Você só sabe o quanto é forte até precisar ser

E assim, lapidamos pouco a pouco quem nos tornamos.

Luana Reis
Releituras da Vida
5 min readFeb 14, 2021

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Nos últimos dias, vivenciei situações que me levaram a indagar:

Quem cuida do cuidador?

Caso você seja profissional de saúde, pai, mãe, irmã(o), líder, ou exerça qualquer função de cuidado, você pode se identificar com esse questionamento.

Você já vivenciou situações em que precisou manter suas funções e responsabilidades normalmente, mesmo diante de grandes desafios pessoais? Como foi isso para você?

Bem, tenho uma história para contar…

Eu sou médica e trabalho em um centro de saúde na região metropolitana de Belo Horizonte.

Na última semana, enfrentei algumas situações que geraram um grande impacto em meu estado emocional. Afinal, a vida tem esse fluxo oscilante, muitas vezes, imprevisível. Há dias tranquilos, habituais. Já outros… difíceis, árduos, carregados de dor… e de aprendizado também.

E assim seguimos, evoluindo um pouco mais a cada passo.

Como em uma playlist de variados ritmos
Cabe a nós fluir nessa dança
Buscando acertar o compasso
E produzir a melodia do viver

No meio da semana, mesmo diante das grandes dificuldades pessoais que eu estava enfrentando: eu precisava trabalhar.

Um choro saiu de mim.
Lágrimas de vontade própria
Demandavam e exigiam a expressão imediata de toda aquela emoção.
O choro é assim.
Um sinal espontâneo, fluido, de toda nossa humanidade.
Há quem associe com fraqueza.

Eu, por minha vez, diria: “o choro expressa nossa força, nossa vulnerabilidade e nossa verdade em ser humano”

Olhei para o relógio, o tempo passava, eu estava atrasava em minhas obrigações. Os pacientes agendados já estavam aguardando a consulta médica.

Muitas vezes nem nos damos conta, enquanto profissionais de saúde, o quanto aquele(a) paciente idealizou e aguardou por aquele momento de se consultar. E talvez, nem sempre proporcionamos o devido valor a isso.

O fato é, estando como eu estivesse, eu estava ali. Estavam esperando por mim. Eu iria respirar fundo, lavar o rosto, entregar o melhor que eu pudesse de mim mesma.

Demorei alguns minutos para conseguir isso, e sim, tive ajuda, tive acolhimento, apoio e amparo de pessoas incríveis que foram anjos(as) em minha vida naquele instante.

E assim segui, levantei da cadeira e chamei a primeira paciente.

Tratava-se de uma senhorinha simpaticíssima, a qual ofertou a mim um olhar muito doce, ao me encarar enquanto caminhava até meu consultório. Apesar da grande demora para ser chamada, ela sorria e me tratava com toda gentileza possível.

A sua doçura, em meio a minha sensibilidade daquele momento, preencheu meu coração e, mais uma vez, um choro quis sair de mim. Nesse instante, respirei fundo e calmamente busquei meu centro, minha força interior, meu foco maior na missão daquele momento.

Sei que meus olhos marejaram, olhei para baixo para disfarçar, enquanto lia o exame que ela havia trazido. O exame estava normal, em alguns segundos eu havia percebido, porém fiz como se ainda estivesse lendo mais lentamente, apenas para disfarçar um pouco.

Após passar a primeira onda mais intensa de desejo para extravasar aquela emoção, consegui amortizá-la e guardá-la no peito para mais tarde. Acalmei-me e fiquei firme.

Consegui concluir a consulta até o final, ofertando tudo o que julguei necessário e, para minha sorte, não precisei enfrentar nada clinicamente desafiador. Todas as condutas estavam sob meu controle.

Não poderia deixar de comentar; a doce surpresa que aconteceu ao final.

A senhorinha, ainda carregando um sorriso no olhar, estava guardando suas coisas e se preparando para se retirar, quando virou para mim e disse:

“E a senhora, doutora? A senhora está bem?”

Apesar do impacto que a sua sensibilidade me causava, evitei ser sincera e respondi sorrindo:

“Sim, estou bem.”

Mas ela não se deu por vencida e continuou:

“Pois é… às vezes a gente não se lembra de que médico também é gente como a gente, também tem problemas né? Então desejo todo amparo para a senhora viu? Tenha uma ótima tarde. Fiquei satisfeita, gostei muito da consulta.”

Nossa, mal consigo descrever o sentimento que aquelas palavras me causaram. Muitas vezes, Deus nos envia o auxílio e o acolhimento “disfarçados” das formas que menos imaginamos. Agradeci a ela, preenchida de gratidão e afeto, enquanto a observava sair do consultório.

Tecnicamente, eu estava ali para cuidar dela. Mal sabia ela, que ela também cuidou de mim naquele momento.

À medida que chamava os próximos pacientes, consegui me estabilizar quase que totalmente, estava inclusive mais leve. Sentia que um peso havia saído de mim e tudo caminhava para a solução.

Apesar do turbilhão de emoções que transbordavam no meu peito, agora eu me sentia mais forte, estava pronta para continuar. E segui em frente. Completei a missão do dia.

Os dias passaram. O sol nascia e se punha, de novo e de novo, mostrando a continuidade da vida. E, pouco a pouco, as coisas foram se ajeitando, reposicionando-se em seu lugar.

Recebi todo apoio, suporte e ajuda que precisei. Em meio a dificuldades que nem imaginava, percebi que sim: eu era capaz de enfrentar e lidar com aquilo.

Ao olhar para trás depois de tudo que passou, me senti mais forte, mais viva… mais leve.
Como um nó que se desatava, uma infecção que se curava, uma dor que se aliviava.

Agora, acima de tudo, sinto-me grata.

E como diria Seiiti Arata, fundador da Arata Academy:

“A dor é uma parte inevitável da vida, assim como a morte. A maneira como você aceita seu destino e a dor que faz parte da jornada é uma oportunidade para adicionar significado mais profundo à ela.”

Bem, isso são apenas algumas reflexões baseadas em minhas vivências. E você? O que pensa sobre?
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Luana Reis
Releituras da Vida

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.