A Esperança que sabe antes mesmo de esperar.

Quando “sair do plano” pode fazer parte do Plano.

Luana Reis
Releituras da Vida
6 min readJul 19, 2020

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Você já se deparou com alguma situação aparentemente insolúvel e se viu extremamente angustiada(o), ansiosa(o), desesperançosa(o)?

Essa era (quase) eu na sexta passada.

Meu carro (que não é mesmo muito novinho) estava dando sinais de falência orgânica.

Como sou médica, falo de carros como se fossem pessoas, inclusive ele tem nome: Bundinha.

Não sei se você tem hábito de dar nomes aos objetos. Sei que não parece ser algo muito normal, mas por alguma razão tendo a achar pessoas que nomeiam objetos mais confiáveis haha. Uma conclusão nada científica, claro.

Bem, mas sobre o Bundinha. Ele vinha de mal a pior, e eu estava esperando chegar mês que vem para colocar ele na oficina e fazer “aquela” revisão, sabe como é né? Carros também precisam de check-up. Nesse caso, ele precisava de um tratamento mesmo.

Mas assim como doenças crônicas mal controladas, se nada for feito, cedo ou tarde acontece alguma complicação aguda.

E foi assim que, há uma semana atrás, na sexta pela manhã, antes do meu turno de trabalho que se iniciava às 10h, eu estava no centro da cidade resolvendo algumas questões pessoais quando algo inesperado aconteceu...

De acordo com o meu planejamento otimista, se tudo corresse bem, até sobraria um tempinho com folga após fazer todas as tarefas, mesmo com a longa distância percorrida entre um ponto e outro.

Mas…

Às vezes a vida sai do planejado, não é mesmo?

Há quem diga que sair do planejado é ruim, é um desvio de rota.

Mas eu me pergunto:

Será que não seria eu que estou vendo a minha rota meio torta?

Será que um “aparente desvio” não seria um livramento de algo pior? Ou não seria simplesmente a vida seguindo seu fluxo natural?

Perguntas complexas e filosóficas…

O fato é: eu ainda precisava voltar pra casa, pegar minhas coisas e ir para o trabalho, e estava com o carro parado, há quase 15 km de casa, trânsito engarrafado, precisando me deslocar, se não iria me atrasar.

Girei a chave, acionei todos os macetes que sabia (pisar na embreagem, no acelerador), e o carro não pegou.

Tentei. Tentei. Não pegou.

Não era a primeira vez. Mas das outras funcionava na insistência. Dessa vez não tava indo mesmo.

Consegui auxílio na mesma rua em que estava estacionada, tentamos a famosa “chupeta”. Eu estava esperançosa, mas não pegou.

Andei então até o posto de gasolina logo na esquina do mesmo quarteirão, apesar de acreditar que ainda tinha gasolina no carro, eu precisava tentar tudo o que eu estivesse ao meu alcance até me dar por vencida.

Coloquei manualmente a gasolina no carro, através de um galão, e rezei forte.

Pensa numa reza brava. Tipo fervorosa. Tipo “segura na mão de Deus e vai”.

E abençoadamente o carro PEGOU.

Cuidei de por mais gasolina no caminho e parti apressada para casa.

Avisei à enfermeira da minha equipe que iria atrasar um pouco e tive que abrir mão de algumas tarefas que desejaria ter feito se tudo tivesse saído conforme o “tal planejado”.

Estacionei em casa e, com agilidade peguei tudo que precisava para o trabalho.

Entrei no carro, virei a chave. Suspirei.

Não pegou. E tentei. Tentei. E… não pegou mesmo.

É tempo de aceitar quando a intervenção cirúrgica é indispensável e, até mesmo, urgente. Bundinha precisava de internação na ala de cuidados intensivos, e eu precisaria de uma prótese, digo, de um uber para o trabalho.

