compartilhar minha experiência: Quando entrei na faculdade de Ciência da Computação em 2006, a minha sala tinha exatos 50 estudantes, desses, apenas 5 eram mulheres. Na turma do semestre seguinte, a disparidade era ainda maior: dos 50 alunos, apenas uma era mulher. Nós mulheres costumávamos andar em pequenos grupos na faculdade, já que éramos tão raras naquele ambiente.

Recentemente me peguei pensando no que tem motivado esse distanciamento das mulheres das chamadas STEM (sigla em inglês que significa Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, em português), correlacionando com minha própria experiência. Quando optei por seguir a área de TI, além da afinidade óbvia pelas matérias de exatas no colégio, tentei me espelhar nas pessoas que eu conhecia e admirava, e nos caminhos profissionais que essas pessoas tinham seguido.

Na época, a filha da minha madrinha, que sempre foi muito estudiosa e um pouco mais velha que eu, estava prestes a se formar em Ciência da Computação. Eu via nela um modelo e ela com certeza exerceu influência para a minha escolha. Na minha experiência, ter alguém próximo que eu pudesse me espelhar, sem dúvida, foi um fator importante para a escolha da carreira de TI.

Isso me traz o questionamento: assim como essa influência foi determinante para a minha escolha, será que a falta de modelos e referências não impacta diretamente no desinteresse da maioria das mulheres?

É por acreditar que sim, que o tema da representatividade se torna tão importante: se eu não tenho contato com mulheres em TI e, mais ainda, mulheres desempenhando cargos de liderança nessa área, será que eu consigo ter confiança de acreditar que um dia eu chegarei lá?

Algumas pessoas com certeza vão ser motivadas pelo desafio do pioneirismo, mas outras, acredito que a maioria, seguirão as influências dos estereótipos, aos quais estão culturalmente submetidas.

Pesquisas mostram que não existe distinção de performance nas ciências exatas entre homens e mulheres, ainda assim, em muitos países, existe a crença de que mulheres são menos habilidosas nessas áreas. Estudos apontam que o papel desempenhado nas STEMs é fortemente associado ao gênero masculino e que esse aspecto estereotipado está diretamente relacionado à baixa representatividade feminina na área.

Da experiência pessoal à missão de mudar o cenário

Eu, Luciana Biazoto, iniciei no mundo de TI aos 14 anos de idade quando ingressei em um colégio técnico para cursar Processamento de Dados, no final dos anos 90. Nessa época e nesse colégio, surpreendentemente, a minha classe estava equilibrada com relação ao número de meninos e meninas (20 de cada).

Com o passar dos anos, fui percebendo que o número de mulheres no meu convívio profissional diminuía consideravelmente: durante a graduação em uma das minhas turmas na Unesp, éramos apenas 3 mulheres e 37 homens; dos 15 times diferentes que já atuei, liderei e/ou gerenciei apenas 1 deles, que era composto por mais mulheres que homens; durante os meus 22 anos de carreira em TI, por 18 anos atuei como única mulher nos papéis de desenvolvedora e/ou líder técnica em times cujos demais integrantes eram exclusivamente homens; e para finalizar, lembram da classe que comentei ser equilibrada no ensino médio? Após 20 anos de formados, apenas 1/4 das mulheres continuam atuando em TI, e apenas duas ocupam cargos técnicos.

Confesso que por algum tempo não me questionei sobre essa diferença, considerava natural, porém em determinado momento, percebi que a falta de parceiras com as quais eu pudesse me identificar estava me distanciando da identificação com a própria ciência e tecnologia, e transformando a minha forma de me relacionar com as pessoas no ambiente de trabalho. Aprendi na prática que, se os times fossem mais diversos, teríamos maior riqueza de idéias, de visões e poderiam gerar muito mais impacto. Ao mesmo tempo, analisando a minha própria trajetória compreendi que era justo que as mulheres não precisassem ser extra fortes e superar diversos obstáculos para chegar nos mesmos lugares nos quais eu havia chegado.

A partir dessa visão, eu soube que precisaria dar um olhar mais atento ao tema e me propus a fazer o que estivesse ao meu alcance para abrir caminho para mais mulheres dentro da área de tecnologia.

