Manual do “Quero abrir uma loja de boardgames/cultura geek, mas não tenho o dinheiro e nem sei por onde começar”

Pedro Schmitt
Ludoteca
Published in
18 min readApr 7, 2019
Ludoteca BGC: Loja de boardgames e cultura geek em Brasília

Dois pontos antes de iniciar a leitura:

1- Esse é um post longo! (mas todos que leram disseram que é um texto leve e rápido).

2- Eu não sou melhor que você. Você pode ler o manual e concordar. E você também pode ler e discordar totalmente e não seguir o que falo. E está tudo bem.

Esse manual foi escrito baseado na minha experiência na Boardgame em Casa e depois da loja Ludoteca (Brasília), de inúmeras conversas com pessoas que estavam planejando abrir uma loja e com vários outros lojistas mais experientes do que eu.

1. ESSE TEXTO É PARA QUEM? O QUE VAI MUDAR APÓS VOCÊ LER ESSE MANUAL?

Se você aspira ter uma loja geek ou de jogos de tabuleiros, meu objetivo é que você possa dar passos rápidos, simples e imediatos para iniciar seu projeto, mesmo sem dinheiro ou experiência.

Se você sempre quis empreender nesse ramo, mas não sabe muito bem por onde começar e não tem um capital de alguns milhares de reais guardado, esse manual será útil e te ajudará a iniciar e descobrir logo se essa é sua vocação. Ou descobrir logo que na verdade não era isso que queria, muito pelo contrário, e economizar seu tempo e dinheiro 😋.

2. QUEM SOU EU

Meu nome é Pedro Schmitt e sou um dos fundadores do antigo site Boardgame em Casa e atual loja Ludoteca BGC, em Brasília. É a maior loja do Centro-Oeste e uma das maiores do Brasil, com 210 metros quadrados, 700 jogos para aluguel no acervo e faturamento anual acima de 1 milhão.

Claro que nem sempre foi assim…

Começamos apenas com um site de aluguel e com o acervo particular meu e dos meus sócios iniciais Charlon Portugal e Joana Nóbrega.

Demoramos 4 meses somente para conseguir alcançar o faturamento com assinantes de meros 500 reais por mês, e para mim foi uma comemoração!

Para chegar na loja atual levamos 6 anos, com muitos altos e baixos, prejuízos e lucros, investimentos de novos sócios e, principalmente, muito trabalho, dedicação e amor (piegas… mas é verdade).

3. O SEU SONHO

Se está lendo isso, você provavelmente se interessa por empreendedorismo (a palavra da moda 🤸) e já passou pela sua cabeça a vontade de ter algo ou atuar na área.

Meu whatsapp sempre foi aberto para quem está abrindo uma loja e tem dúvidas ou quer dicas, ou para quem já é lojista e deseja saber como fazemos as coisas na Ludoteca.

Depois de conversar com muitos novos lojistas que abriram lojas novas (ou desistiram), e ter amizade com vários outros veteranos, estou escrevendo esse manual para deixar de fácil acesso o que penso que funciona hoje, o que recomendo e o que não recomendo para quem vai iniciar.

E mais importante, como eu entendo que você pode iniciar os primeiros passos do seu empreendimento hoje, antes de gastar dinheiro, pegar um empréstimo, ou se perder em burocracias infinitas.

4. O QUE NÃO RECOMENDO

Vou iniciar pelo que NÃO recomendo: abrir uma loja virtual! 😐

Sim, acredite. Loja virtual não é mais uma maneira viável de começar (já foi).

Se você me encontrasse há dois anos atrás, esse seria o primeiro passo que eu recomendaria para alguém começar: abrir um site com loja virtual, em casa mesmo.

Eu comecei assim, (mas era um site de aluguel de jogos e não de vendas). E a famosa Loja Lúdica também, por anos focaram apenas no site antes de terem a atual loja física. E vários outras lojas de boardgames começaram assim e se mantém somente como site até hoje.

