Ansiedade! A dor diante de batalhas que talvez nunca se tornem reais

Prazos! Metas! Tarefas! Estresse! O futuro…! Como lidar?

Luana Reis
Releituras da Vida
11 min readSep 15, 2019

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Na próxima segunda, dia 16/09/19, será a prova final do meu atual ciclo de internato, de Urgências e Emergências. Durante os últimos dois anos do curso de Medicina na UFMG (9° ao 12° período), mudamos de ciclos de internato a cada 3 meses e, ao final de cada um desses blocos, há sempre essa prova final, que consiste em uma prova prática, muito “singela” e “especial”: o OSCE.

Estou no 11° período, então já tenho alguma experiência com essa prova (já realizei 4 OSCEs). Contudo, a ansiedade é quase sempre a mesma…

Permita-me explicar brevemente como funciona esse método avaliativo. Acredito que você irá entender onde desejo chegar.

O conteúdo cobrado é referente a todo aquele ciclo de 3 meses, de acordo com a especialidade ou área médica em questão: clínica médica, pediatria, cirurgia, ginecologia e obstetrícia, urgências e emergências (o meu atual), etc.

Essa prova consiste em 5 questões, cada uma posicionada em uma estação. Em cada estação, há um papel colado na porta, ao lado de fora, contendo um caso clínico e algumas questões a serem respondidas. Cada aluno terá 1 minuto para ler a questão, até o som de um apito soar (agudo e apavorante; capaz de desencadear um reflexo condicionado mesmo em indivíduos mais tranquilos), indicando que é o momento de abrir a porta.

Dentro da sala, você poderá encontrar um(a) ator/atriz que será seu paciente, juntamente a um professor que irá avaliar suas ações, posturas, condutas e decisões. Você terá 5 minutos para solucionar a questão, até o apito soar novamente, indicando que está na hora de sair da sala e ir para a próxima questão. Com sorte, algumas questões não contam com a participação de atores, estando na sala apenas o professor que será o seu avaliador.

O que achou disso? Pareceu confortável?

Seria cômico se não fosse trágico.

Bem… e isso ainda não é tudo.

Antes de ser a sua vez de realizar a prova, todos os alunos ficam confinados, semelhante a uma quarentena, em uma sala da faculdade, no oitavo (último) andar, sem acesso a qualquer equipamento eletrônico. Antes de entrar, somos analisados por um detector de metais. Temos direito a levar apenas resumos e anotações em papel, um lanche, um jaleco, uma caneta, nosso conhecimento a nossa coragem.

Ao chegar na “sala de quarentena”, somos previamente alocados em grupos, de acordo com a lista de nomes, os quais serão chamados de 15 em 15 alunos para fazer a prova. Trocas casadas são permitidas.

Graças a Deus, a ida ao banheiro é liberada, pois em situações assim, os meus rins funcionam em velocidade acelerada e, considerando que a capacidade da minha bexiga não é das maiores, acabo precisando recorrer a esse recurso uma ou duas vezes durante a espera, haha.

Durante os vários minutos angustiosos aguardando (que pode ser mais ou menos, de acordo com a sua ordem na fila), muitos de nós pegamos nossas anotações/resumos e tentamos revisar alguma última informação relevante, algum sopro consolador dentre os conteúdos estudados, ou, até mesmo, alguma dica mágica por parte de algum colega…

Até que, finalmente: é chegada a hora! Seu grupo é chamado. E agora?

Soa o apito! “E que comecem os jogos.

Do filme “Os jogos mortais”

Às vezes me pergunto se é assim que os professores se sentem. Hahaha mas sei que pode ser só minha mente delirando.

Caso você nunca tenha vivenciado uma experiência semelhante a esta, pense em algum evento ou desafio que você já tenha enfrentado ou esteja enfrentando atualmente em sua vida.

Como seu corpo responde a isso?

E… talvez até mais impactante…

Como sua mente responde a esse tipo de estímulo?

Situações como essas, deflagram uma série de respostas e reações. Algumas delas muito bem conhecidas.

O sistema nervoso simpático, responsável pela “luta ou fuga” logo está ativado, como se, a qualquer momento, precisássemos correr loucamente de algum leão ou urso! É como se alguma parte primitiva de nosso cérebro entendesse que nos encontramos em pleno estado de natureza! Lutando por nossa sobrevivência!

Será que estamos?

Diante de situações como essas, posso notar e sentir os sinais e sintomas de ansiedade, quase palpáveis, que afloram em mim!

PENSAMENTO ACELERADO. Vontade de comer doce. Tenho que estudar! Vontade de pegar o celular sem motivo… olhar as redes sociais. Mas tenho que estudar! Vontade de ver séries no Netflix sem parar. Sair com os amigos a algum bar. Vontade de tomar café. Vontade de dormir. De não fazer nada. Mas… e as tarefas?

PROCRASTINAÇÃO! Aquela vontade enorme de fazer qualquer coisa, menos a tarefa dolorosa que realmente deve ser feita… mas eu não quero encará-la!

