Se não for para casar eu nem vou

Marcelle Xavier
Love Hacking
Published in
5 min readApr 27, 2016

No auge dos meus 28 anos tem se tornado recorrente na minha vida ouvir das pessoas uma frase que apesar de aparentemente inocente (e até sinal de maturidade), pode estar na realidade corroborando com uma mentalidade que dificulta as relações. A tal frase começa com “eu não vou namorar qualquer um” e muitas vezes termina com “eu já estou em uma idade em que quero namorar a pessoa com quem irei me casar”. Parece que tem se tornado habitual (para homens e mulheres), o pensamento de “se não for para casar eu nem vou”. Mas será que essa atitude pode ocasionar um problema? Se sim, porquê? É sobre isso que eu me dispus a refletir nos últimos 2 meses quando uma amiga me propôs o tema desse post.

Se não for para casar eu nem vou

Primeiramente gostaria de explicar o que está por trás da frase tema desse post. Essa mentalidade que se inicia com a frase “se não for para casar eu nem vou”, muitas vezes se estende a “se não for para namorar eu nem vou”e até para “se não for para ficar direito eu nem vou”. E acho até mesmo que essa é uma postura natural, que reflete a insatisfação de muitos de nós em viver as relações líquidas e superficiais que temos experimentado por aí.

Porque eu vou ficar com essa pessoa hoje, que eu sei que não vai me acrescentar em nada e eu mal irei me lembrar dela daqui 1 semana? Porque eu vou continuar ficando com uma pessoa que eu não namoraria? E ainda, porque eu vou continuar namorando com uma pessoa que eu não me vejo casada? Questionamentos legítimos e naturais na minha opinião.

as vamos refletir sobre isso com algumas contraperguntas: quem disse que essa pessoa com quem vou me relacionar hoje não irá me acrescentar em nada (mesmo que talvez seja apenas por uma noite)? Como vamos saber se namoraríamos com alguém se não dermos uma chance para nos conhecermos e nos conectarmos? Porque você julga que alguém com quem você se relaciona não seria “casável”? Gostaria de compartilhar algumas reflexões que fiz nos últimos meses que me levaram a uma mudança de consciência a respeito do “se não for para casar eu nem vou”.

Status de relacionamentos são uma espécie de ilusão

Esses dias parei para pensar que status de relacionamentos são rótulos que usamos para dizer ao mundo sobre como é o funcionamento da nossa relação. Mas toda relação amorosa é muito mais que o rótulo a que ela representa, e se tomamos nossas decisões com base na nossa busca por um rótulo não estaríamos tomando decisões com base em ilusões?

A partir do momento que eu afirmo que só vou continuar me relacionando com uma pessoa se eu acreditar que posso atingir um status X de relacionamento, eu poderia estar limitando as minhas relações amorosas a nada mais que padrões. Porque eu não poderia ficar com uma pessoa mesmo sabendo que o nosso encontro pode durar pouco mais que um instante? Não seria assim todo encontro de amor?

Em um vídeo da musa guru maravilhosa Márcia Baja tive várias mudanças de consciência sobre relacionamentos. Um dos conceitos que ele traz é que por mais que a gente tente eternizar o amor através de status de relacionamentos e felizes para sempre, todo encontro de amor é fluido. Se entendemos que nós não somos seres estáticos, e as pessoas com quem nos relacionamos tampouco, entendemos que é muito difícil planejar ou eternizar uma relação. Portanto, quando buscamos nos relacionar com pessoas com a motivação do que aquela relação pode vir a ser nos aprisionamos, e quando nos aprisionamos ficamos tão sérios e pesados que fica muito difícil se conectar.

Excesso de seriedade

Mas afinal o que seria estar sério demais? Minha tia (outra das minhas gurus) costuma pegar no meu pé porque uso muito nas minhas frases o termo “tenho que”. Principalmente quando eu quero muito atingir algum objetivo faço uma lista muito extensa sobre o que eu “tenho que” fazer para atingi-lo, e acabo ficando tão pesada com aquilo tudo que me esqueço que nem tudo é planejável e que na realidade eu não tenho obrigação de fazer nada.

Parece clichê, mas a verdade é que quando planejamos demais não deixamos espaço para o implanejável, para o caos, para o que nem mesmo poderíamos pensar com toda a nossa racionalidade. Revendo um pouco a minha vida identifiquei que a maioria das vezes que me apaixonei foi em momentos em que eu não estava tão preocupada com o que aquilo daria ou até mesmo por pessoas que muito provavelmente não estariam na minha lista de prioridades. Pessoas que se eu não estivesse leve o suficiente para deixá-las entrar na minha vida e conhecê-las melhor eu não teria me relacionado. E aí entra o próximo tópico:

Dificuldade de olhar para as pessoas

Toda vez que revivemos o conceito de “se não for para casar eu nem vou”, ou seja motivamos nossas decisões de desistir de uma relação com base na desqualificação de uma pessoa para atingir um status de relacionamento, temos muita dificuldade de olhar para o outro. A Márcia Baja traz esse entendimento ao dizer que o primeiro encontro de amor tem um brilho porque não traz consigo expectativas. A expectativa sobre o que aquela relação pode vir a ser nos leva a perder aquela abertura inicial, a perder o outro de vista, a avaliá-lo, qualificá-lo e tentar encaixá-lo nos nossos padrões. E sem ver as pessoas com quem estamos nos relacionando fica muito difícil se conectar, e consequentemente se relacionar.

“ A gente não planeja o primeiro encontro, ele é completamente espontâneo. De onde então surge a ideia que a gente pode controlar o segundo? A gente podia ter a confiança que os encontros se dão até onde devem acontecer, até onde o campo é útil um pro outro.”

Não acho que decidir o que a gente quer e tomar decisões com base nisso seja um problema, muito pelo contrário. Mas o que tenho entendido nos meus estudos e nas minhas experiências é que vivemos em um mundo cada vez mais fluido, e que toda vez que nos damos a liberdade de quebrar com certos padrões sobre como as coisas devem ser deixamos a energia fluir. E quando deixamos essa energia fluir aí sim vivemos momentos de leveza, prazer, conexão, troca e crescimento. Muito mais que segurança, estabilidade e certezas, não seria essa troca, que independe de status de relacionamento, aquilo que essencialmente buscamos em nossas relações? Para finalizar o post gostaria então de te fazer um convite, uma reflexão sobre o porque nos relacionamos. Afinal só quando temos isso em vista conseguimos hackear o amor e viver melhores relações. Mas esse será o tema de um próximo post.

--

--

Marcelle Xavier
Love Hacking

"Use your art to fight" Desenho experiências que permitem que pessoas e relacionamentos se desenvolvam. Facilitadora | Experience Designer| Love activist