Transição de carreira: nenhum dia é como outro

Por que abraçar sua história pode se tornar um dos passos mais importantes na hora de partir para uma grande mudança.

Raquel Câmara
Loft
7 min readOct 31, 2022

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Photo by loops7 | IStock

E então, um dia, você se vê se perguntando: o que vem depois?

Ainda muito novos, somos incentivados a fazer escolhas importantes com um pressuposto — muitas vezes, assustadoramente sólido — de que precisamos saber o que queremos e o que estamos buscando para o futuro. A ideia de que devemos acertar de primeira na escolha da “carreira ideal” é um pensamento ainda bastante recorrente nos dias atuais.

Mas por que, em alguns casos, abrir mão dessas escolhas é tão difícil?

Sentimentos como ansiedade, autocobrança, culpa e decepção, que alimentam esse medo de mudar de direção, podem se tornar grandes abismos em um primeiro momento — e não existe um roteiro para nos dizer quando ele começa, ou quando termina. Não existe esse tal de roteiro que aponte o caminho das pedras para os mais singulares casos que impulsionam um desejo de mudar de carreira. Cada busca é única.

Tendo passado pouco mais de 1 ano da minha própria transição, nessa última semana, ouvi uma coisa que me fez refletir meses de anseios. Após encontrar um amigo que não via a tempos, e que acompanhou toda a minha trajetória, mesmo antes de decidir pela mudança, me vendo preocupada, eis o que ele me disse:

“Olha.. Vê só como as coisas são engraçadas.
Não há muito tempo seus anseios eram completamente diferentes.
Às vezes, precisamos de alguém para nos relembrar.”

Fiz então esse pequeno compilado de 2 coisas que aprendi pelo caminho, e que julguei importantes de serem compartilhadas, e outras 3 que julguei importantes de nunca serem esquecidas.

Não saber hoje é a maior oportunidade para aprender amanhã

Primeiro clichê: não esperar evolução do dia para a noite.
Mas é um fato.

Ainda assim, quando pensamos em aprendizado, olhar para o dia anterior é a receita perfeita para a auto sabotagem. Uma boa percepção de evolução acaba vindo de forma muito mais inconsciente. Ela não chega como um deleite de iluminação Buddha logo que acabamos de completar aquele check list imenso de cursos e livros. Ela vem de momentos em que, por um ínfimo instante, esquecemos que, um dia, não fazíamos a menor ideia do que sabemos hoje.

Mas o que talvez seja ainda menos trivial sobre toda essa anedota de percepção de evolução é que, com o tempo, passamos a olhar para aquilo que ainda não sabemos como uma oportunidade de saber mais. E se sentir confortável com a possibilidade de dizer “eu não sei” foi uma das coisas mais importantes que me ensinaram aqui na Loft durante o meu processo de transição.

Gastar tempo para ganhar tempo

Muito mais que consumir todo conteúdo que encontramos pela frente igual um trem desgovernado, há um ganho enorme por trás de investir tempo construindo um plano de estudo que faça sentido para cada realidade.

Eu sei.. É tentador seguir planos prontos, aceitar estimativas otimistas, correr em círculos atrás de um pote de ouro e depois se castigar com auto cobrança porque se viu incapaz de seguir um roteiro de promessas que foi construído em cima de experiências de outras pessoas. Eu também fiz isso.

Mas, convenhamos, nem todo mundo tem 8h no dia disponível para investir integralmente na transição de carreira. E nenhum plano de estudos será tão realista quanto aquele que você se propôs a construir.

Mas calma! Porque existe sim uma chance muita alta de que seus primeiros roteiros ainda sejam um tanto otimistas no quesito “tempo de execução”. Nos meus primeiros meses como cientista de dados aqui na Loft, estimar o tempo que eu levaria para realizar uma entrega parecia até mais difícil do que a tarefa em si. Mas, com o tempo, auxílio e direcionamento de pares, somos capazes de desenvolver sensibilidade para identificar em qual momento da curva de aprendizado estamos. E aqui é entender que, quando entramos em um processo de aprendizado de algo completamente novo, não temos conhecimento ainda do tanto de esforço que precisaremos investir para aprender a aprender.

Porque, assim como na escola tínhamos métodos diferentes para praticar cada uma das disciplinas (fosse por meio de leitura, resolução de exercícios, ou criando musiquinhas para memorizar fórmulas), até que cada pessoa encontre a melhor forma — para ela — de aprender o conteúdo novo, qualquer estimativa de tempo pode se tornar frustrante.

E esse foi um outro grande aprendizado que julguei essencial durante a transição.
Gestão de tempo não é uma habilidade que se aprende uma vez na vida.
É algo que deve ser reaprendido cada vez que lidamos com um novo escopo.

E estampar, de cara, expectativas sobre a curva de aprendizado de algo que você nunca viu antes é uma grande cilada.

Podemos viver um ciclo diferente todos os dias

A sensação de que todos os dias são exatamente iguais parece ser um evento bastante comum entre pessoas que compartilham esse momento. Mas é sempre bom lembrar que todo processo de aprendizado precisa de um tempo de maturação e — PASMEM! — descansos também estão incluídos nessa contagem.

