A leoa: um filme inspirado no preconceito
O filme norueguês A leoa é aqueles que você fica pensando em como o preconceito e o bullying pode fazer tanto mal para uma pessoa. Como a sociedade critica e julga sem conhecimento de tudo aquilo que sai do “tradicional” para uma determinada cultura.
A história apresenta uma discussão do que é considerado Belo, segundo um padrão de beleza imposto pela sociedade.
Quem nunca ouviu que uma mulher deve se sentar de pernas fechadas, que deve estar sempre bem maquiada, arrumada e bem vestida. Se você for mulher já ouviu muito isso quando criança e se não seguiu as regras quando adulto sofreu discriminação nas ruas, estou certa?
Nós como seres humanos evoluídos temos o dever de analisar o que está em nossa volta, de parar um pouco de somente consumir mídia e refletir qual a mensagem subliminar que a história está tentando passar.
Como publicitária posso afirmar que nenhum escritor vai escrever uma história do além, geralmente eles se baseiam em algum fato real para terem referências das características que os personagens terão. E assim, apresentem uma crítica sobre algo que eles possuem e apresentar ela de uma forma sutil para a sociedade.
Para entender melhor os temas abordados no filme preparamos uma pequena sinopse do filme “a leoa” para você ficar por dentro de história, junto com o seu trailer oficial (SEM SPOILER).
SINAPSE
Nascida no inverno norueguês, Eva (Mathilde Thomine Storm) desde o seu nascimento sofreu com a rejeição de sua família devido o preconceito por possuir uma doença rara que aumentava o crescimento de pelos em todo o seu corpo.
Eva nasceu isolada da sociedade e ainda quando criança terá que enfrentar a opinião pública de seu vilarejo e encontrar uma forma de superar o preconceito e realizar os seus sonhos.
TRAILER DO FILME
Ficha Técnica
Título original: Løvekvinnen
Ano: 2016
Produção: Filmkameratene AS
Direção: Vibeke Idsøe
Elenco: Mathilde Thomine Storm, Ken Duken, Nils Jørgen Kaalstad, Burghart Klaußner, Lars Knutzon, Lisa Loven Kongsli, Rolf Kristian Larsen, Rolf Lassgård
Gênero: Drama
Nacionalidade: Noruega
SOBRE A DOENÇA: hipertricose congênita
A hipertricose também conhecida como “síndrome do lobisomem” ou “síndrome de ambras”. A síndrome possui como principal característica o crescimento excessivo de pelos por todo o corpo, exceto nas regiões da mucosa, das palmas das mãos e planta dos pés.
Atualmente a doença não possui tratamento. O que pode ser feito é a retirada dos pelos excessivos temporariamente, através de aparelho de barbear, cera quente, depilação a laser e etc.
Devido ao preconceito e o isolamento social que as pessoas com a hipertricose sofrem, elas podem vir a desenvolver distúrbios psicológicos e sociais.
BULLYING E O PADRÃO DE BELEZA
“Bullying é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executadas dentro de uma relação desigual de poder.” Wikipédia
Não se tem registro de quando surgiu a prática do bullying, pois antigamente era confundido como uma “brincadeira de mau gosto” que tinha como objetivo inferiorizar alguém que possuía uma característica especial, como uma deficiência física, mental ou genética.
O bullying geralmente está ligado às questões estéticas do que é considerado belo perante a sociedade. Em todas as cidades, estados e países é estabelecido uma silenciosa convenção do que é considerado um padrão de beleza para aquela região, tanto para a aparência das pessoas, quanto para qualquer coisa que possa simbolizar o status financeiro.
OS FATOS REAIS
Partiremos que você concorda com o que foi dito anterior, sobre a definição de hipertricose, bullying e padrão de beleza. Agora vamos fazer um exercício da empatia, vamos nos colocar no lugar de outra pessoa. Vou contar a história de três pessoas que nasceram com essa doença e no decorrer de suas vidas vieram a sofreram com o preconceito.
Pedro Gonzales
Nascido em 1537, na cidade de Tenerife na Espanha, Pedro Gonzales tinha hipertricose e por isso ganhou a reputação de ser uma “wildman”, que vindo da mitologia medieval europeia descrita como uma pessoa que nasceu meio homem e meio animal.
