O dia em que cansei de dizer “eu não tenho dinheiro pra isso!”

Luana Reis
Releituras da Vida
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7 min readJun 2, 2019

Vivendo na sociedade atual, podemos imaginar que a existência de pessoas que tenham dinheiro para realizar tudo o que gostariam tranquilamente seja rara, não é mesmo? Pois bem, em se tratando de Brasil, sem pessimismo, sem falar de política ou de economia, apenas gostaria de constatar o fato de que muitos brasileiros precisam equilibrar suas contas com certo esforço e sabedoria para tudo dar certo ao fim de cada mês. Você também tem essa percepção?

Minha família não é o que costumamos caracterizar como abastada. Digamos que nunca passei por sérias privações e pude crescer com dignidade, educação, aconchego, carinho e cuidados (e será que precisa de mais?). Mas também nunca vivenciei grandes luxos, bonanças e farturas. Sem entrar no mérito de tirar qualquer juízo de valor relacionado a isso. Contudo, para alcançar certas metas ou sonhos que exijam investimentos financeiros maiores eu teria basicamente três caminhos:

1º) Aceitar que esse tipo tarefa não está ao meu alcance e não fazer qualquer coisa relacionada a isso.

2º) Continuar desejando essa tarefa, mas não fazer nada concreto ou consistente que me permita obtê-la de fato.

3º) Perguntar-me: O que eu poderia fazer para tornar possível que eu consiga alcançar essa meta? Existe algo que esteja ao meu alcance?

Confesso prontamente que muitas vezes fiz a 1ª e a 2ª opções. De fato, não é todo tipo de meta ou sonho que nos desperta intensamente, que nos mobiliza, não é mesmo? Mas… e para aqueles desejos que nos tocam lá no fundo? Que mexem com nossas estruturas e com aspectos essenciais em nossa vida? Como lidar? Bem, a história de hoje é sobre isso.

Contextualizando brevemente, sou estudante de medicina da UFMG, atualmente finalizando o 10º período do curso e, dentre outras coisas, considero-me uma pessoa que vivencia ativamente minha própria espiritualidade. Eu sou espírita e participo de atividades relacionadas à minha religião e à minha espiritualidade semanalmente, seja no Evangelho no lar (um momento em família de horário fixo na semana para orar e fazer leituras edificantes, no caso, é todo domingo às 18h, por vários anos), na mocidade (grupos de de estudos para jovens do centro espírita) ou na DA-AMEMG (Departamento acadêmico da Associação Médica Espírita de Minas Gerais).

No início de 2017, quando estava no 6º período da faculdade, iniciei minhas atividades no grupo de estudos do DA-AMEMG, com intuito de aprofundar mais no tema de saúde e espiritualidade e como isso poderia se correlacionar com minha prática profissional. Logo no inicio, fui extremamente bem acolhida, em especial pelo Marquinhos (Marcus Ribeiro, acadêmico prestes a forma na época, hoje, um médico incrível – Instagram @ribeiromarcus). Já nas primeiras reuniões, Marcus me falou do MEDNESP 2017 que iria ocorrer no Rio se Janeiro, em junho. Esse evento consiste no maior congresso de saúde, espiritualidade e ciência do mundo (você leu certo, do mundo), tem impacto nacional e até internacional (acompanhado por cerca de 40 países) e recebe um número significativo de pessoas (em torno de 2000). O MEDNESP é organizado por todas as AMEs (Associações médico espíritas) do Brasil, normalmente com a AME local responsável pela estrutura organizacional, e consiste basicamente em 4 dias de palestras e atividades relacionadas à estudos, pesquisas e vivências na área de saúde e espiritualidade.

Inicialmente eu criei certa resistência, pensei que não teria condições financeiras de ir, que estaria fora das minhas possibilidades. Mas a vida tem sua sabedoria. E com ajuda do Marquinhos e do coordenador do DA AME-RJ, o Bebeto (Carlos Roberto, acadêmico de medicina da UERJ na época, um pequeno jovem de um coração enorme e acolhedor, hoje já é médico) por meio de descontos na inscrição/alojamento, eu pude ir. Assim foi feito, e partimos para a viagem!

Os acadêmicos e os residentes ficam nos alojamentos. Normalmente em uma escola da cidade, espaço simples, mas rico de amor e de afeto. As pessoas não precisam se conhecer previamente para sentar juntas e trocar ideias, abrir-se e criar conexões. Eu não conseguiria descrever com palavras o que foi esse evento para mim. Impactou toda a minha perspectiva de vida naquele momento. Fez-me reestruturar tantas ideias, sentimentos, desejos e planos para o futuro. O que mais marcou, foi o envolvimento emocional, as amizades e as pessoas que pude conhecer lá, o acolhimento.