MEDO! Medo de dar errado! De não dar tempo… de ser algo grave!

Até parece que, quando não nos proporcionamos momentos de lazer ou descanso saudáveis, nossa mente e nosso corpo buscam avidamente por outras formas de aliviar aquela tensão.

Em processos depressivos, um sintoma marcante é a ausência de vontade de fazer qualquer coisa (inclusive aquelas que nos são prazerosas), também chamada de anedonia. Assim, a depressão por vezes é chamada de “doença da vontade”.

Refletindo melhor, percebi que a ansiedade, por sua vez, também apresenta um distúrbio ou desregulação da vontade. Esse processo é o que eu batizei de “Disnedonia”. Essa palavra, aparentemente inventada (sim, eu digitei ela no Google e não encontrei nada), consiste no distúrbio da vontade, alteração do autocontrole diante de nossos próprios desejos. Ora ele está aumentado. Ora diminuído. Ora impulsivo. Ora paralisado.

E os pensamentos não paramnão param

A prova do OSCE não foi a primeira vivencia a me desvirginar com relação ao medo diante de circunstâncias desafiadoras!

Será que vai dar tudo errado? – minha mente insiste em questionar

Lembro das vezes que mudei de colégio, na infância, e cheguei em um ambiente totalmente novo, sem conhecer ninguém: alguém vai gostar de mim aqui? Vou conseguir me adaptar?

Ou as primeiras vezes que fui apresentar um trabalho em público: será que vai me dar um branco? Será que vou passar vergonha?

O primeiro amor. A primeira vez que eu disse “eu gosto de você” ou “eu te amo”. O primeiro beijo…

Até mesmo o primeiro término de relacionamento… as inseguranças, os abalos de autoestima: alguém vai gostar de mim assim de novo?

O processo seletivo para o CEFET-MG… o vestibular para medicina: será que vou ser capaz de atingir a pontuação suficiente?

Quando algum familiar adoeceu: será que é grave? Será que vai melhorar?

São tantas situações que precisamos enfrentar a cada dia. Leões metaforicamente criados, domados e alimentados por nós, por nossa imaginação, por nossos pensamentos compulsivos e ininterruptos.

A mente não para. Não para. Logo começa o jogo do “e se isso acontecer … será que vai dar certo? Será que vai ter jeito?”

AH! PARA! Uma pausa por favor!

Paro uns segundos. Respiro. Esvazio a mente.

Após algumas reflexões ao longo das últimas semanas, principalmente pela mudanças e eventos que estão por acontecer (ou já aconteceram) em minha vida, percebi 3 insights com relação à minha própria ansiedade (destaco isso por acreditar que é um processo muito individual).

Decidi compartilhar com você, afinal, quem sabe algumas dessas reflexões não poderiam também lhes ser igualmente úteis?

Insight 1: o sofrimento que eu tenho HOJE, devido à dor do AMANHÃ, não resolve meu problema do AMANHÃ, mas pode piorar meu bem estar HOJE!

Diante desse insight, eu paro e me pergunto:

Quanto sofrimento empreendido em batalhas que talvez nunca se tornem reais?

Quantas situações foram criadas em nossa mente… projetamos a dor, as consequências… antecipamos o que está por vir! Morremos de medo de como será!

Mas… quando chega o momento angustiosamente esperado, quantas dessas vezes aconteceu de fato aquilo que temíamos?

Ou então, quantas dessas situações foram, simplesmente, totalmente diferentes daquilo que imaginávamos no começo?

E não é só isso!

Quantos momentos nós perdemos, no presente, quantos prazeres reais, disponíveis para nós, nós deixamos de desfrutar, no AQUI e AGORA, por nossa mente estar focada nesse futuro que ainda não chegou?

Parei por alguns instantes.

Observei em meu redor com mais calma e me dei conta das pequenas belezas e alegrias que passam por mim, a todo tempo, no dia-a-dia, mas eu não vejo, não percebo, não sinto, não observo.

Pôr-do-sol na Serra da Piedade – MG

Aqui estou… em busca de pequenas pausas para desfrutar o momento PRESENTE.

Uma flor. Um sorriso. Um abraço. Uma leitura.

Naquele momento, tudo para. Um instante exato em que os problemas não existem.

Um local seguro em minha mente.

Esse exercício desajeitado, às vezes frusto, às vezes confortador, de focar a mente no momento do AGORA, chamado por alguns de Mindfulness, proporcionou-me diversos momentos de alegria e paz. Não é simples, requer esforço. Ainda estou progredindo nisso, mas as tentativas valem a pena.

Muito do que sei sobre isso, aprendi no livro “O poder do Agora – Eckhart Tolle”. Esse livro foi um dos que mais me marcou, por isso já citei ele em vários textos prévios (como no texto: “Sobre viajar e se entregar totalmente àquele momento”).

