Licença Paternidade de 6 Meses — Como Ficam a Família e a Carreira?

Paulo Ribeiro
Loft
Published in
6 min readDec 10, 2020

Esse breve texto conta a perspectiva de um dos primeiros homens a fazer uso de uma licença parental de 6 meses no Brasil.

Decidi escrever a respeito porque tem sido uma experiência importante para nossa família e quero contribuir com a mudança de cultura do país, que passa por mais pessoas falarem e desmistificarmos o tema.

É importante começar do princípio. Gravidez é uma das etapas mais transformadoras da vida e, para que este texto seja útil para você, trarei todo o contexto relevante.

A ansiedade do “Estamos grávidos. Tudo bem por vocês?”

Sempre quisemos uma família grande — depois de 3 anos casados, decidimos que era hora de ampliar nossa família. Em setembro de 2019, descobrimos a gravidez.

Por um lado, tomei decisões de carreira, como negar uma oferta da última empresa para trabalhar em São Francisco, evitando a complicação de lidar com uma mudança internacional durante a gravidez. Por outro, ficava ansioso porque não estava indo para um emprego fácil. O combo hipercrescimento + o time mais talentoso que já vi me fazia perguntar: será que vou conseguir acompanhar o ritmo frenético no trabalho e estar presente o suficiente em casa?

Nas fases finais do processo seletivo, compartilhei com meu (então) futuro chefe e o RH sobre a gravidez. A recepção foi muito boa! Genuinamente humana e fizeram questão de esclarecer com o plano de saúde minhas dúvidas sobre cobertura (já pensando na maternidade).

A Loft lança licença parental remunerada de 6 meses

“Depois de irromper 2020 com o título de primeiro unicórnio brasileiro do ano, a Loft, especializada na compra, reforma e venda de imóveis, acaba de lançar a licença paternidade remunerada de seis meses para seus colaboradores. A iniciativa, batizada de “parental leave”, estabelece uma licença mínima compulsória de dois meses para os homens, o que a coloca como pioneira no país a adotar a medida.”

Matéria na Forbes

Lembro de chegar em casa e celebrar com minha esposa Estávamos no 5º mês de gravidez quando a licença foi oficializada — eu já estava me preparando para pedir férias perto da data esperada de parto.

Como pais de 1a viagem longes da terra natal, tínhamos pouca rede de suporte aqui em São Paulo, então a licença foi essencial. Se você considerar que 1 mês depois, em março, a pandemia chegou, a licença foi ainda mais importante (isolados, sem poder contratar ajuda).

Há dois aspectos sobre a licença que valem destacar:

1. Licença parental (e não paternidade)

Trata-se de uma licença que estende o período sofrível que homens no mercado tradicional possuem com filhos (5 dias!), criando espaço para homens estarem mais presentes na vida familiar.

Também equipara o potencial período de afastamento entre homens e mulheres, fazendo as pessoas custar o mesmo para a empresa. Não é só uma licença paternidade melhor — é uma licença parental que faz sentido.

“Outro ponto positivo da iniciativa é que, a partir de agora, homens e mulheres custarão o mesmo para a empresa. Isso impacta diretamente outro programa da Loft: o da equidade de gênero. Isso porque, à medida que eles e elas tiverem direitos iguais após o nascimento de um filho, as mulheres se sentirão mais seguras para usufruir do benefício — ao contrário do que acontece em muitas companhias, onde elas abrem mão do direito legal e acabam voltando mais cedo com medo de perder sua posição”

Matéria na Forbes

2. Licença parental não é “férias infinitas”

Não adianta ter um benefício oferecido se não há um esforço em criar mecanismos e uma cultura que normalize tal usufruto. Benefícios como “férias infinitas” fazem pouco sentido no mundo real, porque a falta de definição deixa as pessoas desconfortáveis. Quanto tempo de férias é muito? 40 dias? 1 ano?

No caso da licença parental na Loft, o fato de ser bem definida e possuir uma fase compulsória ajuda a normalizar a experiência de homens tirar a licença, que por sua vez ajuda a normalizar (e tranquilizar) as mulheres que decidirem tirar. Tornar as ansiedades e desafios de dar uma pausa na carreira para focar na família universais, acelerando o como as empresas se adaptam para lidar com isso.

  • Mulheres: 4 meses compulsórios + 2 meses flexíveis até 1° ano.
  • Homens: 2 meses compulsórios + 4 meses flexíveis até 1° ano.