Quando voltei, senti como se estivesse com um pacotinho de energia positiva para me sustentar ao longo dos meses que viessem. Foi simplesmente maravilhoso. Dentro do meu coração, carregava comigo a gratidão por todos àqueles que possibilitaram a minha presença neste evento que foi claramente um divisor de águas em minha vida.

Ainda no Rio de Janeiro, durante o congresso, em 2017, fiquei sabendo quando seria o próximo MEDNESP, consiste em um evento bienal, portanto o próximo seria em junho de 2019, em Teresina-Piauí. Meu coração já palpitou com essa informação:

“Meu Deus! Se já não foi tranquilo financeiramente vir para este que foi relativamente perto de casa, imagina o próximo, lá tão longe!”.

Naquele momento, afastei esse pensamento da minha mente e deixei para lidar com isso no momento certo.

Até que 1 ano se passou, continuei frequentando outros eventos menores do movimento médico-espírita, todos que pude. Em meados de 2018, estava eu em Uberlândia-MG, no CONDAME (Congresso dos Departamentos Acadêmicos da AME) e, na reunião final do encontro, o Alberto (um psiquiatra amável de Recife – Instagram @albertogorayeb) nos contou, de forma verdadeira e inspiradora, sobre todos os esforços dos integrantes da AME-Piauí em fazer o MEDNESP acontecer da melhor forma possivel, dos sacrifícios pessoais e até financeiros que estavam sendo feitos para que tudo desse certo.

Aquele discurso me tocou fundo, não sei exatamente o porquê. Só sei que retornei de Uberlândia cheia de energia para encontrar meios e fazer o que estivesse em meu alcance para obter o dinheiro necessário! E assim, pude perceber um grande aprendizado:

Quando algo é realmente essencial para nós, quando representa uma prioridade, um sonho, algo que nos move, somos capazes de despertar em nós uma força interna de realização e de transformação, que nos torna aptos a executar feitos incríveis e, até mesmo, impensáveis.

Dito e feito. Retornei à Belo Horizonte, e tive a ideia de criar um grupo de what’s app com todos os membros do DA (departamento acadêmico) interessados em participar da arrecadação de fundos para a viagem. Após trocas de ideias, decidimos vender doces durante as reuniões do DA e dos cursos da AMEMG.

Com início em agosto/2018, vendemos com frequência quase semanal os doces (palhas italianas, brigadeiros, entre outros), arrecadando um bom valor, porém, como não havia muitos de nós tão engajados, seria suficiente para custear basicamente a viagem completa de apenas uma pessoa (pois de fato o valor da passagem é alto).

Assim, tivemos a ideia de prepararmos um simpósio, em que os lucros do evento fossem todos direcionados para os acadêmicos que desejassem ir ao MEDNESP. Em alguns momentos pareceu que não ia dar, que seria difícil, mas dentro de mim havia um sentimento forte:

Eu preciso fazer acontecer!

Assim, marcamos a reunião, definimos o tema: “Por que adoecemos?”. Um tema que aflige a todos, mesmo não sendo da área da saúde, baseado em um dos primeiros livros publicados pela AMEMG, cujo título é o mesmo nome do simpósio.

O evento aconteceu no dia 04/05/19, foi o 1º Simpósio do DA-AMEMG! E foi um sucesso, enchemos o salão! Importante ressaltar que pudemos obter um ótimo lucro com essa iniciativa!

A partir de todo esse movimento, persistente, consistente, incansável, conseguimos arrecadar o dinheiro suficiente para custear a totalidade de custos da minha viagem, e outros 3 acadêmicos também foram beneficiados! Todos nós iremos!

Passagens compradas, tudo preparado! E as expectativas, como estavam? Exatamente! As melhores possíveis para o congresso que está por vir e ja está chegando: será em 19–22 de junho! Por fim, gostaria de finalizar com a reflexão:

Quando algo não é tão importante assim, nós criamos desculpa, limitações, impedimento.

Mas quando for realmente importante, essencial, indispensável, nós criamos alternativas, somos criativos, determinados, fazemos o que for possível.

“Por não saber que era impossível, foi lá e fez.” Jean Cocteau

E você, já passou por alguma situação parecida? O que acha de compartilhar sua história comigo? E ah! Não deixa de me contar o seu feedback pelos contatos: @luana_reis_m (Instagram) e luanareism@gmail.com.

Eu escrevo para compartilhar o que vibra em mim!

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Luana Reis
Releituras da Vida

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.