“Vinyl” celebra cenário musical da década de 70

Luiz Filipe Paz
Luiz Filipe Paz
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5 min readJan 17, 2018

A série “Vinyl”, uma das mais aguardas do ano, chegou por aqui cheia de pompa! A HBO transmitiu simultaneamente seu piloto em terras americanas e brasileiras! E, para quem não sabe, a trama é uma criação de 3 nomes importantes do mercado: o cineasta super premiado Martin Scorsese, o produtor executivo Terence Winter e (PREPAREM-SE) Mick Jagger, o líder dos lendários Rolling Stones!

Bem-vindo à Nova York de 1973, onde se passa a narrativa! Acompanhamos a saga de Richie Finestra (Bobby Cannavale), dono da famosa gravadora American Century Records, e de seus esforços para mantê-la em meio a crises no âmbito fonográfico e a disputas com as estações de rádio da época. Vemos que as coisas não andam nada bem para a ACR quando ela deixa de ser líder do mercado musical e passa a correr o risco de ser vendida para um grupo alemão (devido à tentativa de sanar dívidas).

Richie à frente de sua equipe

Em meio aos problemas profissionais, Richie também tem de lidar com os familiares. Casado com a ex-modelo e atriz Devon (interpretada, brilhantemente, por Olivia Wilde) e tendo dois filhos com ela, o empresário, devido aos problemas que enfrenta em seu ofício, acaba por confundir os ambientes e torna-se um marido e um pai cada vez mais omisso e problemático.

O que movimentou grande parte do piloto foi a busca por uma nova banda que fosse capaz de tirar a American Century Records da lama. Aí entraram em cena os bem humorados e divertidos sócios de Richie: Julie Silver (Max Casella), Scott Levitt (P.J. Byrne) e Zak Yankovich (Ray Romano). Eles funcionam muito bem como alívio cômico às situações e como braços direitos do protagonista, garantindo bons momentos em cena!

Porém, mais atrapalhados do que outra coisa, os 3 decidem adiantar logo a venda da gravadora ao grupo alemão, deixando Richie chateado e sem esperanças de ver seu negócio voltar aos seu dias de glória, ao auge. Quem realmente se empenha e demonstra ser uma das únicas funcionárias a estar totalmente disposta a levantar a empresa é a emblemática Jamie (June Temple), uma jovem secretária que, para ganhar uma renda extra, trafica drogas e tem o sonho de morar sozinha, longe dos pais.

Jamie é quem descobre a banda Nasty Bits — quando o vocalista, Kip, deixa com a moça uma fita de seu trabalho para ela avaliar. Ela, então, decide ir ao show dos caras e vê que têm estampa, personalidade, faltando apenas aprimorar seu talento. Resta ver no que isso vai dar daqui pra frente.

Mas nem só de Rock vive a série. Outro ritmo de bastante destaque é o Blues, que ganha sua história em flashbacks do personagem principal, Richie, quando ele ainda estava iniciando sua jornada no ramo musical. Aí estamos nos anos 60 e Finestra agencia seu primeiro cliente, Lester Grimes (Ato Essandoh), um cantor negro e que se vê pressionado a abandonar suas matrizes e preferências melódicas para conquistar seu espaço no mercado. Questões como o preconceito racial e o cultural são constantemente postos em pauta neste ponto da obra, representando as latentes desigualdades e os conceitos segregacionistas dos americanos na época.

Richie e Lester em início de carreira

Um fato bastante curioso é que, sempre quando somos levado aos flashbacks, performances de famosos exemplares da música negra americana, como, por exemplo, “Mama He Treats Your Daughter Mean”, de Rita Brown, são performados em sequências de encher os olhos, tirando o telespectador da década de 70 e o transportando para o passado. E o mais legal de tudo é que sabemos que a música negra, principalmente o Blues, teve um papel fundamental para o rock’n’roll, estilo que é o carro-chefe da história!

Com um piloto de quase (pasmem) 2 horas de intensa ação, “Vinyl” promete ser mais um sucesso da HBO! E não faltam qualidades à série! Roteiro sagaz e impecável, caracterização maravilhosa e totalmente fiel à época, atuações no tom certo, direção inspirada e com muitos cortes e posicionamentos de câmera que fazem alusão aos seriados da década de 70 (além de close-ups bem demarcados e usados a rodo)…

Uma caracterização dessas, bicho!

E sem falar nas referências históricas, né? O piloto se inicia e termina com Richie ficando maravilhado com a performance do até então nem tão conhecido conjunto New York Dolls, que protagonizam sequências simplesmente deslumbrantes! E o que dizer de Led Zeppelin, que é constantemente citado no episódio e seu vocalista, Robert Plant, até ganha uma cena importante com Finestra, sendo crucial para o desenrolar dos acontecimentos iniciais!?

A trilha sonora também é bastante inspirada! O repertório vai de David Bowie à Abba!! E o bacana foi que, durante a transmissão do piloto e conforme as músicas eram executadas, o Twitter da própria série postava o link no Spotify que faz referência à composição, aprofundando a relação dos telespectadores com a história! Uma estratégia muito bem utilizada e que espero que continue ao longo da primeira temporada!

A história é um prato cheio para os amantes da música e, principalmente, do Rock! Cheia de ‘easter eggs’ (aqueles detalhes escondidos em cena), prepare-se para acompanhar uma trama regada a sexo, drogas e violência (sem brincadeira, prepare-se mesmo e leve a classificação indicativa a sério!). E digo que, realmente, vale a pena correr o risco!

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