Os dias não precisam todos parecer uma mistura de ressaca do sábado com a lamentação de um início de semana. Esteja você trabalhando e estudando, ou estudando em tempo integral, pausas para se distrair com hobbies, encontrar amigos e passar tempo com a família não são atrasos de vida.

Tendo sido a entrada na Loft a concretização da minha transição, não era incomum acordar cedo e dormir bastante tarde estudando e trabalhando — na verdade, isso já era uma rotina nos primeiros 6 meses. E a motivação vinha de um misto de felicidade com a oportunidade que me foi oferecida, junto da vontade de alcançar um nível técnico mínimo que me fizesse capaz de entregar valor junto ao meu time. Lembro de ter ouvido, na época, meus pares por várias vezes me incentivarem a não me cobrar tanto e manter meus momentos de lazer como parte da minha rotina.

E pode soar como algo pequeno e, até certo ponto, óbvio. Mas foi na consistência das orientações, e com o passar do tempo, que percebi a importância de estabelecer esse balanço.

Preciso recuperar o tempo perdido.
Não dá para perder tempo agora.
Não quero mais tanto tempo nessa rotina.

Conceitos que se traduzem em sentimentos de “corrida contra o tempo” não nos levam “do zero ao avançado”.
Eles nos levam do zero ao burnout.

Cultivar a motivação e curiosidade de uma criança

Quando minha primeira sobrinha nasceu, eu não fazia a menor ideia de com quantos anos uma criança aprendia a andar, falar, comer sozinha, ler ou contar de 1 a 10. Com o passar dos anos entendi por que a maioria dos adultos costuma se referir a seus filhos, sobrinhos e afins como “é uma criança muito esperta!”.

Engraçado pensar como toda criança parece sempre tão esperta, não?

Posso até não ter uma resposta extremamente científica sobre isso — e nem acho que alguém já tenha parado para estudar o fenômeno da onisciente esperteza infantil –, mas decerto uma coisa é sabida: crianças são muito curiosas. Elas demonstram uma motivação enorme em aprender e reproduzir tudo o que veem de mais novo pela frente. Só que tudo o que elas veem pela frente é novo.

Tudo bem, não temos a visão ingênua e admirada que uma criança tem vendo o mundo pela primeira vez. Mas ser curioso e poder ter interesse genuíno por aprender algo novo não é privilégio exclusivo de crianças.

Tive uma oportunidade incrível de participar de projetos variados aqui na Loft — tendo em mente também que cada iniciativa era algo completamente inédito para mim. E, se encaramos novos desafios com entusiasmo, mesmo que não tenhamos uma solução de prontidão ou não façamos a menor ideia de por onde começar, ainda assim, a postura de curiosidade nos fará agir sob iniciativas que alavancarão nosso desenvolvimento de forma muito mais eficiente.

No dia a dia de um processo de transição de carreira, buscar cultivar ao máximo a motivação por aprender é um lembrete que pode afastar pensamentos como “eu nunca vou saber isso” ou “eu nunca chegarei lá”. Pensamentos que, no fim, de nada servem além de redirecionar nosso foco para uma síndrome do impostor que só existe porque nos atrelamos a um cenário de competição com nós mesmos.

Decepção é só mais uma daquelas opiniões que ninguém pediu

Ela não é pseudônimo de ninguém.
E esse talvez devesse ser o lembrete número 1.

Lembrar que os valores e ferramentas que guiam cada geração não são fixos, e que parte da ansiedade da nossa própria geração vem de uma concepção de sucesso criada por uma sociedade que vende expectativas como sonho, pode até não parecer muita coisa. Mas pode aumentar — e muito — nossa capacidade de nos mantermos abertos à mudanças e de lidar com projeções de expectativas irrealistas que não se adequam.

Vivi, por muito tempo, o medo da “decepção” estando mais associado com uma ansiedade ligada a não querer se tornar aquilo — aos olhos de quem? –, do que com a crença de realmente ser. Quando me senti pronta para compartilhar esse sentimento, a quantidade de outras pessoas que me confessaram também sentir algo semelhante foi arrasadora.

Mas como exercer nosso livre poder de escolha na busca por uma carreira que se adeque melhor aos nossos desejos acaba se tornando algo tão assustador?

E aqui trago meu último lembrete.
Tememos o desconhecido até nos apresentarmos a ele.
E não há nada de decepcionante em ser corajoso.

Comemorar pequenas vitórias pode ser um divisor de águas no momento em que precisamos parar de pensar em todas as expectativas impostas — sejam elas internas ou externas — e nos ater ao fato de que estamos sendo excepcionalmente corajosos por desbravar um mar nunca antes navegado.

Entendo que cada experiência é única e que não há como falar sobre um assunto como transição de carreira sem relembrar toda uma jornada pessoal de transições. Mas se o pouquinho do que aprendi nesse caminho puder trazer mais leveza aos desafios de ao menos uma pessoa, o objetivo foi alcançado!
Porque essa é, sem sombra de dúvidas, uma jornada cheia de aprendizados.
Que independe de contexto, área ou duração.

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