Insight 2: “Eu não preciso decidir isso hoje”

No meio do ano que vem (julho/2020), eu irei formar em Medicina. Depois de tantos anos em minha vida sendo, simplesmente, acadêmica, só de pensar em ser médica formada, com um carimbo na mão, uma série de responsabilidades e obrigações, já me dá aquele frio na barriga!

E minha mente já segue aquele fluxo: “Será que vou conseguir um bom emprego? Será que vou passar na residência que eu desejo? Será que…vou ter sucesso?”

Porém, ainda faltam 9 meses (estou há “uma gestação” de me formar e “me parir” médica haha)! E por mais que pensar sobre isso, preparar-me para o que estar por vir, seja sim importante… até que ponto?

Qual é a dose ideal sobre pensar no futuro?

Difícil dizer. Mas acredito que a “dose ideal” é aquela que te estimula hoje, te guia, mas não te paralisa, não te impede de desfrutar os prazeres de hoje, do momento presente.

Em outras palavras:

Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal. – Mateus 6:34

Sim, falar é fácil. Não nego.

Contudo, percebi que o ato de trazer esse insight a nível da consciência, ajudou-me em algumas situações, a acalmar o coração, calar a agitação mental, e nutrir-me de paciência.

Paciência.

Paciência é uma virtude do ser humano baseada no autocontrole emocional, ou seja, quando um indivíduo suporta situações desagradáveis, injúrias e o incômodo de terceiros sem perder a calma e a concentração. – retirado de algum dicionário online.

Quem mais achou essa descrição quase utópica aqui? Haha. Sim, enfatizo novamente. Saber na teoria não implica que seremos capazes de executar.

Entretanto, acredito que o esforço consciente de moldar nossas ações e nossos sentimentos, diante dos desafios da vida, a partir do que aprendemos racionalmente, representa o primeiro passo no caminho em direção ao progresso.

A cada dia, um novo passo.

Insight 3: Quando seu corpo fala, você escuta com atenção?

Essa semana, estou com amigdalite. Dor de garganta, dor de cabeça, mal estar… fica difícil dormir, estudar, fazer atividade física…

Até precisei voltar pra casa mais cedo do plantão na UPA, na quarta (11/09/19), pois não estava conseguindo ter energia e disposição para o trabalho.

Diante do turbilhão de mudanças e acontecimentos que estão por vir (a prova do OSCE, o internato rural, questões familiares…), essa é uma das formas que o meu corpo habitualmente utiliza para expressar que eu não estou respeitando os meus limites. Somatização. Meu corpo sente e exterioriza.

E me alerta: “Hey, olhe aqui para dentro! Há algo que você precisa prestar atenção aqui!”

Eu então me questiono:

Como posso lidar melhor com situações como essas? Quais são as minhas válvulas de escape? Os meus mecanismos de defesa? Quais são as estratégias protetoras nesse turbilhão de sentimentos, pensamentos, cobranças?

Olhei para dentro. Observei minha vida. Meus hábitos. Minhas aspirações.

Percebi, assim, que de uma forma desajeitada e imperfeita, ao longo de todos esses anos, e todos esse desafios, pude aprender algumas estratégias e desenvolver mantras pessoais que puderam me proteger de mim mesma, e aliviar minha ansiedade.

Essas ferramentas me ofertaram alguns momentos de paz, de calmaria, mesmo diante da agitação da vida.

Vamos combinar uma troca. Primeiro, convido-lhe a observar em você:

Quando a ansiedade lhe acomete, quais são as estratégias que você busca para se acalmar?

Quais dessas funcionam melhor pra você?

Feito isso (eu espero, hehe), vou te contar o que eu faço hoje (ou tento fazer) para trazer a calmaria.

Algumas das estratégias eu explico melhor no texto: Como lidar com dias que estamos mais “pra baixo” (clique para ler).

Basicamente são elas: atividade física; meditação/oração; leituras que acalentam o coração ou distraem a mente; tomar um banho relaxante; estar com pessoas que eu amo; ver um bom filme; observar uma bela paisagem sem pensar em mais nada; descansar verdadeiramente/ dormir. Dentre todas essas, talvez a mais importante seja: respeitar os limites do meu corpo e me permitir experienciar as situações descritas acima.

E você? Tem olhado para dentro? Tem respeitado os seu limites? Tem se permitido pequenos momentos de alegria em meio à agitação da vida?

Acredito que não há respostas prontas para isso. Não há manual de instruções. O que funciona para mim, pode não funcionar para você.

Não há como “escapar”, esse processo requer autoconhecimento. Autorreflexão. Esforço pessoal.

Não há como dar grandes passos de uma só vez. O progresso deve ser medido em pequenas vitórias diárias.

E que possamos manter esse brilho no olhar, esse desejo de “chegar lá”.

Vamos juntos? – como costumamos dizer no GEDAAM

E você, como tem lidado com a sua própria ansiedade? Eu adoraria saber! O que acha de compartilhar comigo algumas de suas estratégias?

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Luana Reis
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Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.