Quando já estava pensando que só poderia resolver as questões de saúde do Bundinha no dia seguinte (sábado), quando eu não estaria trabalhando, minha vizinha e amiga veio em meu auxílio e disse:

Pode deixar comigo! Sei de um mecânico confiável aqui perto e ligarei pra ele vir buscar o seu carro pra o conserto ainda hoje.

Com um sorriso no rosto e nos olhos aceitei prontamente.

Cheguei no trabalho atrasada nada mais nada menos do que 40 minutos!

Muitos pacientes estavam aguardando. Um deles inclusive estava em quadro mais urgente. Era sexta feira. Semana pesada. Estresse a mil. Coração até palpitava. Cabeça começou a doer.

Como eu vou fazer para conduzir esse dia até o final, meu Deus?

E, mais uma vez, veio uma mão amiga. A gerente percebendo e compreendendo prontamente meu contexto e tudo o que se passava em meu íntimo, solicitou a alguns pacientes não urgentes, que ainda aguardavam na fila, que retornassem no próximo dia, devido a alta demanda de casos suspeitos de COVID naquela manhã (o que também era verdade).

Esses são apenas alguns fatos de uma historia que ainda foi marcada por mais “mãos amigas” estendidas em meio a turbulência dessa trajetória.

Em meio a tantas atribulações, venci o dia! Eu havia conseguido contornar os principais obstáculos. Amém!

Diante todos esses acontecimentos, percebi que eu poderia ter me frustrado. Eu cheguei a me frustrar em um primeiro momento, na verdade. E em um segundo, também, talvez. Confesso.

Eu poderia ter dito a mim mesma que aquilo tudo era fruto de um grande azar. Que eu tinha sido acometida por uma situação desfavorável. E eu cheguei a pensar isso, por alguns instantes. Instantes estes um pouco mais longos do que eu gostaria de admitir.

Mas… será mesmo?

Respirei fundo. Sentei confortavelmente em meu sofá, ao final do dia, e procurei buscar por outra perspectiva, uma outra forma de ver aquela situação.

Em meio há tantas dificuldades, não me faltou em nenhuma etapa o socorro necessário para continuar seguindo, para encontrar um saída.

Ao perceber isso, enchi-me de esperança. Esse insight me trouxe leveza. Deixe ser, deixe estar. Tudo está realmente em seu lugar.

E, para minha alegria genuína, dentro de alguns dias, Bundinha finalmente recebeu alta curado, após ter recebido o tratamento adequado. A cirurgia foi difícil mas foi efetuada com sucesso por um cirurgião renomado na região. Digo, um mecânico muito competente e bem indicado.

Foi assim que refleti mais profundamente. As curvas não são, necessariamente, desvios no caminho.

Talvez elas representem o gingado de cada passo do caminho, que exige uma dança, um jogo de cintura, uma habilidade de equilíbrio entre pratos e petecas que devemos nos empenhar para não deixar cair.

E que possamos fazer a parte que nos cabe e, feito isso, que consigamos entregar ao universo a parte que não cabe a nós, mas sim ao outro, à vida, às circunstâncias.

A Vida tem uma sabedoria em sua essência, que nos conduz assertivamente em nosso percurso. Pelo menos eu acredito nisso.

Saibamos percebemos as placas, as setas e os sinais do caminho.

Manter o ritmo, a tenacidade, a resiliência, a esperança.

Afinal, o que é ter esperança?

Esperança talvez não seja simplesmente esperar dias melhores no futuro…

Quem sabe esperança não seja também o esforço em ver o melhor em cada dia vivido no momento presente? Mesmo quando estivermos atribulados?

Olhando agora para dentro de si, diante das situações que você possa estar enfrentando em sua vida neste momento:

Seria possível oferecer uma nova visão, uma nova perspectiva para essas situações de crise de modo a trazer esperança ao seu coração?

Bem, isso são apenas algumas reflexões baseadas em minhas vivências. E você? O que pensa sobre?

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Luana Reis
Releituras da Vida

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.