Se você procurar no youtube vai até achar um vídeo com um especialista em loja virtual entrevistando a Ludoteca e falando da loja virtual etc.

Mas isso foi há algum tempo…

Na verdade hoje, no mercado de boardgames, é ruim começar com uma loja virtual.

3 principais motivos inviabilizaram o fácil início com uma loja virtual, e os nomes deles são AMAZON, ESTOQUE e CORREIOS.

  • Amazon (e até mesmo outras lojas como Cultura):

Não tem como competir diretamente. Incrivelmente eles conseguem vender num valor próximo do preço de custo que você vai comprar os jogos (e algumas vezes ABAIXO do custo). E ainda enviam com frete grátis. E ainda parcelam em 10x. E ainda rola promobug com estagiário aprontando e os fóruns mostrando o tutorial de como entrar pelo navegador no modo anônimo, com cupom de outra promoção e com retorno em crédito da meliuz e do AME e não sei mais o que…

É tão trágico, que na Ludoteca não foi uma ou duas vezes, mas VÁRIAS vezes que compramos jogos dessas lojas, ao invés do fornecedor. Às vezes você só precisa de um cópia do Dixit ou de outro jogo, para repor uma peça ou atender um cliente, e nem tem como juntar o valor necessário para fazer o pedido mínimo de um fornecedor, fora o valor do frete.

Então é uma concorrência desleal.

  • Estoque:

Para abrir uma loja virtual você tem que investir e comprar estoque, e depois torcer para vender. E tem um monte de lojas virtuais de boardgames que estão com estoques parados, e por isso começam a dar descontos altos, e vendendo até abaixo do custo, porque tem os boletos dos fornecedores para pagar. Basta olhar no Price Quest como volta e meia aparece um jogo com valor muito menor que tabela.

Eu pessoalmente já conversei com dois lojistas que abriram lojas virtuais, mas depois fecharam e ficaram com prejuízo e estoque parado em casa.

  • Correios:

Preciso falar? Não tem graça ficar chutando cachorro morto. Se a sua loja não estiver no mesmo Estado do cliente ou se você não for de São Paulo, acabou. Mandar um zombicide para o interior do Sul ou no Nordeste custa por volta de 50 reais de frete… Todos vão preferir comprar no Amazon, claro.

Por isso que hoje não recomendo esse caminho no ramo de boardgames. Comprar estoque, criar um site e torcer pra dar certo, sem antes ter um grupo de clientes já existentes e fiéis a você, é suicídio.

Você pode me dizer algo como “…mas Pedro, eu tenho um amigo que trabalhava numa empresa fazendo marketing, e ele pediu demissão e com o dinheiro do FGTS montou uma loja virtual na casa dele mesmo e fez uns anúncios no Google e Facebook e hoje está super bem, ganhando mais do que no antigo emprego e trabalhando de casa…”

Tudo bem, eu acredito em você. Nesse caso o seu amigo tinha dinheiro (FGTS), sabia por onde começar (já trabalhava com marketing e anúncios) e provavelmente não abriu uma loja virtual de jogos de tabuleiro, e sim em outro ramo. Mas aí o manual dele se chamaria “tenho dinheiro, sei por onde começar e não quero abrir uma loja de jogos” né 😋

5. O QUE RECOMENDO

Há quatro caminhos que eu vejo hoje (2019) que são viáveis para germinar a semente da sua futura loja.

Eles não são excludentes, você pode escolher um ou mais ao mesmo tempo, se tiver disponibilidade.

Dependendo da sua vida, talvez alguns não sejam possíveis. Você pode ter filhos, ou um emprego com faculdade, e não consiga fazer os quatro.

Mas com alguns ajustes pelo menos um deles você deve dar conta de realizar.

A. EVENTOS

Sempre cabem mais eventos!
Faltam eventos em diversas cidades e nichos.
Nós adoramos nos encontrar e jogar.
Pegue algum outro hobby ou área sua e combe com a área de boardgames.

