Quando a dor do corpo pode ter muito a nos ensinar

Aprendizados práticos que nos trazem mais empatia

Luana Reis
Releituras da Vida
5 min readMar 1, 2020

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Você já vivenciou alguma situação difícil e desafiadora que, apenas após vivenciá-la é que você pode compreender de forma mais profunda os desafios envolvidos naquele contexto?

Pode até que antes de passar por isso você costumava pensar (ou nem pensava sobre):

Ah… isso não deve ser tão complexo!

E aí…já aconteceu com você?

Bem… tenho um relato relacionado a essas indagações! A história é simples, mas acredito que a reflexão por trás pode transcender um pouco mais…!

Para dar início a este relato emocionante, preciso saber uma coisa:

“Você já teve a sua audição afetada de alguma forma? Seja por uma infecção de ouvido, uma rolha de cera ou alguma outra alteração?”

Não deve ser nada agradável né? Pois é… eu não conhecia essa sensação…

Atualizando: não conhecia até semana passada.

Contextualizo a você que não me conhece, sou estudante de medicina do último ano do curso. E, ao longo dos meus estágios, especialmente no internato rural (um estágio de 3 meses em uma cidade do interior), tive a oportunidade de fazer o exame de alguns ouvidos e, inclusive, de realizar o procedimento de lavagem de ouvido em alguns pacientes.

Você pode ter pensado: “Urgh! Papo estranho! Não quero ler mais esse texto!”. Peço, encarecidamente, paciência, já vai fazer sentido, haha.

A principal queixa desse quadro é a diminuição da audição do lado afetado, sensação de entupimento, às vezes acompanhada de dor ou coceira.

A lavagem do ouvido é um procedimento bem simples, em resumo, basta jogar um jato intenso de soro fisiológico em temperatura morna no ouvido da pessoa, com auxílio de uma seringa.

Eis que estava eu há alguns dias progressivamente notando minha audição do ouvido direito reduzindo, tamponado, incomodando. Já pensei:

“Oh céus! Seria um rolha de cera obstruindo aqui?”.

Mentalmente aflita desejei que não fosse isso.

Ao longo deste mês de fevereiro, estive hospedada na casa de uma amiga (uma serumaninho fofa, amável e super do bem), em São Paulo capital, a fim de realizar um estágio optativo da faculdade. Para a minha incrível sorte ela é médica de família e comunidade, o que significa que ela atua predominantemente em centros de saúde, ou seja, exatamente o que eu precisava naquele momento haha.

Relatei à ela minha queixa em um domingo à noite e, ela pegou seu otoscópio (aparelho médico de olhar dentro do ouvido) e rapidamente concluiu:

“É! Tá todo obstruído com cera.”

Não foi agradável aceitar que meu ouvido teria que ser lavado. Esperei uns dois dias para me certificar de que ele não iria melhorar sozinho (sim, sou dessas). Mas… adivinha só: não melhorou mesmo. E pior, eu estava cada vez escutando menos no ouvido direito. É… alguma intervenção seria necessária.

Não se você já passou por isso, mas é bem desagradável. Você precisa fazer um esforço maior para entender o que as pessoas falam, e também, quando você fala, sua voz ecoa alto dentro da sua cabeça.

Tampe os ouvidos e fale qualquer coisa para entender como é haha.

Foi nesse ponto que me peguei a refletir de forma filosófica e aleatória sobre a mim mesma:

O que meu corpo está querendo me dizer?

Quando eu não escuto bem o ruído externo, quando ele está bloqueado, obstruído, eu escuto mais a minha própria voz…

Agora, se preparem para um breve devaneio:

Quem sabe esse não é um convite do meu corpo para que eu escute mais a minha voz interior?

Bem, não sei se você costuma tentar dar interpretações filosóficas ou psicossomáticas para os seus sintomas. Eu tento haha, não me julgue. O fato é… em muitos momentos essas reflexões me ajudam a ficar mais atenta a mim mesma e as minhas reais necessidades.

Como diria Nilton Mendonça:

“Você fome de que? Devemos ter fome de conhecimento pois é dele que nos renovamos.”

Voltando a história da minha primeira rolha de cera do ouvido (torcendo para que seja a única também haha), após 3 dias, minha amiga médica finalmente realizou a lavagem do meu ouvido.

Sim! Foi libertador. Saiu a rolha e pensei: “Graças a Deus, voltei a ser pura!” (Pura? haha).

Porém, para meu descontentamento e estranhamento, minha audição demorou mais uns 2 a 3 dias para ficar 100% normal. E pensei:

“Meu Deus! Eu não fazia ideia que isso era assim. Eu não sabia nem mesmo para poder tranquilizar os pacientes com relação a isso: “Moço(a), fica tranquilo(a) já vai voltar a ficar boa sua audição ok?”

Era uma queixa que eu não valorizava tanto. E agora eu sei como é sentir isso na pele.

Caminhando para o final dessas elucubrações sobre um simples problema de ouvido, percebo que muitas vezes os profissionais de saúde não sabem de fato como é estar no lugar de seu paciente, sentindo sua dor ou sendo submetido a alguma limitação.

Sim, nem sempre saberemos. Mas o fato é:

Independente de saber exatamente como é, quem sabe o mais importante não seja simplesmente escutar de forma atenta, valorizar a queixa do paciente e acreditar no que ele/ela diz sobre a dimensão e o impacto daqueles sintomas em seu bem estar.

Outro movimento que pode ser interessante, consiste em tentar enxergar para além da queixa principal daquele indivíduo.

Quem sabe não há algo por trás de uma dor de estômago ou de uma garganta inflamada?

Frequentemente, não saberemos as respostas dessas perguntas. E talvez nem precisemos ter. Penso que o simples fato de estarmos atentos a isso já pode ser transformador.

Por fim, gostaria de dividir com você algumas indagações que eu tenho feito a mim mesma. Convido-lhe a tentar trazer essas reflexões para o seu contexto:

Quantos ensinamentos podemos obter ao ficarmos mais atentos aos sinais e sintomas do nosso próprio corpo?

Bem, isso são apenas algumas reflexões baseadas em minhas vivências. E você? O que pensa sobre?

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Luana Reis
Releituras da Vida

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.