Categorias e classes a parte: somos todos igualmente humanos.

Feitos da mesma espécie — de carne e osso. O que nos diferencia então?

Luana Reis
Releituras da Vida
6 min readMar 14, 2021

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Você já julgou que algumas pessoas seriam aparentemente “superiores” ou “melhores” que a média dos demais por possuírem algum “talento especial”, assumirem alguma posição/cargo, ou até mesmo por terem conquistado algo?

Bem, não sei como você observa isso… mas me parece que nossa sociedade tem uma forte tendência de reproduzir esse tipo de categorização das pessoas.

O que você pensa sobre isso?

Antes de dizer mais a fundo minha visão sobre o assunto, gostaria de te contar a história que me inspirou a esta reflexão.

No início da última semana, fui surpreendida com um convite muito especial que alegrou meu coração e, porque não admitir, acariciou também meu ego.

Uma colega, que atualmente faz Medicina na UFMG (onde eu me formei), veio até mim no WhatsApp com um singelo convite, para ser palestrante em um evento online, cujo tema sugerido para a palestra seria sobre Inteligência Emocional e Formação Pessoal.

A princípio, sem saber muito sobre o evento ainda, na empolgação eu já aceitei. Aprecio e me interesso muito pelo tema, assim, seria algo que eu me alegraria em estudar e aprender mais, a fim de organizar o conhecimento e torná-lo mais didático para a apresentação.

Quis saber primeiro porque eu tinha sido escolhida para tal tema, se alguém havia me indicado. Ela me disse que ela mesma quis me indicar, pois já tinha visto algumas palestras minhas na época de faculdade, abordando o tema de produtividade e saúde mental, e pensou que eu poderia me sair bem no novo tema sugerido.

Aceitei o desafio com satisfação e, então, quis saber mais sobre o evento. Afinal, precisava saber para qual tipo de público eu estaria falando.

Foi aí que veio a surpresa.

Seria um evento voltado para médicos e estudantes de medicina, envolvendo parcerias e palestrantes a nível nacional e internacional. Quando procurei saber melhor os outros palestrantes que estariam no evento, disse a ela:

“Puxa! Acho que não estou “nesse nível”! Sou uma simples humana! — disse a ela
Será que vou dar conta? — pensei comigo mesma.

Ela sorriu e respondeu simplesmente:

A verdade é que todos somos simples humanos.

Nossa… resposta simples. Porém, ecoou na minha mente por dias.

Não sei se você se identifica com o que vou dizer, mas … já percebeu como nos comparamos com os outros com frequência?

Sem nem perceber, acabamos por categorizar pessoas em “níveis”. Como se alguns estivessem em níveis de “maior competência” e outros de “menor valor”.

Será mesmo?

Confesso que abordar esse assunto por si só já é um pouco delicado e gera em mim certo desconforto, mas considero essa tema muito relevante e quero seguir com essa reflexão, junto com você. Afinal, se observamos com atenção, perceberemos que ele está presente nas relações humanas de forma ampla.

Vou estender essa reflexão para algo que vivencio diariamente. Falando de forma aberta com você, em nossa sociedade, algumas profissões recebem mais glamour e status do que outras, não é mesmo?

Em meu caso, por ser médica, surpreendo-me em diversas situações por notar que as pessoas ficam surpresas ao serem tratadas por mim de igual para igual, ou simplesmente com educação (o que deveria ser o mínimo, não é mesmo?).

Como dito no diálogo acima:

Somos todos simples humanos.

O que nos diferencia então?

Nossas peculiaridades, certamente que sim. E nossas potencialidades, também. Nossos gostos, preferências… escolhas e comportamentos.

Contudo, com um olhar atento, quem sabe não perceberemos que a beleza se encontra justamente nessas diferenças?

Além disso, voltando à matemática: não há como comparar frações de denominadores diferentes. Em outas palavras, não me parece adequado ou justo tentar comparar potencialidades e qualidades distintas entre pessoas diferentes, procurando definir qual é melhor ou pior. Não acredito nem mesmo que haja algum benefício nisso.

São simplesmente diferentes, sem superioridade ou inferioridade.

Mas claro, é totalmente possível que eu seja pior em alguma habilidade, comparado a um colega. E é possível que ele, igualmente, seja pior do que eu em outra. O que não impede de nenhum modo que cada um de nós possamos nos aprimorar, com esforço e dedicação, naquilo que ainda não somos tão bons. Cada um no seu tempo e à sua maneira.

Como abordado no livro Mindset: A Nova Psicologia do Sucesso, por Carol Dweck (o qual estou lendo atualmente e recomendo bastante), há o mindset (ou mentalidade) fixo, em que se acredita que as pessoas nascem com aqueles talentos pré-determinados e prontos, e praticamente não há como alterar isso. E também há o mindset de crescimento, em que se acredita que seria possível aprender e se aprimorar em praticamente qualquer habilidade, partindo do ponto inicial que for, a partir do esforço, dedicação e vontade de fazê-lo.

Medite um pouco: com qual desses dois tipos de mindset você se identifica mais? Não só na teoria, mas especialmente na prática.

Em minha visão, a potencialidade para aprender algo novo e se aprimorar, por si só, já é essencialmente humana. Essa capacidade de nos tornarmos melhores. De aprimorar nossas más inclinações e nossas falhas. De tentar de novo. E de novo. Ou até mesmo de errar, mesmo sabendo que estava errado. De pedir desculpas, pedir perdão. E talvez até errar de novo mesmo assim. E de toda forma, amanhã é um novo dia, e continuaremos firmes, para dar um novo passo.

Somos seres em construção e, como artistas de nós mesmos, nos lapidamos pouco a pouco a cada dia.

Mais um vez, sei que talvez você pensa diferente. Mas gostaria que refletisse comigo…

Haveria algo que pudesse definir algumas pessoas como melhores ou piores que outras?

Ou será que, por outro lado, não seríamos simplesmente todos humanos, cada um em sua jornada, construindo seu caminho à sua maneira?

Eu, por minha vez, lhe faço o seguinte convite (não falo para parecer clichê, falo de coração — e possivelmente estou dizendo mais para mim mesma do que para você):

Que possamos evitar ao máximo nos comparar excessivamente uns com os outros.
Nossas habilidades, nossas conquistas, nossa trajetória, até mesmo nosso credo, cor, gênero, orientação sexual, classe social … seja o que for.
Que possamos honrar tudo que vivemos e enfrentamos para chegar até aqui. Cada um saberá como foi passar por o que passou.
Que consigamos ser gratos(as) por termos superado tanta coisa e que, com isso, possamos nos sentir incrivelmente fortes e resilientes.
A vitória se faz na soma dos pequenos passos de cada dia e não nos grandes saltos. Não tem essa de “dar grandes saltos” subitamente, de “ganhar na loteria” e finalmente se tornar feliz — seja literalmente ou metaforicamente. A evolução é gradual, um passo, depois outro…e mais outro.
E, por fim, que procuremos reconhecer e respeitar a singularidade e a beleza de cada um, sem rótulos, sem classes, sem distinções.

Simplesmente por sermos todos dessa mesma espécie, homo sapiens, sujeitos igualmente à uma mesma certeza na vida, em meio há tantas incertezas: todos nós, mais dia ou menos dia, teremos que encarar frente a frente nossa própria finitude — somos mortais.

Pois então, digo a você humano: Brilhe a vossa luz.

Bem, isso são apenas algumas reflexões baseadas em minhas vivências. E você? O que pensa sobre?
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Luana Reis
Releituras da Vida

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.