Lugar de mulher é na ciência?

Mariane Ohashi
luizalabs
Published in
4 min readAug 2, 2018

É claro que é. Ou melhor, deveria ser. Mas as estatísticas mostram que ainda não é bem assim.

“Apenas 17 mulheres receberam o Prêmio Nobel em física, química ou medicina desde Marie Curie, em 1903, em comparação a 572 homens.”

Esta é a frase de abertura do estudo mundial Decifrar o código: educação de meninas e mulheres em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM), publicado este ano pela Unesco ( Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura).

Marie Curie e outros cientistas na conferência de Solvay, 1927

O cenário é aquele que já conhecemos: existe uma disparidade de gêneros nas carreiras em áreas denominadas STEM (ciências, tecnologia, engenharia e matemática), com maior participação masculina. Essa diferença começa a ser notada na infância, mas nada comprova a existência de diferenças inatas de aptidão entre meninos e meninas.

Então, por que não temos mais mulheres trabalhando em ciência e tecnologia?

A resposta é complexa e são muitos os fatores que afetam a trajetória dessas mulheres. Porém, segundo o estudo, o viés da autosseleção é um fator decisivo. Ele ocorre quando as meninas escolhem não seguir estudos ou carreira nessas áreas, por acreditarem, em muitos casos, que tais profissões não são compatíveis com o seu gênero.

Contudo, essa “escolha” é fortemente influenciada por construções sociais que as acompanham desde os primeiros passos. Os estereótipos de gênero reforçados pela família e pela sociedade levam as meninas a acreditarem que ciência é “coisa de menino”, que eles são naturalmente melhores em exatas. Ao longo dos anos, essas crenças moldam seus interesses e elas vão gradualmente perdendo a confiança e motivação para seguir na área.

O ambiente de aprendizagem tem também um grande impacto. Estudos mostram que a presença de professoras de ciências e matemática influenciam de forma positiva as meninas, que vêem nelas exemplos de sucesso a serem seguidos.

Em contraponto, docentes e materiais didáticos com noções estereotipadas de gênero podem agravar ainda mais a situação. Em uma análise de mais de 110 currículos nacionais da educação primária e secundária, a UNESCO revelou que em 78 países (71%), livros didáticos de matemática e ciências perpetuavam o viés de gênero, como no exemplo abaixo:

Fonte: Decifrar o código, 2018.

Levando essas concepções durante seu crescimento, elas protagonizam a maior disparidade no ensino superior, em que apenas 35% dos estudantes nas áreas de STEM são mulheres (média mundial).

As mulheres são maioria em cursos de Educação, Saúde e bem-estar e Artes e humanidades. Já campos como Tecnologia da informação e comunicação e Engenharia, produção industrial e construção contam com maior presença masculina. Fonte: Decifrar o código, 2018.

Em certos países e regiões, essa diferença pode ser ainda maior. Segundo dados oferecidos pelo coletivo Minas Programam, em 2015, de um total de 330 integrantes dos cursos de Computação da USP (Universidade de São Paulo), apenas 38 (11,5%) eram mulheres.

Dito tudo isso, como podemos mudar esse cenário?

A UNESCO sugere ações em todos os âmbitos para nos preparar melhor como sociedade para incentivar e apoiar nossas cientistas, matemáticas e desenvolvedoras do futuro:

Fonte: Decifrar o código, 2018.

Para expor nossas meninas a figuras exemplares, uma sugestão é o livro “Histórias de Ninar para Meninas Rebeldes”, que conta a trajetória de mulheres maravilhosas que quebraram diversas barreiras ao longo da história.
(Pausa para o jabá da firma. Tem no nosso site, aqui ó: Volume 1 e volume 2 :P)

Outro caminho é apoiar grupos aqui no Brasil que trabalham para a inclusão de meninas e adolescentes na área:

  • Technovation Challenge: Competição de tecnologia e empreendedorismo para meninas de 10 a 18 anos, que as desafia a criar e desenvolver soluções para problemas em suas comunidades.
  • Meninas Digitais: Programa da Sociedade Brasileira de Computação para incentivar meninas do ensino médio e últimos anos do ensino fundamental a conhecerem e se interessarem por computação.

Além disso, todos podemos fazer um pouquinho para inspirar e fortalecer a confiança das meninas ao nosso redor, reforçando que elas podem, sim, ser astronautas, programadoras, matemáticas ou qualquer outra coisa que sonharem.

E aí, bora contribuir para um mundo com muitas ganhadoras do prêmio Nobel? ❤

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