Russell Wilson é a nova ‘cartada Manning’ do Denver Broncos; Rodgers fica nos Packers, Wentz vai para os Commanders e +

Bruno Bataglin
Lombardia
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9 min readMar 12, 2022

Foi uma semana maluca na National Football League. Eu ainda estou absolutamente atordoado e só consegui sentar agora para escrever esse texto (isso é só para dar uma dramaticidade, foi falta de tempo mesmo).

Russell Wilson nos Broncos? Rodgers decidindo seu futuro já em março? Wentz indo para Washington? O que é que está acontecendo? É muita coisa para um intervalo de menos de sete dias.

Então, a fim de tecer meus comentários rápidos sobre o que rolou (não que alguém se importe com eles), chego aqui para mais uma coluna no Lombardia. Estive sumido desde a semana do Super Bowl LVI, mas tô na área.

Denver Broncos vai para o tudo ou nada com Russell Wilson (e é um movimento arriscado)

A troca de Russell Wilson do Seattle Seahawks com o Denver Broncos certamente é uma das maiores da história da NFL. Daqueles de serem lembradas gerações após gerações. E é por isso que é até difícil analisar uma negociação dessas apenas dias depois de ser noticiada.

(Crédito: Wikimedia Commons)

Wilson é um dos maiores quarterbacks da história da National Football League e se tornou um verdadeiro fenômeno desde que foi draftado na terceira rodada do Draft de 2012.

Em dez temporadas na liga até agora, Wilson completou 65% de seus passes para 37.059 jardas, 292 touchdowns e 87 interceptações. Com sua mobilidade, ele também correu 846 vezes para 4.689 jardas e 23 TDs.

Ao mesmo tempo, ele foi um dos QBs que mais sofreram sacks desde que virou profissional, sendo derrubado 427 vezes pelos defensores adversários, uma média superior da 42 por temporada. Isso não é nada bom para o corpo de um quarterback que já beira os 34 anos de idade.

Mas fato é que Wilson, dono de um título de Super Bowl (XLVIII) na carreira, inclusive conquistado sobre o próprio Denver Broncos, e nove vezes selecionado ao Pro Bowl, é um grande upgrade para a franquia do Colorado. Ainda mais para uma organização que não chega aos playoffs desde a temporada 2015, quando foi campeão do Super Bowl 50, e que teve que se contentar com Trevor Siemian, Case Keenum, Joe Flacco, Drew Lock e Teddy Bridgewater desde que Peyton Manning pendurou o capacete.

Aliás, por falar em Manning, na minha visão a cartada dos Broncos foi semelhante à de quando trouxe o lendário QB depois que ele deixou o Indianapolis Colts. Com a diferença de que Wilson completa 34 anos em novembro e Manning assinou com os Broncos dias antes de completar 36 anos, em 2012.

Obviamente considerando as peculiaridades de cada negócio, já que Manning era free agent e vinha de lesão grave no pescoço, a aquisição de Wilson é daquelas que mudam imediatamente a organização.

É verdade que Manning ganhou o Super Bowl 50 basicamente sendo carregado pela defesa de Denver, com Von Miller e companhia. Mas Wilson não precisava de menos para ter algum sucesso no Colorado. Sobretudo de uma linha ofensiva, algo que ele sentiu bastante falta nos últimos anos em Seattle.

Mas, assim como há dez anos, a cartada que John Elway está dando agora em 2022 é uma digna da que ele mesmo deu em 2012, quando era general manager e resolveu arriscar a contratação do lendário camisa 18 do Indianapolis Colts. É uma daquelas para todo mundo ver e fazer muito barulho.

É certo que os Broncos precisam urgentemente investir algumas escolhas de draft na OL. E também precisam melhorar o corpo de wide receivers. Mas a chegada de Wilson por si só já é capaz de dar um grande boost no time do recém-contratado head coach Nathaniel Hackett.

Aliás, Wilson vai se tornar o primeiro quarterback na história a ser titular em um jogo do time que ele derrotou no Super Bowl, segundo dados do ‘ESPN Stats & Information’.

Particularmente, eu aplaudo os Broncos pela movimentação. O preço não foi tão alto assim e o risco é válido. Ao menos, será uma troca capaz de injetar um ânimo todo novo em Mile High.

E do lado dos Seahawks?

