Crítica: O diabo de cada dia.

Novo filme da Netflix possui alguns tropeços, mas acerta na narrativa e ótimas atuações.

Lucas Almeida De Sousa
CRITTIQ
4 min readSep 24, 2020

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Reprodução/Netflix

Quando o filme “O diabo de cada dia” foi anunciado, houve uma grande discussão a sua volta. Afinal, porque não teria? A Netflix trouxe para seu mais novo longa grandes atores que atualmente estão em destaque, para contar uma história de época-porém mais atual que nunca-pelos olhos de Antônio Campos.

Ao decorrer de 2h18min, acompanhamos seis histórias de diferentes personagens em uma cidade interiorana nos Estados Unidos. A narrativa se inicia com a narração de Donald Ray Pollock, escritor do livro de mesmo nome, falando um pouco sobre a cidade no qual o filme se passa. Durante sua fala já percebemos como serão os momentos seguintes. Desoladores. Para as pessoas que estão mais familiarizadas de como são as províncias pequenas dos EUA pós-segunda guerra mundial, sabe que está por vir. Uma história de família, vingança, um pouco de Western e sem dúvida religiosidade.

Muitas dessas pequenas cidades eram ou ainda são muito religiosas. Ponto que o diretor Antônio Campos mais se inspirou do material fonte e que mais acertou no filme. Durante o primeiro ato, acompanhamos a história do Willard, pai do protagonista interpretado por Bill Skarsgård. Vemos sua jornada de um homem não muito adepto a crenças, ir para a guerra, voltar um homem quebrado até se tornar um fanático religioso. Neste momento vemos acertos e tropeços do filme. De primeira vista, o filme pode parecer um pouco lento no início, mas é proposital. A narrativa nos faz passar por isso durante o filme inteiro porque a maioria dos personagens são ruins de espirito, mas precisamos entender como eles chegaram a certo ponto. Portanto, contar a história devagar e se atentar a detalhes é necessário.

Ao final da história de Willard, há uma cena de sacrifício por motivos religiosos. De primeira vista achei de certa forma exagerado. Contudo, após um rápido e breve momento de reflexão (e pesquisas), percebe-se que isso é tão comum a ponto de ser praticado atualmente. Porém, isso ocorre duas vezes ao decorrer do filme no mesmo ato. Analisando de um ponto de vista mais crível, apenas uma vez já era o suficiente ou separava entre partes da história. Dessa forma, evidenciava o problema que a religiosidade significava naquela época.

Mas, é de se elogiar como o filme transborda confiança em mostrar como traumas e certas decisões passam por gerações. Assim como Willard era impulsivo e violento após voltar da guerra, seu filho Arvin (Tom Holland) sofre pelo mesmo problemas. A única diferença entre esses dois personagens, é que dentro de Arvin não há uma devoção fanática.

Em paralelo, vemos o início da história de alguns personagens com o mesmo significado narrativo que a história principal, a famosa empatia pelo personagem. Sendo alguns mais intensos que outros, entendemos o porquê de a narrativa haver vários núcleos. Apesar de ser personagens interessantes, eles são desenvolvidos de uma maneira um pouco mais rasa. Isso os transformam em elementos narrativos para que no futuro, certos conflitos sejam resolvidos.

Reprodução/Netflix

Do início até o final do segundo ato, o filme ganha energia, significados muito verdadeiros, atuações maravilhosas e simbolismos muito assustadores que, ao mesmo tempo, são muito verdadeiros e o motivo da história ser tão atual como nunca. Percebemos que certos homens de fé não são muito adeptos a suas próprias convicções, o que as pessoas tão religiosas fazem por serem tementes a Deus e ao julgamento alheio, arrependimento e culpa. Tudo isso carregado a grandes atuações. É imprescindível não notar a evolução e amadurecimento do Tom Holland como ator. Ele segura sua parcela do filme de maneira excelente e cativante. Grande elogios também para Robert Pattinson, Sebastian Stan e Bill Skarsgård

Outro ponto forte de o “O diabo de cada dia” é sua linearidade. Poucas vezes durante a história, temos aquele típico “voltar no tempo para contar algo”, o que acaba incomodando na maioria das vezes e deixando o filme mais complexo do que deveria. Aqui isso não acontece. Boa parte das cenas em que é usado esse recurso, é utilizado como lembranças e apenas ocorre quando é perfeitamente encaixada na situação.

Contudo, não podemos deixar de apontar que, o roteiro aposta muito nas conveniências e acasos da vida para encerrar sua história, mas é entendível o porquê dessa decisão junto de seu final “agridoce”. Depois de tantas coisas e pessoas horríveis, o fim tinha que ser esperançoso. Não apenas para a narrativa, mas para nós também.

“O Diabo de cada dia” é um filme executado de maneira correta e com uma ótima escalação de personagens. Apesar do filme ter um ritmo lento em alguns momentos e tropeçar na famosa casualidade de antologias, ele usa a violência e aumenta o seu ritmo de maneiras precisas e realísticas. Com um final amargo e ao mesmo tempo agradável, o longa se tornou um dos melhores que se pode encontrar no catálogo Netflix.

NOTA: 7.5

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Lucas Almeida De Sousa
CRITTIQ
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18 anos, morador de São Paulo, Brasil. Sempre tive entusiamo para escrever e tirar fotos. Futuro jornalista e se tudo der certo, escritor também.