Além do período compulsório, há um esforço grande na cultura da Loft em deixar as pessoas confortáveis em tirar a licença. Os diferentes chefes que eu tive no período foram extremamente receptivos e encorajadores — colegas de time também.

Uma cultura saudável se constrói assim — com mecanismos inteligentes e participação ativa das pessoas.

Qual foi o processo para tirar a licença?

Nós usamos a data prevista de parto como meta de preparação, mas sabemos que muitos bebês chegam antes. No último mês, em reunião de planejamento com meu líder, discutimos os projetos em que estava envolvido e como poderíamos facilitar a transição.

Tinha bastante motivo para ficar nervoso (a licença e o afastamento se tornavam reais), porém ele foi muito leve e aberto no papo. Depois de combinar um plano geral, até recomendei uma outra pessoa que poderia vir para o time assumir parte da missão (que, por coincidência, se chama Paulo e também tirou licença agora).

A data prevista para o parto era 3/jun, na quarta, e saí de licença na sexta-feira anterior, dia 29/mai. Alguns dias mais cedo por dois motivos: os últimos dias são BEM complicados, com vários alarmes falsos durante madrugadas + o plano de transição já tinha sido concluído, não fazia sentido começar coisas novas.

Vivendo a paternidade

Nossa bebê chegou no dia 02/jun bem e saudável, graças a Deus.

Subjetivamente, a experiência da licença fez sentido. Na minha ignorância de pai de 1a viagem sempre viciado em trabalhar, cheguei a me perguntar se não seria tempo demais 🤦‍♂️

É uma experiência muito diferente — as coisas pequenas, separadas, não parecem trabalhosas. Noite mal dormida, bebê chorando, alimentação maluca… mas como acontece tudo ao mesmo tempo, é muito desafiador.

Às vezes eu me perguntava: “como esperamos que pais estejam presentes para lidar com isso e ainda trabalhar normalmente?”

Voltando ao trabalho: como foi a recepção?

Para voltar, fiz algumas ligações com diferentes membros da equipe. A ideia era fazer “re-onboarding”, identificando onde estávamos e algumas leituras preparatórias. Voltei para a mesma unidade de negócio, porém com um desafio diferente, porque o foco da área mudou. Isto é normal, pois “mudar faz parte da gente” (frase famosa na Loft).

O mais importante aqui é que fui considerado como parte do time, avaliado para a nova realidade e recebi um desafio interessante, alinhado com minhas capacidades. Se olhar no detalhe, meu escopo até aumentou na volta da licença. Não me senti prejudicado por ter ficado longe e participarei do ciclo de performance normalmente apesar dos meses fora.

Você pode estar se perguntando:

“Como assim o bebê nasceu dia 2/jun e você já está falando sobre estar de volta? A soma não chega em 6 meses”

Esta é uma das maravilhas da política atual em torno da licença: para homens, são 2 meses compulsórios e 4 meses flexíveis a usufruir até o bebê completar um ano. Um motivo comum que já vi outros papais tirar a licença faseada é ajudar no re-onboarding da esposa na carreira, ficando assim:

  • 0–3 meses — Licença parte 1. Cuidar do bebê
  • 3–6 meses — Volta ao trabalho.
  • 6–9 meses — Licença parte 2. Ficar em casa enquanto a esposa volta a trabalhar e se re-acostuma com a rotina

Em nosso caso, somos afortunados o bastante que minha esposa pode escolher ficar em casa para focar no bebê por completo. Ainda assim, decidimos dividir a licença, para podermos curtir o bebê com a família na nossa terra natal nos meses finais.

“Respeitamos seu momento de vida”

Em um papo há muitos meses com Renata Feijó, a líder de Pessoas, Legal & Compliance na Loft, ela resumiu bem:

“O trabalho aqui é super intenso — nossa visão é revolucionar o mercado imobiliário mudando a forma como as pessoas vivem. Para isso, a ideia é também respeitar o momento de vida de quem está conosco construindo esse futuro”.

A esperança é que este seja um primeiro passo para mudarmos a cultura: que mais e mais empresas adotem licenças parentais sãs e que os governantes criem mecanismos para torná-las universais.

Alguma dúvida sobre o processo? Coloca abaixo e responderei todas.

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Paulo Ribeiro
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Helping to change the real estate market by solving operation problems @loftbr