Bem, é difícil analisar essa troca pelo lado dos Seahawks. Na minha visão, essa foi uma troca burra. É absolutamente difícil encontrar um franchise quarterback na NFL. Alguns times demoram décadas e outros jamais encontram (alô, Jacksonville Jaguars). Então, quando você tem um, você protege como a coisa mais importante da sua vida.

E, por mais que possa ter havido um certo desgaste na relação e que os traumas recentes dos Seahawks não ajudem, era para ter mantido Russell Wilson. Pelo menos até agora, os Seahawks não parecem ter um sucessor minimamente viável em mãos.

Wilson foi o único jogador na história dos Seahawks a ganhar um Super Bowl com a camisa da franquia. E ele é o líder em, basicamente, todas as grandes estatísticas de passe da história da organização.

Se você tem isso, você não se livra. Ou, se você se livra, o preço tem que ser REALMENTE alto. E foi? Acredito que nem perto.

Se olharmos para o pacote, pode até parecer. Afinal, cedendo Wilson e uma escolha de quarta rodada do Draft de 2022, os Seahawks receberam:

· Três jogadores: o quarterback Drew Lock, o tight end Noah Fant e o defensive lineman Shelby Harris;

· Duas escolhas de primeira rodada de Draft: (número 9 de 2022 e uma em 2023);

· Duas escolhas de segunda rodada de Draft (número 40 de 2022 e uma em 2023);

· Uma escolha de quinta rodada do Draft de 2022.

Em relação aos jogadores, Lock sequer chegou perto de provar que pode ser um titular viável. Fant, sim, pode ser uma grande peça no ataque. E Harris acaba de sair de uma temporada de seis sacks e 49 tackles totais, podendo reforçar o pass rush dos Seahawks.

Mas cadê uma escolha de top 5 de primeira rodada do Draft? Ou então todo o time dos Broncos em troca? CADÊ? Você está cedendo Russell Wilson, não um QB qualquer. Saiu barato.

Contudo, se os Seahawks conseguirem achar um QB calouro minimamente interessante na posição 9 deste ano, então o negócio vai começar a parecer um pouco mais vantajoso. Ou menos desvantajoso.

Aaron Rodgers decidindo o futuro rapidamente é um anticlímax para quem gosta de vê-lo enrolar

Nós gostamos é de novela mexicana. Gostamos das técnicas de enrolar que João Kléber vive nos ensinando. Mas Aaron Rodgers consegue ser chato até quando ele não quer ser chato. Que decepção…

Como noticiou Ian Rapoport, da ‘NFL Network’, na última terça (8), Rodgers assinou uma extensão de contrato de quatro anos com os Packers. O valor total da renovação é de US$ 200 milhões, sendo US$ 153 milhões de dinheiro garantido.

O novo acordo basicamente garante o camisa 12 em Green Bay até o final de sua carreira e o torna o jogador mais bem pago da história da National Football League em termos de média anual.

(Crédito: Wikimedia Commons)

Isso basicamente coloca um ponto final em todo o drama da offseason. E Rodgers nem poderá reclamar de uma eventual saída de Davante Adams, já que os Packers aplicaram a franchise tag em seu principal wide receiver e maior alvo de Rodgers. Porém, uma extensão de longa duração ainda é necessária para agradar de vez o camisa 12. Sem falar em mais algumas contratações durante a free agency e um bom draft. Afinal, não é fácil deixar Rodgers contente.

Confesso que, depois da offseason do ano passado e mais uma eliminação traumática nos playoffs, perdendo de forma melancólica para o San Francisco 49ers no divisional round, eu achei que Rodgers diria adeus a Green Bay. Para mim, era cada vez mais remota a chance de ele permanecer.

Porém, eu, como grande apaixonado por futebol americano há mais de 15 anos, sempre gosto de ver quarterbacks lendários, como é o caso de Rodgers, começando e terminando suas carreiras com a mesma camisa. E sabemos como são raros esses casos.

Tom Brady, Peyton Manning, Brett Favre, Joe Montana e muitos outros não finalizaram suas trajetórias brilhantes com a mesma camisa que deram seus primeiros passes. Para cada Ben Roethlisberger e Dan Marino há dezenas de QBs que vestem duas ou mais camisas na NFL.

Então, Rodgers está ficando onde deveria estar. E onde vai buscar o seu segundo título de Super Bowl antes de dizer adeus.