Os números não negam: temos ainda um longo caminho para mudar esse cenário desigual e transformar a área de tecnologia em uma possibilidade convidativa, aberta e realmente interessante para as mulheres.

Hoje em dia, atuando com gestão de engenharia, sinto que a minha missão — além de muitas outras coisas — é dar suporte e construir times e ambientes seguros, e através do meu trabalho potencializar mulheres e ajudá-las a tornarem-se protagonistas das suas carreiras e nos seus contextos, trazendo impacto positivo e cada vez mais inspiração, sendo referência.

Acredito que, dessa forma, uma a uma, e juntas vamos virar essa chave e transformar o mercado e a vida de muitas pessoas.

Como a Loft age diante desse cenário?

Aqui na Loft, sabemos que, para causar o impacto que queremos, precisamos de pessoas com diferentes contextos para somar à nossa transformação. Por isso, a criação de um ambiente seguro e a valorização da diversidade de gênero são levados a sério e fazem parte do nosso dia a dia. Um dos nossos principais valores é o Be Yourself: através dele, as pessoas Lofters podem, devem e são incentivadas a ser exatamente como são, com relações baseadas em respeito e valorização da diversidade.

E para sustentar esse valor, temos comitês de diversidade que promovem iniciativas internas e externas para fortalecer nossos times e empoderar nossas pessoas: Pride At Loft, Colors, PCD e o Girl Power. Através dessas iniciativas buscamos constantemente viabilizar um ambiente mais igualitário e seguro para mulheres para que elas possam sentir-se confortáveis e confiantes para desenvolver suas competências, assumir responsabilidades e papéis de liderança, inspirando assim ainda mais mulheres a trilharem esse caminho.

Nossa preocupação em tornar o ambiente seguro começa desde o processo seletivo: o Meeting Loft. No Meeting Loft, partimos da premissa que ter mulheres entrevistando outras mulheres proporciona um ambiente mais amigável para as candidatas, assim, nas entrevistas com candidatas mulheres, sempre que possível escalamos ao menos uma entrevistadora mulher. Isso também acaba sendo um incentivo à participação de mulheres engenheiras de Software no processo seletivo de outras engenheiras.

Outro aspecto que vale destacar no nosso processo seletivo é que temos vagas afirmativas para mulheres, como uma forma de direcionar nossos esforços, provisionar espaço e garantir a diversidade dos nossos times.

Na prática e nos cuidados com o dia-a-dia temos ações do time de Compliance com foco em colocar todas as pessoas na mesma página sobre o que consideramos ser assédio, discriminação e comportamentos inaceitáveis no ambiente de trabalho. Essas ações são bastante divulgadas nos nossos principais meios de comunicação e o time de compliance mantém um canal seguro e sigiloso para acolher e apurar as denúncias, chamado Alô Compliance.

Além dessas ações, temos também o benefício da licença parental de 6 meses. O tempo maior que o obrigatório pela legislação já é um indício dos nossos valores. Mas aqui chamo uma atenção maior ao termo parental. Não estamos falando em licença apenas para mãe, tanto pais quanto mães Lofters têm os mesmos 6 meses de licença. Essa é uma das medidas mais disruptivas e que promovem equidade aqui na Loft: já imaginou fazer parte de um time que trata como iguais pais e mães, tirando da mulher o peso que representa o anúncio da gravidez e, consequentemente, a ausência temporária dessa profissional do time? O Ciro Anunciação, um dos nossos Lofters que estava prestes a sair em licença parental, explica brilhantemente outros aspectos desse benefício neste artigo.

A participação feminina no mercado de TI tem sido amplamente discutida, mas o tema se torna ainda mais relevante já que estamos falando de uma indústria aquecida, com déficit de profissionais e salários no geral acima da média de outras indústrias. Não é justo que mais mulheres façam parte disso?

Se você é uma mulher das áreas de Ciências, Tecnologia e Engenharia e se identifica com a nossa missão, quer brilhar em uma carreira de TI gerando impacto e com muita autonomia, vem construir essa revolução do mercado imobiliário com a gente! Veja as vagas abertas e venha fazer parte dessa transformação com a gente!

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Luciana Biazoto
Loft
Writer for

Engineering Manager atuando para impactar positivamente vidas através de gestão e tecnologia