Exemplos:

  • Evento de boardgames em inglês, que só pode falar em inglês durante o jogo. (Para estudantes e quem quer treinamento ar/praticar).
  • Evento de boardgames focado em jogos com miniaturas, com oficina de pintura junto. Você pode até incluir no valor da inscrição o custo já de algumas tintas e da miniatura do zombicide ou outro jogo, para que qualquer um que chegar possa participar.

E em cada evento colete a lista de email. Pergunte para os participantes se eles gostariam de ser avisados do próximo evento por email. (Evitar mandar emails chatos ou de vendas, se comprometa a só avisar sobre o próximo evento).

Você a cada mês irá montando o seu público. Em um ano terá um grupo fiel, que curte seus eventos e te apoia, e que ficarão muito felizes se você depois decidir abrir uma loja.

Como conseguir espaço para seus eventos

Deixa eu te contar algo: a maioria dos lojistas ADORA que façam eventos no espaço deles.

Como fazer isso: escreva um mini-projeto do seu evento, abordando:

  • duração
  • custos
  • público que vai chamar
  • valor da entrada
  • tempo do evento

Vá nas lojas de boardgames, lojas geeks, espaços de coworking, lojas legais de café, livraria, etc, mostre o projeto e pergunte se o lojista gostaria de ceder o local.

E ofereça METADE do lucro do evento para ele, fora as vendas/consumo que ele terá já naturalmente pelo fluxo de pessoas.

Aí você pergunta: “ Mas oferecer a metade?😦 Sendo que o trabalho é todo meu???”

Sim. O seu foco agora não é ganhar dinheiro, e sim formar um evento fixo e uma comunidade. E tenha certeza: dificilmente vc vai lucrar mais do que 100 reais nos seus primeiros eventos. Talvez tenha até prejuízo. Mas a experiência vai te mostrar o que não fazer no próximo evento, diminuir os custos e aumentar os ganhos.

Na Ludoteca já cedemos espaço para vários eventos. Na verdade, sempre torcemos para que alguém da comunidade tenha uma ideia legal e queira realizar o seu evento na Ludoteca.

Alguns exemplos que lembro agora de cabeça que já rolaram aqui trazidos por clientes, que nós cedemos o espaço e fechamos valores:

  • Corujão com campeonato e prêmios;
  • Campeonato de Heroclix;
  • Noite de RPG especial;
  • Oficina de pintura de miniaturas;

Tenho certeza que se você fizer essa proposta para 10 lojas uma irá aceitar e você irá ter o local do evento sem precisar alugar um espaço.

E quando conhecer o lojista melhor, explique que você também aspira ter uma loja geek, que acha muito bacana, e peça dicas para ele.

Talvez os proprietários sejam umas pessoas bacanas e abertas, e te contem várias coisas. Talvez sejam pessoas fechadas que prefiram não dar dica nenhuma.

Mas o que mais importa é que você está sendo honesto.

E aqui quero aproveitar para abordar um ponto muito importante: o ativo mais importante que você tem é a sua IMAGEM 📸.

Zele por ela como se fosse a sua Oceania no tabuleiro do War (eu sei que War nem é considerado por muitos um boardgame de verdade, mas é o único que lembro de ter uma região tão desbalanceado em comparação com as outras)

Ainda mais no mundo de lojistas de boardgames, que é super pequeno e todo mundo se conhece. Se você vacilar com alguém, todos irão comentar…

Então ao já abrir que você aspira ter um loja também, ninguém vai se sentir depois “traído” e nem vai dizer “ah, o fulano era parceiro e usava a minha loja para os eventos dele e depois virou meu concorrente”. Não.

Você já deixa suas aspirações claras desde o começo, e quando abrir uma loja os outros lojistas serão seus parceiros, e não seus concorrentes.

B. ALUGUEL DE JOGOS

Foi assim que a Ludoteca iniciou, alugando jogos para assinantes mensais.

