Crítica — Invasão Secreta (Eps. 1, 2, 3)

Série de espionagem da Marvel diverte com algumas piadas fora de tom e ritmo lento.

Lucas Almeida De Sousa
CRITTIQ
5 min readJul 10, 2023

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Reprodução /Disney+

O TEXTO A SEGUIR PODE CONTER SPOILERS!!!

Para quem me perguntar sobre os gêneros de filmes / séries da Marvel que aprecio, mencionaria alguns títulos menos convencionais. “Cavaleiro da Lua” e “Eternos”, em minha opinião, são produções que se destacam em relação a muitas outras obras ao longo dos anos do MCU. Há momentos específicos que consigo tolerar, como “Homem Formiga: Quantumania”. No entanto, existem outras coisas que não tenho interesse em assistir novamente, nem mesmo se me pagassem, como “Doutor Estranho: No Multiverso da Loucura” ou “Thor: Amor e Trovão”. Mas qual seria o propósito de mencionar algo semelhante no início desta crítica? Sinceramente, meu caro leitor, acredito que seja mais adequado revelar para qual direção “Invasão Secreta”, a nova série da Marvel, está seguindo.

Inicialmente, o cenário que estamos presenciando é bastante interessante. Somos apresentados ao retorno de Nick Fury (Samuel Jackson) à Terra, após ter sido revelado em “Homem Aranha: Longe de Casa” que ele está na S.A.B.R.E, uma espaçonave alienígena em órbita ao redor do planeta. Seu pedido de retorno é urgente, mas nada glamoroso. Observamos o antigo líder dos Vingadores e um dos homens mais corajosos do planeta em uma versão diferente de si mesmo. Um Nick cansado, desatento, desinformado e sofrendo com dores.

Sua volta se deve a um motivo ainda mais preocupante: a raça alienígena Skrull, que conhecemos em “Capitã Marvel”, está em uma guerra civil, na qual o vilão da vez está tentando dominar o planeta. O grande problema é que os Skrulls são capazes de trocar de aparência e até mesmo roubar memórias, assumindo a forma de quem desejarem.

Fazendo uma análise breve, faz muito tempo que não presenciamos uma trama com tanto potencial no MCU, embora não seja algo inédito. O primeiro episódio começa com os melhores elementos de espionagem, com personagens se esgueirando entre becos, uma perseguição pela cidade e a definição de um tom sério na narrativa, o que estabelece a base para a nova série. Logo em seguida, reencontramos personagens queridos que estão lutando contra essa nova ameaça, como o Skrull Talos (Ben Mendelsohn), Maria Hill (Cobie Smulders) e, é claro, nosso agente durão Nick Fury, que está em sua pior forma.

Carregado de uma tensão sutil e mantendo os pés no chão, o primeiro capítulo de “Invasão Secreta” se mostra muito promissor, embora ainda não tenha revelado todo o seu potencial. Afinal, uma pergunta persiste a todo momento: “POR QUE DIABOS ELES NÃO CHAMAM OS VINGADORES?”. A resposta, por mais clichê que seja, funciona. Nick Fury, após muitos anos fora do planeta, está perdendo a essência que o tornava um bom espião. Afetado pela idade e com problemas físicos, pessoais e psicológicos, Fury se sente desafiado e decide usar a Invasão Skrull para provar que ainda é o homem admirado por todos.

A progressão após esse momento é como um jogo de tabuleiro. Entendemos as motivações do vilão e quem está de que lado. No entanto, o grande trunfo dessa série, apesar de poder ter sido melhor explorado nos três episódios, é descobrir quem é verdadeiramente amigo. O poder de um vilão que pode copiar almas e corpos é o melhor gatilho para a paranoia que uma série pode oferecer. No entanto, esse recurso é um tanto desperdiçado.

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Trabalhar o desenvolvimento dos personagens é uma maneira eficaz de conquistar o público. Em “Invasão Secreta”, não é preciso se esforçar muito, considerando todo o histórico de séries e filmes que já vimos. Já conhecemos os personagens e suas interações dentro do MCU. Porém, uma das novas dinâmicas que funciona muito bem é entre Talos e Fury. Diante do tom sério, quase sombrio, que o novo capítulo de Fury vem construindo, um alívio cômico entre os dois é muito bem-vindo (embora às vezes seja excessivo).

No entanto, o segundo episódio serve como uma pausa na construção da narrativa para aprofundar um pouco mais em cada peça do tabuleiro. Uma das coisas mais interessantes de se observar na série é que a revolução Skrull é liderada em sua maioria por jovens. Gravik, líder da revolução e interpretado por Kingsley Ben-Adir, possui ideias extremistas, acreditando que a humanidade e os Skrulls não podem coexistir. É uma visão com a qual Fury concorda em certa medida. É nesse momento que percebemos a amplitude de onde estão os inimigos dessa história.

Políticos internacionais, primeiros-ministros, jornalistas, todos podem ser Skrulls. No entanto, apesar da magnitude do inimigo oculto, não há um senso de urgência. Ao contrário do que vemos em “Pacificador”, por exemplo, aqui todos estão muito calmos enquanto Fury está perdido e sem aliados. Em contrapartida, vemos Talos enfrentando o inimigo de frente e pessoas mudando de lado, mostrando que a noção de lealdade é mais volátil do que se imagina.

A trama volta a se desenrolar e se tornar mais imprevisível no terceiro episódio, onde vemos Fury tentando lidar com a primeira grande ameaça dos extremistas. Com um ritmo um tanto acelerado e algumas oscilações de tom entre cenas, o episódio nos mostra que ninguém está seguro. Ao mesmo tempo, revela que Talos é um personagem que devemos observar com mais atenção no futuro da Marvel. Apesar de sua natureza tranquila e cômica, ele possui um lado sombrio que ainda não tínhamos visto.

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O que incomoda inicialmente e que, ao final do terceiro episódio, se confirma, é o fato de as personagens femininas serem colocadas em segundo plano. Entre alguns tweets e outros comentários, os fãs notaram isso, e é algo que não passa despercebido. Embora eu não goste de ser rotulado como “militante” (o que provavelmente irá acontecer por alguns que, é realmente intrigante ver atrizes tão talentosas no elenco sendo desperdiçadas dessa forma.

“Invasão Secreta” tem potencial para ser uma série polêmica com as melhores intenções. Seus três primeiros episódios nos mostram que há uma trama interessante pela frente, com personagens cativantes e uma narrativa ambiciosa. No entanto, é preciso ter cuidado para não se tornar uma série genérica, como Homem-Formiga 3, ou se envolver em polêmicas no pior dos sentidos e ficar ao lado de Thor 4 no ranking.

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Lucas Almeida De Sousa
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