“Eu sempre fiz assim, não tem jeito de mudar”

Mas… será mesmo?

Luana Reis
Releituras da Vida
5 min readMar 28, 2021

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Você tem alguns hábitos bem estabelecidos há algum tempo, de modo que pareçam imutáveis? Como se fizessem parte de quem você é. Seu corpo precisa que seja assim. Você se acostumou. Não tem jeito.

Já se sentiu assim ou já ouviu alguém dizer isso?

Bem, eu já… inclusive de mim mesma.

Sobre isso, tenho uma historia para te contar…

Aos 14 anos, eu iniciei meu hábito de beber café, motivada principalmente pelos estudos, haha. No início eu não gostava tanto assim do café em si, o que eu fazia então? Colocava um tanto de açúcar, claro.

Por um tempo foi assim. Até que uns 4 anos depois, quando já estava fazendo cursinho para a faculdade, percebi que simplesmente retirando o açúcar que eu colocava no café, eu já reduziria significativamente o tanto de açúcar que eu ingeria em 1 semana, ou 1 mês. Consequentemente, me tornaria mais saudável.

Foi então que resolvi mudar.

Passei para o adoçante. A princípio, achei péssimo. Normal né? Talvez você já tenha passado por alguma transição assim também.

Encontrei a motivação que precisava ao descobrir pesquisas científicas que diziam que o nosso paladar era capaz de se acostumar com praticamente qualquer mudança, desde que persistíssemos por pelo menos 21 dias (tempo médio para começar a fixar um novo hábito, válido para muitas coisas inclusive).

Assim, eu persisti. E então passei até a gostar de café com adoçante.

Foi então que fiquei sabendo de algumas pessoas que tomavam café puro. Espantei-me. Mas puro? Vou então reproduzir frases que eu já disse e já escutei: A vida já é amarga demais, ainda vamos tomar café amargo?

Já estava na faculdade nessa época e, após um tempo contemplando a ideia, resolvi mudar — de novo.

Optei por reduzir gradativamente o adoçante do café até… tirar completamente. Desde então, só tomo café puro e, inclusive, acho muito mais saboroso, sinto mais o gosto do café de verdade.

Fazendo uma filtragem adequada, utilizando um café de boa qualidade (sim, sou dessas que até tem moedor de grãos em casa)… Ah, fica excepcional!

A “louca” do café

Ainda sobre o café, por muito tempo, principalmente durante a faculdade, eu criei o hábito de tomar café sempre depois do almoço, para acordar. Acreditava que o meu corpo precisava daquilo e, muitas vezes, eu tinha necessidade de incluir um docinho para dar aquela animada e adoçada no dia.

Eu achava que não tinha jeito de mudar, que eu terminaria o almoço e logo meu corpo pediria por aquele café. Caso não atendesse a essa demanda, ficava sonolenta, desatenta (talvez porque estivesse mesmo em privação de sono haha).

Até que um belo dia (recentemente), eu resolvi mudar mais uma vez.

Atualmente, tenho apenas 1 hora de almoço durante o meu turno de trabalho, e percebi que se eu retirasse o momento do cafezinho, eu teria uma hora de almoço mais tranquila, com calma. Foi assim que mudei o hábito tanto de beber café, quanto de comer doce depois do almoço.

Ah! Mas e aquela “necessidade” do meu corpo? A abstinência, sabe?

Vou ser bem sincera, após apenas alguns dias com o novo hábito, a “necessidade” parou de existir.

A verdade é que, excetuando as necessidades fisiológicas e básicas para manter a sobrevivência, nosso corpo não tem necessidade de nada. Nossa mente que tem, e diz que nosso corpo tem, e passamos a acreditar nisso com toda a força.

Já ouviu aquele familiar mais velho (tio, avó, etc): Ah meu filho! Eu faço assim há anos já, antes mesmo de você nascer, como eu poderia mudar agora? Não tem mais jeito…!

Será mesmo?

Ou será que, pelo contrário, poderíamos dizer que somos seres humanos em constante mutação, construção, desconstrução, adaptação — uma metamorfose ambulante — como diria o poeta (Raul Seixas), e ele completa:

Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo.

“Aquela velha opinião formada sobre tudo”. Aquela ideia fixa ou mentalidade rígida. Talvez essas sejam as amarras que colocamos em nós mesmos e, por vezes, apertamos tão firmes a ponto de nos causar marcas.

Há quem diga que o principal inimigo que temos a enfrentar não estaria externo a nós, mas sim dentro de nós. Nossas sombras, nossos vícios e más inclinações.

Já pensou que você deveria melhorar sua alimentação? Iniciar um atividade física? Parar de fumar ou de beber? Dormir mais cedo?

Sim, esses hábitos relacionados ao estilo de vida são muito importantes para nossa saúde, mas…agora de forma mais profunda:

Já refletiu sobre parar de gritar quando fica nervoso(a)? Ou parar de falar palavrão ou xingamentos a quem nos irrita? Já considerou parar de se auto sabotar quando desejar algo, ou procurar não mentir mais (inclusive para si mesmo)? Tentar não procrastinar mais sobre algo importante que precisa ser feito, ou deixar para amanhã aquilo que pode ser feito hoje?

Sim… essas já são transformações mais profundas em nosso ser.

E talvez essas transformações sejam as principais que deveríamos procurar “criar um necessidade de mudança”, como uma busca constante de se auto melhorar.

As mudanças necessárias em nossas vidas só podem acontecer mediante nosso esforço pessoal, a partir de nosso desejo sincero. A verdade é que essas mudanças são indispensáveis em nosso dia-a-dia.

Não tem idade máxima para operar transformações e reprogramar hábitos em nossas vidas.

Eu pelo menos acredito que, enquanto eu respirar, precisarei procurar constantemente, a cada dia, ser um pouquinho melhor hoje, do que eu fui ontem, e um pouco melhor amanhã do que estou sendo hoje. Esse processo é contínuo, e nunca deve parar.

Caso contrário, seria como animar um corpo sem vida, sem esperança, sem brilho nos olhos.

A metamorfose ambulante não pode parar.

Ser vivo é ser mutante, em uma constante busca de si mesmo.

Bem, isso são apenas algumas reflexões baseadas em minhas vivências. E você? O que pensa sobre?
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Luana Reis
Releituras da Vida

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.