E até hoje uma das melhores receitas líquidas da nossa empresa são os aluguéis e os assinantes mensais. (Temos um serviço de assinatura, o cliente se associa e paga entre 80 a 140 reais e pode pegar de um a três jogos, com trocas infinitas.)

O que faz o aluguel ser excelente para uma loja é o lucro líquido dele.

A venda de um jogo Dixit, de 159 reais, que custa 109 reais para o lojista, dá um lucro bruto de 40 reais. Fora se você não der cupom, desconto, gastar com embalagem, etc.

O aluguel, você pode cobrar 10 reais por dia ou 30 a 40 por semana.

E pronto. O jogo volta e você o aluga de novo. Com 4 aluguéis de uma semana o jogo já pagou o custo, já deu lucro, e ainda por cima continua sendo seu.

E se o cliente gostar e quiser comprar você decide se vende para ele.

E o estrago? A média de perda é de 5%. A cada 20 aluguéis, um vai dar problema. Aí ou você cobra do cliente e dá a cópia com a peça estragada/perdida para ele, ou compra outro Dixit, e usa o estragado para ser a sua base de reposição de peças para qualquer futuro dano.

Fora que em vários dos títulos de jogos para aluguel, diferente de jogos para venda, não tem problema se o tabuleiro estiver com um pequeno amassado em um lado ou se faltar uma carta. O Dixit é assim. Não altera a experiência de quem está alugando para jogar e depois devolver.

Isso é que nem Uber, não dá para se apegar ao carro e nem ao jogo. Você irá vê-los como uma ferramenta do seu empreendimento.
Os jogos queridos 💖 que você tiver um amor pessoal você deixa em casa.

Eu desenvolvi um sistema para controlar aluguéis na Ludoteca, chamado Acervo de Jogos, e abri a possibilidade para qualquer um utilizar. Hoje já tem lojas em alguns cantos do Brasil que o usam o nossos sistema para controlar os aluguéis e mensalistas. É um sistema pago, porque ele já inclui tudo que eu acho necessário para alguém alugar um jogo e que eu senti falta de ter há seis anos atrás quando comecei: já te dá um endereço na internet com seu nome, mostra online uma tabela de preços para assinantes, com um botão para ele assinar e já pagar com cartão de crédito, fornece um modelo de contrato, envia e-mails automáticos de aluguel e devolução, e também e-mails avisando o cliente se ele estiver atrasado.

Além disso mostra online se um jogo está alugado ou se está disponível, sem o cliente ter que ficar te ligando pra perguntar.

Tudo o que me deu muito trabalho quando iniciei foi colocado lá, para qualquer um focar em alugar rapidamente, e não em como montar a estrutura para isso.

No entanto você não precisa gastar dinheiro com sistemas para iniciar seus aluguéis. Tem várias maneiras. Pode fazer uma planilha online, pode colocar a lista dos seus jogos para aluguel em um blog, pode fazer como a locadora de boardgames do Fora da Caixa (que hoje tem um dos maiores acervos do Brasil, se não for o maior), que colocou todo o acervo no Facebook para as pessoas consultarem, pode fazer uma lista no Ludopedia, etc

Depois de alugar alguns jogos e ter alguns clientes, e receber seu primeiros reais🤑 alugando jogos, aí você decide se contrata/investe em um sistema ou não.

Outra maneira muito bacana de iniciar é alugar seus jogos em ambientes de outras empresas.

Eu explico mais sobre isso no próximo item, “atendimento itinerante”.

