Você tem estado atento ao seu redor?

Um pequeno relato… da minha humanidade para a sua.

Luana Reis
Releituras da Vida
6 min readJan 31, 2021

--

Alguma vez um relato de vivência compartilhado por alguém já te inspirou a ser uma pessoa melhor?

Há algum tempo, surgiu em mim a indagação:

“Poxa! Ia ser tão legal se eu conseguisse participar de algum projeto social, a fim de poder ajudar mais aos outros. Se não… de que outra forma eu poderia? O dia-a-dia, muitas vezes, é tão corrido!”

Você já teve algum pensamento parecido com este?

Eu costumava pensar que a forma mais palatável de fazer o bem efetivamente seria me envolvendo em um projeto social ou ajudando aqueles mais necessitados em âmbito material.

Será mesmo?

Pois bem, há algumas semanas, tive uma conversa com uma amiga que me despertou para outro olhar! Desencadeando, até mesmo, mudanças de condutas. É sobre isso que gostaria de conversar com você hoje.

Durante uma reunião com amigos, Patrícia me contou que estava passando por uma avenida movimentada de Belo Horizonte em certo dia, onde sempre via um senhorzinho vendendo algumas balas, sentado no semáforo.

Neste dia, estava iniciando uma forte chuva e, ao olhá-lo, ela pensou:

“Esse senhor sempre está por aqui vendendo essas balas… há anos! Ele deve morar aqui perto. Quem sabe eu não ofereço de levá-lo em casa?”

Movida por essa percepção tão sensível, ela lhe ofereceu ajuda.

Ele, por sua vez, ficou perplexo a princípio. Alegou não ter nenhuma quantia financeira a oferecer. No que ela bondosamente respondeu:

“Não se preocupe, meu senhor, eu posso te levar em casa, não precisa contribuir com nada em troca.”

Preenchido de gratidão, o senhor aceitou humildemente a oferta.

Contudo, o que Patrícia não poderia imaginar… era a distância até sua casa!

Devido ao engarrafamento intenso que se iniciou (quem mora por aqui sabe, BH não pode com chuva!), ela demorou quase 3h para deixá-lo em casa (sim, isso mesmo, TRÊS HORAS). Ela precisou, inclusive, desmarcar um compromisso. Mas seu coração bondoso não se abalou, pelo contrário, ela ficou surpreendida ao perceber a distância que ele percorria diariamente para vender algumas balas no sinal.

Quando chegaram ao destino, o senhor a olhou nos olhos, preenchido em gratidão, e disse sorridente:

“Muito obrigado, minha senhora… nem sei como agradecer. Posso lhe dar algumas balas. Você gosta dessas?” — disse enquanto lhe entregava.

Ela assentiu positivamente com a cabeça enquanto sorria de volta.

“Sempre que você passar pela avenida e eu estiver por lá, pode me chamar que lhe darei mais algumas!”

Quando Paty me contou esse relato, retomei àquela reflexão inicial, e voltei a me questionar:

“Será que precisaria mesmo estar envolvida em algum projeto específico para ter a oportunidade de fazer algum bem?

Ou será que oportunidades como essa estão, na verdade, amplamente presentes em nosso dia-a-dia, porém somos nós que, em muitos momentos, estamos desatentos e passamos desapercebidos por elas?”

Foi assim que, alguns dias depois, tive uma vivência que representou a concretização dessas reflexões que se inquietavam em meu interior.

Em um dia de semana, pela manhã, ao sair da academia, estava caminhando na calçada, em direção ao meu carro, enquanto mexia no celular (hábito péssimo, perigoso, porém muito frequente nos dias de hoje haha), quando minha visão periférica capturou a seguinte cena:

Uma senhorinha caminhando com dificuldade, enquanto carregava várias sacolas de supermercado. Ela precisou parar por alguns instantes, deixando o peso no chão, até retomar o folego antes de continuar seu caminho.

Em uma fração de segundos, passou uma série de pensamentos em minha tela mental.

Começando na história relatada acima e todas as minhas reflexões sobre o tema… nessa mesma fração de segundo eu tive um clique que me levou a ação:

É agora! Esse é o convite! Essa é a oportunidade.

