Por que não devemos falar que somos todos iguais?

Pride @ Loft
Loft
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5 min readJun 22, 2021

Somos mais de 7 bilhões de pessoas no mundo. Só no Brasil, mais de 200 milhões de pessoas. Dizer que todas as pessoas são iguais é ignorar esse fato e simplificar a beleza que é a complexidade dos seres humanos. Entender que cada uma dessas pessoas é singular e possui particularidades é o primeiro passo para sentirmos orgulho de nossas diferenças; pois são elas que nos tornam pessoas únicas.

Diferentes pessoas que trabalham na Loft. Jessyca com sua filha olhando uma para a outra. Talita caminhando na rua segurando um vaso de plantas. Rafa dando uma palestra com microfone na mãos e pantufas de tigre.

Quebrar as normas padrão de gênero e sexualidade não é algo exclusivo da comunidade LGBTQIAP+: é algo inerente ao ser humano. Gostamos de experimentar, conhecer, viver e a partir do momento que tiramos essas barreiras da nossa frente, conseguimos enxergar além dos que nos foi dito; explorar as múltiplas formas de vivenciar o mundo e de nos reconhecermos como pessoas.

Ao dizermos que somos iguais estamos dizendo que pensamos e nos expressamos da mesma maneira; que não temos vivências, realidades e culturas completamente diferentes. Há muito tempo a sociedade tenta nos encaixar em papéis sociais limitados, de acordo com estigmas perpetuados que não refletem de fato as pessoas que nela vivem.

Se todas as pessoas são iguais,

  • Por que a violência e o medo é uma realidade na vida da comunidade LGBTQIAP+?
  • Por que uma pessoa LGBTQIAP+ é morta a cada 26h no Brasil, o país que mais assassina pessoas da comunidade no mundo?
  • Por que a expectativa de vida de pessoas trans e travestis é de 35 anos no Brasil enquanto que da população geral é de 75 anos?
  • Por que 90% da população trans e travesti está ausentes do mercado formal de trabalho e precisam recorrer ao trabalho sexual como fonte de renda?

Porque as pessoas não são todas iguais. E dizer isso é ignorar, não só a beleza que há na diferença, como também toda essa brutal realidade em que vivemos.

Um grupo minoritário não é necessariamente um conjunto de pessoas em menor quantidade na sociedade. O termo minoria vem do fato desse grupo sofrer uma situação de desvantagem em relação a outro grupo privilegiado na sociedade, gerando uma “dominância” que resulta em discriminação e outros problemas para as pessoas que fazem parte do grupo minoritário. Logo, existe algo estrutural na sociedade que forma uma minoria e uma maioria, existem regras que definem o que é normal ou não no senso comum. Como podemos então garantir igualdade para todas as pessoas se algumas comunidades ainda sofrem com uma carga pela sua identidade, sexualidade, raça e/ou classe social?

Tomemos como exemplo a comunidade trans. Pessoas que fogem das expectativas sociais de gênero sempre existiram, mas ao longo do tempo foi crescendo um preconceito na sociedade para com elas. Isto resultou, em 1979, na inclusão do termo — errado — “transexualismo” na CID (Classificação Internacional de Doenças) como um transtorno psicótico pela OMS (Organização Mundial da Saúde). Em 1998, o termo no CID foi atualizado para transsexualidade, mas apenas em 2016 que foi retirado e deixou de ser considerado um transtorno. Mesmo com a retirada da condição de doença no CID, as consequências se mantém até hoje em nossa sociedade, como o estigma de que pessoas trans não são “pessoas normais”.

“Todas identidades são historicamente construídas. Isso não as faz ser menos reais ou legítimas. É apenas o poder que faz certas identidades são universais e que sempre existiram” Alok V. Memon, autore e ativista

A luta pelo reconhecimento e visibilidade é longa. A conquista dos nossos direitos e do orgulho de sermos quem somos ainda é uma utopia para muitos de nós. Parte daí, também, a importância de usarmos a sigla extendida LGBTQIAP+, de falar sobre todas as letras e até as que ainda virão, porque nossas existências e demandas precisam ser nomeadas para serem reconhecidas. Para que possamos reivindicar direitos que equiparem nossos acessos e existências. Se por um lado, parte da comunidade já luta pelo direito de amar, muitas pessoas LGBTQIAP+, ainda lutam pelo direito de viver sem medo.

Cada pessoa pode ser atravessada por diversos preconceitos, por isso, trazemos o termo equidade, que é a disposição para reconhecer imparcialmente o direito de cada um, de acordo com o dicionário Michaelis. Ampliando mais ainda este significado, queremos dizer que com a equidade cada situação é avaliada de forma justa baseada nas oportunidades e vivências da pessoa. É mais do que oferecer chances iguais, é realmente dar um suporte aqueles que durante toda a sua vida já sofreram e sofrem com as dores do preconceito.

Cada vez, mais fala-se sobre a importância da diversidade em empresas e seus benefícios, de trazer diferentes óticas que melhoram os resultados. Mas também precisamos falar sobre a importância do convívio social. Em um contexto onde a maioria dos líderes são homens cis, heteronormativos e seu primeiro contato com pessoas minorizadas é no trabalho, pode ser mais dificil de entender suas dificuldades e necessidades.

Uma forma de criar ambientes que valorizam e reconhecem a diversidade também é a representatividade, seja na comunicação, na política ou na liderança de áreas. Afinal, pessoas diversas em posições relevantes, gera ambientes favoráveis para mais pessoas diversas e nos faz perceber que é possível ocupar esses espaços.

Na Loft, um de nossos pilares é o #BeYourself, que explora o conceito de que sermos nós mesmos nos leva ainda mais longe. Entretanto, só ter ele escrito em nosso valores não basta, estamos aprendendo cada vez mais. Além de estarmos de portas abertas para a comunidade LGBTQIAP+, estamos deixando cada vez mais o nosso ambiente confortável e seguro, oferecendo reais chances de crescimento profissional.

Pessoas da Loft na Parada LGBTQIAP+ do ano de 2019. Elas estão usando camisetas feitas para a data, assim como bandeiras do orgulho.

E por isso, é com muito orgulho que nós apoiamos a 4ª Marcha do Orgulho Trans de SP! Convidamos a todas as pessoas a participarem desse evento essencial para a nossa sociedade e a se abrirem para ouvir, aprender e ajudar a criar novos espaços para todes.

Saiba mais e inscreva-se em: https://orgulhotrans.com.br/

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