Exemplos de empresas que lembro de cabeça que alugam boardgames:

  • Balboa’s Hobby Games — CE
  • Encounter — SP
  • Funbox — SP
  • Fora da Caixa — PR
  • Grifo Jogos — SC
  • Lends — RS
  • Ludoteca — DF
  • Meepleverso — DF
  • Place Games Locadora — SP
  • Safe House — SP

(Avisem sobre lojas que alugam jogos que você conhecer e não estiver aqui, para eu adicionar)

C. ATENDIMENTO ITINERANTE / Fixo em um comércio que não seja de boardgames

Existem locais/empresas que tem um ambiente propício para você levar seus jogos e alugar para os clientes deles. Restaurantes, escapes rooms, livrarias, lojas de cultura geek, etc. São locais que os clientes passam bastante tempo, às vezes tem que esperar, e só tem a se beneficiar se tiverem jogos por perto. Você pode propor estar lá com seus jogos em dias específicos oferecendo o aluguel, e em troca dar parte do lucro para a loja.

Vá num restaurante com sua coleção, converse com o dono, explique sobre os boardgames, dê exemplos de locais que já fazem isso, e pergunte se ele não gostaria de fazer um teste por dois finais de semana. Assim como no caso dos eventos, ofereça metade do lucro para ele, só pelo fato te ceder o espaço. Deixa claro que ele não terá nenhum gasto ou investimento. E foque no ponto que os clientes dele vão amar! E isso será um diferencial em relação aos outros concorrentes.

E já de o cartão lá pra quem te conhecer, divulgue que aluga os jogos por semana para quem quiser levar para casa.

Fizemos isso numa Escape Room em Brasília.

Enquanto os grupos esperavam sua vez, tinha jogos rápidos disponíveis para eles.

Exemplos:

Um exemplo lindamente bem executado disso é dos meus amigos Rafael Sales e Aline Sales da Encounter, em São Paulo. Eles fizeram uma parceria um restaurante muito bacana, e levaram os jogos para lá. Quem quiser jogar enquanto espera a comida paga uma taxa fica, entre 10 a 20 reais. E no fim tem pessoas que preferem ir naquele restaurante do nos outros, para poderem jogar com os amigos.

Outra loja que começou assim foi a Lends Club no Rio Grande do Sul. Antes de abrirem o próprio espaço, eles iam em bares e restaurantes nos fins de semana com o acervo pessoal, ficando a disposição para explicar os jogos para quem quisesse jogar.

D. TRABALHAR EM UMA LOJA DE BOARDGAMES JÁ EXISTENTE

Na Ludoteca tivemos um funcionário assim.

Ele entrou e desde o começo nos falou que tinha interesse em ser ou sócio da nossa loja, ou lançar um jogo, ou ter uma filial, ou abrir a própria loja. Ficou claro que ele tinha a vontade de empreender e não simplesmente ser um funcionário. Ele veio trabalhar na Ludoteca ganhando muito menos que no emprego anterior. Mas por um ano ele trabalhou muito, se envolveu e tocou eventos, campeonatos, cálculos dos lucros, etc.

E depois de pegar experiência, ver o que dava certo e o que dava errado, ele conversou conosco e saiu para abrir a própria loja, do jeito que ele achava que deveria ser, algumas coisas iguais a da Ludoteca e outras lojas mas outras opções totalmente diferente para os clientes.

Outro caso famoso é o da Funbox de Curitiba.

O dono de lá foi funcionário na Funbox de São Paulo por anos, e desde o começo quando entrou ele já combinou com a dona que queria abrir uma outra loja ou filial, e que iria trabalhar lá e aprender para isso. Enquanto trabalhava na Funbox ele fez muito mais do que um funcionário normal faria, sendo proativo e cuidando como dono. E depois de aprender e juntar dinheiro e jogos abriu a filial dele.

Essa é a opção mais restrita, por exigir um edição de 40 horas semanais, ou mais. E o salário numa loja de tabuleiros dificilmente será mais que um salário mínimo.

E você ainda tem que ser contratado né 😹?

Mas se você tem essa gana empreendedora, e mostrar ao dono da loja que você tem muito mais a adicionar que um funcionário padrão, que pretende aprender e tocar projetos proativamente, trazendo eventos, campeonatos, etc, (ou seja, se você mostrar ao dono que ao te contratar ele está ganhando não um funcionário, mas sim um parceiro que vai ajudar a empresa dele a crescer mais) pode ter certeza que vai estar muito à frente dos outros candidatos.

