Crítica — O livro dos ressignificados
João Doederlein consegue de maneira soberba, se consolidar como um ótimo primeiro passo a iniciantes na poesia.
Este ano, decidi me desafiar em novas leituras. Ressignificar o que é leitura para mim (Às vezes, nem tanto). Foi então que ganhei de presente O Livro dos Ressignificados. Diria que foi um tiro certeiro.
Sempre tive muito interesse em ler livros de poesia, mas não sabia por onde começar. Eis que me deparo com o primeiro livro de João Doederlein, mais conhecido como @Akapoeta. No Livro, João faz o trabalho de ressignificar palavras e sentimentos. Em paralelo, cria uma jornada lúdica entre vários momentos do livro que se conectam entre si e de certa forma, cria um laço entre nós e o Autor.
Ressignificar algo, torná-lo novo, é algo muito difícil de se conseguir. Para o seu primeiro desafio autoral, João consegue realizar um feito muito interessante. Ele retransforma o sentido de palavras, signos e lugares através de poesia ou enxertos pequenos. Contudo, ser curto não significa não ser bom ou interessante. Eu vejo uma boa semelhança neste livro com uma outra paixão minha: o cinema. Na maioria das vezes, os filmes nos mostram diálogos expositivos demais. Linhas de conversas que são jogadas de maneira bruta e incisiva, apenas para fazer a trama andar mais rápido. Esse é o grande trunfo da poesia ainda existir nos dias de hoje. Ser uma arte sucinta, precisa e com um significado além daqueles encontrados nos versos. Esse é o grande poder de O Livro dos Ressignificados.
É visível que os enxertos, poemas, textos, palavras são de um acúmulo de anos. Mais precisamente, de anos e momentos do próprio João, como ele mesmo cita algumas vezes. É instigante pensar que este livro pode ser diferente para cada indivíduo de acordo com aquilo que você viveu. Alguns dos ressignificados que encontramos no livro, não me fazem ter tanto estigma que outros. Porém, é algo que talvez vá mudar um dia (eu espero). Por isso, eu deixo aqui minha sugestão: leia com calma.
Apesar de querermos devorar as 215 páginas em um dia e descobrir um novo significado de cada palavra, o livro parece que nos pede para respeitar o tempo dele. Ler uma palavra por dia, saboreá-lo com calma, ter suas próprias reflexões depois de descobrir um novo significado. O que pode pegar alguns leitores desavisados, como eu, de surpresa.
Ainda sobre respeitar o tempo, o livro nos guia sobre seis momentos diferentes: o jardim, o zodíaco, o coração, a mente, a cidade e a história de nós dois. Cada sessão/capítulo é muito bem estruturada com os ressignificados necessários. Assim como temos o jardim, que nos remete ao ar livre, estações e até mesmo insetos, temos o coração, que fala sobre as coisas que guardamos nele. A maneira que ele flui entre os temas apresentados é quase perfeita, se não fosse pela parte do zodíaco, que chama menos a atenção do que outros. Mesmo não sendo um leitor assíduo do meu horóscopo todos os dias, acredito que seja um pouco cansativo ler sobre signos que não diz respeito a você.
Contudo, o livro volta a ganhar tração no capítulo intitulado como “coração”. Ao que parece, a obra começa a criar uma viagem lúdica que vai mudando seu foco de maneira leve e que seria imperceptível se não fosse os textos e poemas introdutórios. Ou seja, vemos aqui a viagem, vivências, sentimentos, felicidades e decepções de um homem que tem muito a dizer. E que pode ser qualquer um de nós. Portanto, João mostra que ele é um autor fruto de seu tempo: Mesmo com sua carreira nascendo entre meios as redes sociais, ele teve a coragem de ressignificar a sua vida através dos livros (apesar de hoje existir o kindle).
O Livro dos Ressignificados é uma ótima porta de entrada para leitores que gostam de poesia, mas não sabem por onde começar. Para aqueles que procuram ler sobre sentimentos e não buscam palavras difíceis. Ou simplesmente, para aqueles que procuram uma boa leitura.
Nota: 8/10