Carson Wentz no Washington Commanders é mais uma parada para um QB rodado

No futebol brasileiro, falamos muito em jogador ‘rodado’. Na NFL, não é tão comum termos um quarterback que passa por várias franquias para ser titular (Ryan Fitzpatrick só está observando de canto de olho neste momento…)

(Crédito: Wikimedia Commons)

Mas é um fato que Carson Wentz já está começando a entrar para este seleto hall de ‘signal callers que chegam cercados de expectativa e para mudar a franquia, mas são mandados pastar pouco depois’. Essa categoria fui eu que criei.

Desde que foi selecionado pelo Philadelphia Eagles com a segunda escolha geral do Draft de 2016, o Principe Harry… ops… Wentz ficou até 2020 com o time que o draftou. Mas, na temporada passada, foi trocado com o Indianapolis Colts.

17 jogos foi a sua validade na franquia de Indiana. E, nesta semana, ele foi trocado com o Washington Commanders (que p**** de nome é esse??? Ainda não estou acostumado).

Ou seja, será o terceiro time de Wentz nos últimos três anos. And counting…

Em termos estatísticos, Wentz foi medíocre em seu único ano com os Colts. Foram 62,4% dos passes completados para 3.563 jardas, 27 touchdowns e sete interceptações. O camisa 2 continuou tomando decisões questionáveis em momentos importantes e fez suas trapalhadas de sempre.

Agora, em um Washington desesperado por uma solução na posição mais importante do futebol americano, ele terá que mostrar que pode voltar a ser ao menos uma sombra daquele Wentz de 2017, que ajudou os Eagles a vencerem o Super Bowl, antes de sofrer uma lesão grave no joelho.

Como compensação por Wentz, os Colts vão receber duas escolhas de terceira rodada dos drafts de 2022 e 2023. E a escolha do próximo ano pode se transformar em uma de segunda rodada se Wentz jogar 70% dos snaps dos Commanders nesta próxima temporada. Os dois times também trocaram escolhas de segunda rodada de 2022 (os Colts foram da posição 47 para a posição 42) e os Commanders receberam uma escolha de sétima rodada de 2022.

E mais algumas notas rápidas de uma semana louca na NFL (não cabe tudo, me desculpe)

Agora, para finalizar, outras notícias que chamaram a atenção nesta semana de ‘loucuragem’ total na National Football League

- Khalil Mack foi trocado pelo Chicago Bears com o Los Angeles Chargers por uma escolha de segunda rodada do Draft de 2022 e uma de sexta rodada do Draft de 2023. Mack é uma adição SENSACIONAL para a defesa dos Chargers e, do lado dos Bears, mais um grande jogador deixa essa franquia absolutamente sem rumo.

- Os Seahawks dispensaram o linebacker Bobby Wagner, oito vezes selecionado ao Pro Bowl, após uma década de serviços prestados pelo jogador. Campeão do Super Bowl XLVIII com os Seahawks, esse vai deixar saudades na torcida (assim como Wilson). Que semana para o torcedor de Seattle…

- O Las Vegas Raiders acertou uma extensão de contrato de quatro anos, US$98,98 milhões, com o espetacular defensive end Maxx Crosby. Em 2021, ele fez oito sacks, menos do que pareceu, mas foi o responsável por 82 pressões em cima dos QBs adversários e 53 ‘apressadas’ nos quarterbacks, ambas as melhores marcas da NFL na temporada 2021, segundo o ‘Next Gen Stats’. Com apenas 24 anos de idade, Crosby tem um futuro brilhante pela frente.

- O Tennessee Titans acertou uma extensão de cinco anos, US$ 87,5 milhões, com o outside linebacker Harold Landry. Esse cara vem de uma temporada monstruosa e merece a renovação.

- O Los Angeles Chargers acertou um novo contrato com o wide receiver Mike Williams. O recebedor, que fez 76 recepções para 1.146 jardas (maiores marcas de sua carreira) e nove TDs na temporada 2021, recebeu um contrato de três anos, US$ 60 milhões.

- Tivemos tags e mais tags

- E o wide receiver Calvin Ridley, do Atlanta Falcons, foi suspenso por tempo indeterminado, até pelo menos toda a temporada 2022 da NFL, por apostar em jogos da NFL durante a temporada 2021. Não deu para segurar e deixar de abrir a conta na bet365, né? (rs)

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Bruno Bataglin
Lombardia

Escritor, apaixonado por esportes e jornalista, não necessariamente nesta ordem.