E esse caminho é um dos que mais vai te preparar antes de abrir a sua loja, e irá reduzir imensamente o seu risco de entrar na estatística do Sebrae, na qual 80% das empresas no Brasil quebram antes do 5º ano.

E reitero o que já falei no primeiro item:o ativo mais importante que você tem é a sua IMAGEM 📸.

É muito melhor ser honesto desde o princípio e contar suas intenções. A pior coisa é você ser um funcionário que nunca conversou nada disso com o dono da loja e depois sair com as informações e abrir um concorrente dele na cara dura. Essa é a receita perfeita para ser odiado, comentado em todos grupos de lojistas e fornecedores e fazer qualquer futuro lojista ter um pé atrás com você quando for fazer parcerias, contratos e eventos em conjunto.

6. PORQUE É IMPORTANTE VOCÊS PASSAR POR UM DESSES PASSOS ANTES DE ABRIR SUA LOJA

Porque vai te permitir descobrir e sentir na pele o que é:

  • Você fazer tudo certo, da melhor maneira possível, e mesmo assim um cliente te xingar no facebook;
  • Passar 3 meses sem ganhar um real, e ainda precisar gastar uns 1000 reais do bolso, criando experiências legais para as pessoas (e um cliente te xingar no facebook);
  • Ficar até as 4h da manhã acordado trabalhando para conseguir terminar o que prometeu fazer (e um cliente te xingar no facebook);
  • Ver todos seus amigos indo para um show ou um evento maneiro e você não poder ir porque tem que trabalhar/cuidar de um campeonato (onde alguém vai te xingar, ao vivo e depois no facebook);
  • Organizar um monte de coisa legal, receber um monte de gente que vai curtir, depois todo mundo ir embora feliz, e você perceber que ficou sozinho para arrumar tudo num trabalhão louco (pelo menos ninguém te xingou no facebook. Ainda.)

Parece meio exagerado, eu sei. E com certeza tem muita coisa boa em ser lojista, que superam todas essas situações.

Você faz muitas amizades. Você se torna um ponto de referência na comunidade. E você aprende MUITO, MAS MUITO MAIS do que na faculdade ou em cursos.

Mas eu fiz questão de focar nessas partes ruins para você entender que uma hora isso VAI ocorrer, e você não pode levar pro lado pessoal e nem se magoar.

E talvez você descubra que seu emprego com 1 chefe era muito melhor do que ter a própria loja com 1000 clientes/chefes te cobrando.

Por isso que escrevo que é importante você passar pela experiência de um dos 4 caminhos que o indiquei, para descobrir logo se você lida tranquilamente com isso ou não.

É melhor do que largar o emprego e montar a sua loja direto, pela empolgação de palestrantes que só contam as maravilhas de ser empreendedor, e descobrir depois a realidade.

7. A PERGUNTA DE OURO (OU: UMA REALIDADE DURA): VOU FICAR RICO COM UMA LOJA DE BOARDGAMES?

Eu sinceramente espero que sim. Mas adivinha porque o nome do manual não é “como ficar rico abrindo uma loja de boardgames”?

Os fatos são: eu ainda exerço atividade profissional fora da minha loja. Todos meus sócios têm emprego/atividades/projetos fora da loja. Várias donos das mais famosas lojas que converso mantém alguma atividade profissional ou renda extra fora da sua loja.

Mas também há vários lojistas que vivem bem com 100% da sua renda vindo da sua loja de boardgames.

É uma questão de como você vai crescer, qual o modelo de trabalho vai fazer, o quanto você é propenso a riscos (se tem ou não filhos, se precisa pagar um plano de saúde para uma avó, etc), de qual o padrão de vida você leva, entre outros fatores. É muito pessoal.

Mas ainda não encontrei um dono de loja de boardgame que esteja rico, com um porsche e indo para Miami todo mês com a renda somente da sua loja.