E disse:

“Senhora, com licença, precisa de alguma ajuda?”

Ela olhou para mim, sorriu, e respondeu:

“Oh minha filha, você está indo para lá?” — e apontou em certa direção.

“Sim… e eu estou de carro — respondi — posso te levar em casa, se quiser.”

Ela tentou checar se não iria me tirar do meu caminho, mas fui firme:

“Não se preocupe, estou sem pressa, eu posso te levar em casa.”

Ela aceitou radiante. E logo começou a dizer palavras de agradecimento, abençoando-me à sua maneira. Aquele gesto de gratidão vindo dela me despertou um incrível sentimento de bem estar, difícil de descrever.

Ela colocou as compras em meu carro. Sua casa estava a 2 ou 3 quarteirões dali. Era bem perto, porém envolvia subir um morro considerável, além das sacolas estarem bem pesadas. Considerando isso, provavelmente, fez bastante diferença para ela.

E quanto a mim? Gastei apenas uns 2 minutos para ajudá-la, basicamente não me custou nada.

Ao se despedir, ela agradeceu grandemente e expressou enorme carinho em sua fala.

Quantas oportunidades como estas se dispõem para nós a cada dia?

Sim, eu sei, há de se considerar alguns fatores…a criminalidade, os riscos, as pessoas desconhecidas. Existem contextos e contextos. E de fato, nem sempre as circunstâncias serão favoráveis ou seguras para se estender uma mão amiga.

De todo modo, após chegar em casa, fiquei pensando:

“Eu poderia ter passado por ela, ter mantido meu olhar fixo no celular e nem sequer ter notado sua presença…

A verdade é que, certamente, eu já passei batido por situações assim incontáveis vezes!”

Você se identifica com esse sentimento?

Como na parábola do Bom Samaritano (Lucas 10:25–37), muitos de nós podemos passar por circunstâncias parecidas, mas nem todos aproveitam da mesma maneira.

E isso é natural. Acredito que, à medida em que conseguimos aguçar o nosso olhar, calibrar nossas percepções para esses instantes, cada vez mais conseguiremos identificar o momento certo para agir.

Como na medicina, à medida em que exercemos a profissão e estudamos, desenvolvemos um olhar “clínico” para as alterações no exame físico do paciente. Também na vida, quanto mais procurarmos praticar o bem de alguma forma, acredito que, aos poucos, seremos capazes de desenvolver um olhar “clínico” para perceber as mazelas humanas, a fim de poder acalentá-las de acordo com o nosso alcance, a nossa própria maneira, dentro de nossas possibilidades.

Compartilho essas reflexões na posição de alguém que está no começo dessa jornada, calibrando pouco a pouco esse olhar. Na posição de alguém que erra diariamente, prejudica os outros (mesmo sem intenção) e deixa de fazer o bem (mesmo com intenção). Alguém que sabe poucas coisas, e do pouco que sabe, uma parcela ainda menor é posta em prática.

Então, este não é um sermão. Este texto tampouco é sobre religião. Mas talvez sobre reflexões em torno de uma busca de me tornar alguém melhor para o mundo. Um desejo de fazer a pequena parcela que me cabe. Mesmo que, por ora, esteja mais no campo da vontade do que no campo da ação. Que pelo menos possa haver um movimento, um primeiro passo, uma intenção.

E… assim, quem sabe, a mudança verdadeira que tanto busco possa se tornar realidade.

Pelo relato de Patrícia, eu pude me inspirar. Agora compartilho nossos relatos com você, a fim de que, quem sabe, da minha humanidade para a sua humanidade, possamos juntos transformar uma pequena parcela desse mundo imperfeito, tornando-o um pouco melhor.

Bem, isso são apenas algumas reflexões baseadas em minhas vivências. E você? O que pensa sobre?
Deixe nos comentários abaixo ou entre em contato via Instagram @releiturasdavida.
Se você curtiu esse texto, ficaria muito feliz se, por gentileza, pudesse deixar seu 👏🏻 clap (de 1 a 50).

--

--

Luana Reis
Releituras da Vida

Releituras da vida. A arte da busca pelo equilíbrio entre o que importa e o que é necessário.