Sua história toma um novo rumo diferente quando Pedro foi presenteado ao rei Henrique II da França, em meados do século XVI, como um wildman enjaulado à disposição do rei. O rei adorou o presente e o manteve em seu calabouço em que eram examinados por médicos e acadêmicos para descobrir se ele era mesmo um homem selvagem. Com o passar do tempo às pesquisas apresentaram que ele era somente um menino de 10 anos de idade, com uma quantidade excessiva de pelos pelo corpo.
Neste tempo as pessoas com irregularidades físicas eram tratadas como símbolo do status financeiro de famílias ricas. Foi graças a sua excentricidade que Pedro foi educado como um nobre e manteve a forma latina de seu nome: Petrus Gonsalvus.
Em 1559, o rei Henrique II morreu devido a uma lesão sofrida em um torneio de justa, deixando-o com a viúva Catherine de Medici. Que desejava ter mais “wildman” a sua coleção e decidiu que Petrus deveria se casar e para isso escolheu a filha de um servo da corte para ser sua esposa, que também se chamava Catarina. Tanto ela quanto Petrus não se conheceram até a cerimônia de casamento.
Com o passar do tempo Catarina foi se apaixonando por Petrus por sua gentileza e educação. Mas como foi determinado pela rainha, Petrus e Catarina precisavam ter filhos para que ela possa ter mais “wildman”, porém seus dois primeiros filhos não nasceram com as características de seu pai. Para alívio da rainha Catherine de Medici eles tiveram mais dois filhos e três filhas com hipertricose.
Cada vez mais a família de Petrus ganhou mais popularidade e foi autorizado a fazer uma viagem pela Europa e viver com outros nobres. Logo a família decidiu criar raízes na Espanha, pois foi à região que foram mais bem tratados. No entanto, seus filhos com hipertricose foram dados pela rainha como presentes para outras famílias ricas.
Petrus veio a falecer em 1618 e ainda teve negada a sua unção ao leito de morte devido à sua aparência, ou seja, ele não poderia ser enterrado em um cemitério consagrado.
Existe estudos que afirmam que a história da Bela e a Fera foi baseado na história de casamento de Pedro e Catarina. Se você quiser saber mais sobre as transformações ocorrida na história que virou conto de fadas recomendo a leitura do livro “A bela e a Fera”, da editora Zahar, que apresenta as diversas variações junto com seus motivos da época.
Julia Pastrana, a mulher macaco
Julia Pastrana nasceu no México, em 1834. Julia também tinha hipertricose, porém ela também possuía orelhas grandes, gengivas inchadas e mandíbulas maiores, que na época, chegaram a cogitar que ela teria duas fileiras de dentes.
Com a infelicidade do destino Julia se casou com o explorador e comerciante Theodor Lent, que se aproveitava se sua forma física para vender ingressos para um “show de horrores”. Depois de um tempo Julia teve o seu primeiro filho, o qual não sobreviveu ao segundo dia de vida. Julia veio a falecer depois de três dias após a morte de seu filho por causa de complicações do parto em que o seu marido não fez questão de lhe ajudar.
Mesmo após a sua morte seu marido ainda continuou a explorá-la, ele embalsamou o corpo de Julia e de seu filho e colocou a exposição. Por fim ele vendeu o corpo deles para uma instituição de pesquisa. Porém somente nos dias de hoje que Julia e seu filho puderam descansar, pois eles foram enterrados no Instituto Forense de Oslo, na Noruega.
Supatra Sasuphan, a menina lobo
Considerada pelo Guinness World Book, o livro dos recordes, como a garota mais peluda do mundo. Supatra nascida na Tailândia possui pouco mais 10 anos de idade e vive atualmente com os seus pais no sudeste asiático.
Supatra ainda está viva e por isso não irei fazer especulação sobre a sua vida, mas irei deixar abaixo a terrível matéria em que ela foi entrevistada e apresentaram a sua história de um jeito que reverta em pontos de audiência para o canal. Lembrando que antigamente eram os ingressos do “show de horrores” que faziam esse papel.
Repare também como ela trata todo esse sensacionalismo jornalístico com naturalidade, como se fosse algo comum. O que para uma criança de pouco mais de 10 anos é assustador.
Se você ficou tão incomodado quanto eu com esse tema, compartilhe esse artigo para seus amigos e conhecidos assim mais pessoas possam repensar a forma com que agem e lutarmos todos juntos para que essas pessoas sofram menos com o preconceito.