Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar

Sobre fazer a nossa parte no ciclo virtuoso de reciprocidade da vida

Luana Reis
Releituras da Vida
5 min readMar 7, 2021

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Você já teve a graça de ser muito ajudado em certa circunstância da vida e, no momento seguinte, ter a oportunidade de retribuir isso para alguém? Como se sentiu ao fazer parte desse movimento?

Pois bem, tenho uma breve história para compartilhar.

Eu sou médica e atualmente trabalho em um Centro de Saúde. Eu me formei há 9 meses (sim, isso é tipo namoro, no primeiro ano a gente conta até os meses haha) e desde então trabalho nesse mesmo local.

A verdade é que, como já comentei em textos prévios (como no texto: Sobre a dor e a arte de comunicar uma má notícia), por melhor que seja nossa formação acadêmica, ainda há muito o que ser aprimorado na prática profissional — a prática real oficial.

Para a minha enorme sorte, no início da minha trajetória profissional, eu fui agraciada pelo auxílio providencial de uma colega de trabalho, a qual formou antes de mim e já trabalhava no posto há cerca de 1 ano quando eu entrei. Ela me deu todo suporte necessário, tanto em dúvidas clínicas quanto com relação ao fluxo do sistema de saúde em nosso munícipio.

A partir disso, pude me adaptar melhor, aprender mais rápido e me desenvolver de forma satisfatória em minha função. Em poucos meses atuando como médica na atenção primária do SUS, pude observar grandes saltos em meu desempenho, o que é muito gratificante para mim.

Claro que este é só o começo da jornada, os primeiros “baby steps” (passos de bebê) de uma caminhada em que o aprendizado e auto aprimoramento devem ser contínuos.

O fato ambíguo que aconteceu — triste e alegre simultaneamente — foi que essa colega, que também se tornou uma amiga muito querida, passou no processo seletivo de Residência Médica e optou por seguir novos horizontes, buscando sua especialização em Ginecologia e Obstetrícia.

Sendo assim, na última sexta feira de fevereiro (2021), ela se despediu de todos no Centro de Saúde, deixando muita saudade, muitas palavras de afeto, gratidão e muitas boas lembranças.

Mas a vida é assim, não é mesmo? Pessoas vem e vão, mudanças acontecem todo o tempo, o dinamismo não para. Cabe a nós buscar acertar o ritmo dessa dança e seguir o “jogo de cintura” de viver, para não ficar para trás.

Foi assim que um novo médico entrou no posto, na semana seguinte, a primeira segunda de março. Ele se formou pouco depois de mim e tinha experiência predominantemente com plantões médicos em urgência e emergência. Desse modo, ele naturalmente tinha algumas dúvidas com relação à prática médica na atenção primária.

É nesse ponto que queria chegar. O desenrolar dessa história me levou a algumas reflexões…

Logo que ele chegou, fiz questão de me colocar à disposição para auxiliar com qualquer dúvida ou dificuldade que ele viesse a ter. Não sabia muito, mas algumas coisas eu já tinha aprendido até aqui e poderiam lhe ser úteis.

Ao longo da semana então, tive a satisfação de ser procurada por ele algumas vezes, permitindo que eu o pudesse ajudar da melhor forma que estivesse ao meu alcance.

Essa troca de conhecimentos entre nós me trouxe doce sentimento de reciprocidade com o fluxo da vida, e foi assim que pude perceber:

“Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.” Esopo

É como se a vida funcionasse em uma grande rede, com várias “faixas vibratórias”, desde as mais positivas até as mais negativas (a maior parte em algum intermediário ponto ele elas, que não é nem totalmente positivo e nem totalmente negativo). Ao entrar nesse fluxo da reciprocidade, senti como se estivesse me sintonizando com algo maior, como uma “corrente do bem”.

Agucei meu olhar para aquele momento e me dei conta de como aquela oportunidade de retribuir ao novo colega toda a ajuda que recebi anteriormente, me trazia enorme bem estar. Fui preenchida por um calor aconchegante no coração, que me mostrava como o sentimento de ser útil e bom a alguém nos acrescenta, de alguma forma, um sentido no viver.

Talvez por isso também, encontro tanta realização na profissão em que escolhi. A cada dia, uma nova oportunidade de retribuir à vida, seguindo esse fluxo de reciprocidade, tudo aquilo de bom que já me foi ofertado.

Podemos ser sinceros aqui, não quero parecer que estou no “vale dos unicórnios” haha.

Sei que talvez você não se identifique com esse sentimento. Ou talvez você se identifique apenas em parte.

Eu mesma não me identifico com ele o tempo todo. O ser humano tem mesmo essa característica dual…

Luz e sombra/ bem e mal.

Há momento em que eu acabo ficando muito mais conectada a uma faixa “vibratória mais negativa”. Chego a me contaminar, ao ponto de nem mesmo lembrar muito dos motivos pelos quais eu tenho (e sei que tenho muitos) para ser grata na vida.

Não só profissionalmente, mas como pessoa, há muito que caminhar. Todos temos, eu acredito.

Mas quem sabe, ao ter reflexões sobre essas boas vivências mais marcantes, não possamos nos aproximar, pouco a pouco, mais do fluxo da gratidão e da reciprocidade. E quem sabe isso não possa nos trazer um pouco mais de felicidade?

Como diz Victor Frankl (um sobrevivente de campo de concentração que fundou a Logoterapia) em seu livro “Em busca de sentido”, é possível encontrar sentido até mesmo no sofrimento, desde que você tenha algo maior que te mova, que traga significado, como o amor por alguém, por algo que se faz, ou algo que se busca.

Dito isto, gostaria de finalizar com este convite:

Como poderíamos retribuir à vida as boas coisas que recebemos ao longo da nossa trajetória?

Bem, isso são apenas algumas reflexões baseadas em minhas vivências. E você? O que pensa sobre?
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Luana Reis
Releituras da Vida

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.