Na verdade o que já vi foram várias lojas fechando, por não serem sustentáveis.

Se você for abrir uma loja e ficar na mesmice de apenas vender os jogos das editoras, sem fazer nada diferente, provavelmente você vai passar (muito) aperto.

Um dia desses passou uma matéria no Pequenas Empresas Grandes Negócios mostrando a “maravilha” das casas de jogos de tabuleiro, e entrevistaram um par de sócios que tinha uma loja que faturava 6 mil reais…

Esse valor bruto de 6 mils (que se der 3,5 mil líquidos, após o custo de compra dos jogos e comidas, já é ótimo), para pagar:

  • O aluguel, água e luz;
  • As taxas governamentais;
  • O funcionário contratado ( que se ele ganhar apenas um salário mínimo e mais nada, na verdade ele te custa uns 1800 reais no total)
  • A manutenção dos móveis (você acha que nós nerds gordos felizes e assumidos precisamos de cadeiras baratas e simples que duram duas jogatinas ou cadeiras reforçadas de 400 reais que duram 6 meses e ainda assim quebram?)
  • O pagamento dos dois sócios;
  • O retorno do investimento que gastaram para abrir a loja;
  • Alguma coisa que ninguém imaginava que ia acontecer, do tipo “choveu um temporal e uma goteira apareceu exatamente em cima do estoque de jogos e estragou justamente os zombicides…” (Acham exagero??? Aconteceu EXATAMENTE ISSO na Ludoteca numa chuva em 2015)

A conta simplesmente não fecha. Não tem como.

Converse com qualquer lojista e pergunte.

Estou escrevendo isso apenas para você botar o pé no chão, não para te fazer desistir 😂.

Não desanime!

Tem inúmeras lojas que vão muito bem, e tem donos muito mais felizes e com saúde do que se estivem todo dia numa mesa fazendo trabalho de escritório para uma empresa que depois poderia demiti-lo.

Apenas saiba que há riscos e que não existe dinheiro fácil. Se souber disso, não terá surpresas e trabalhará consciente.

8. CONCLUSÃO + AÇÃO: Mova-se!

Começar pelos caminhos que indiquei, antes de abrir um loja de cabeça, irá te ajudar muito a se preparar melhor para ter sua futura loja, e evitar esses riscos e problemas descritos acima.

Esses são os únicos caminhos? NÃO!

Existem outras maneiras? SIM!

Mas o caminho que indico é mais viável do que você pegar um empréstimo gigante no seu nome (ou pior, no nome da sua mãe👩), abrir uma loja física do zero, sem nunca ter atendido um cliente antes, com compromisso no contrato de aluguel de 12 meses + taxas do governo e torcer para dar certo? COM CERTEZA!

Qualquer um desses passos é um step em direção a sua empresa.

Então vai lá e comece o embrião do seu negócio hoje. Pegue seus jogos, sua coleção pessoal, e parta para o ataque.

Não interessa se você tem apenas 7 jogos.

Organize um evento, ofereça aluguel, encontre um local/restaurante/comércio/evento legal que precise de uma animada e você sinta que as pessoas que circulam por lá gostariam de conhecer boardgames.

Se você aspira empreender e realmente quer isso, não tem porque esperar ficar velho👴!

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Números, valores, pepinos, dúvidas, dificuldades, facilidades, etc.

Pergunte qualquer coisa!

(Para o “qualquer coisa” não ficar muito aberto, vou colocar a famosa frase do meu sócio Gianlucca: se possível, evite necromancia)

Conforme as dúvidas surgirem, eu vou colocando-as aqui e atualizando a postagem, para deixar como repositório de consulta.

PS: Se você quiser uma versão desse manual em PDF, basta me mandar um email no pedromartins.bsb@gmail.com, com o título “Manual PDF”

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Pedro Schmitt
Ludoteca

Co-founder Ludoteca BGC e Acervo de Jogos, Ruby on Rails developer