P&D Labs Innovation Digest #67 Do RJ, o que rolou no Rio Innovation Week e também a nossa participação no Google Cloud Summit SP

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luizalabs
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10 min readOct 9, 2023

Começou o último trimestre do ano, e a primeira edição deste período chega com conteúdo direto do Rio Innovation Week, que aconteceu no Píer Mauá, entre 3 e 6 de outubro. Escrita de terras cariocas, essa edição chega cheia de reflexões sobre o uso das ferramentas tecnológicas e como a gente evolui como sociedade a partir delas. De terras paulistanas, a gente conta também como foi a nossa participação no Google Cloud Summit, com o lançamento oficial do Cérebro da Lu com IA. Quer ficar por dentro do que chamou a nossa atenção? Então reserva 10 minutinhos do seu tempo e segue o fio, que tem muito conteúdo interessante.

A primeira coisa que a gente precisa começar dizendo é que teve muita discussão sobre Inteligência Artificial, e não estamos falando apenas das inúmeras aplicabilidades da generativa, mas no contexto sociológico e humano da tecnologia também. Se no primeiro semestre do ano, como vimos no Web Summit, em maio, o tema chegava em um contexto mais conceitual, sobre as possibilidades de uso da ferramenta, agora os painéis são baseados em cases, com a apresentação de resultados efetivos e impacto real com o uso das ferramentas. A discussão sobre regulação também permeou os discursos do palco principal aos específicos. Por outro lado, pensadores, filósofos e sociólogos trouxeram a reflexão sobre como nós como sociedade nos entendemos neste meio.

As pautas sobre direitos humanos, equidade de raça, gênero estiveram presentes em praticamente todos os palcos, não necessariamente apenas nos que tratavam sobre a temática de impacto e sustentabilidade. No Painel Mulheres na Liderança, moldando um futuro sustentável, no palco Conecta Varejo, com Ana Fontes, Fundadora e CEO da Rede Mulher Empreendedora, Renata Petrocelli, Diretora de Comunicação da Eletrobras, e Camila Araújo, Vice-presidente de Governança e Diretora de Sustentabilidade da Eletrobras o assunto foi o processo de pavimentação do espaço para que mais mulheres assumam cargos de liderança no ambiente coorporativo, bem com um olhar humano e sensível para a interseccionalidade, considerando mulheres negras e trans na equação.

Já o ambientalista e escritor Ailton Krenak esteve no RIW em dois painéis distintos, nós o acompanhamos no palco Impact Hub, onde dividiu o palco com o PhD em Ecologia, Fábio Scarano. Na ocasião, os dois partilharam o painel “O Futuro é Sustentável”, trazendo a importância de pensar e projetar um futuro comum, já que neste presente estamos pautados, produzindo e vivendo conforme as nossas individualidades. “Há cerca de 40 anos, o relatório do clima tinha como tema ‘nosso futuro comum’ e é importante frisar isso porque não existe futuro particular, o desastre é comum”, afirmou Krenak, determinando que, mesmo se houver uma cápsula capaz de transportar um grupo seleto de milionários para fora da Terra, isso não pode ser tido como a salvação.

Outro ponto destacado pelo ambientalista é a comparação da inteligência artificial com o mito da sustentabilidade corporativa. Afirmando que a forma como a tecnologia é tratada em alguns espaços, com o paradoxo da substituição humana para o de máquina, é comparável ao mito da sustentabilidade corporativa. “Se um dia alguém fizesse uma tese, na década de 1930, de que alguém iria desenvolver um polímero que iria comer a gente como vimos hoje com o plástico, seria similar ao que estamos lendo hoje sobre inteligência artificial”, criticou Krenak, o que considerou uma ficção futurista as alegações de que a Inteligência Artificial vai substituir a inteligência orgânica.

Inteligência Artificial em pauta

Enquanto a Globo levou para o palco principal do RIW, vídeos, áudios, edições feitas com IA em novelas, na cobertura da Copa do Mundo e produções exibidas em programas de entretenimento, Guilherme Sanchez, Head de Inovação do Hospital do Amor, o Hospital do Câncer de Barretos falou sobre a parceria com a startup Comsentimento, que usou a Generativa para analisar dados de 35 mil pacientes com câncer de próstata, a fim de identificar padrões que possam apoiar com o diagnóstico da doença nos estágios 1 e 2, quando o tratamento custa até 70% menos ao sistema de saúde, na comparação se for diagnosticada nos estágios 4 e 5.

“É o uso da tecnologia como meio para chegar a uma resposta viável”, afirmou Sanches, destacando a importância de processos de open innovation, já que eles tinham à disposição os documentos de diagnóstico dos pacientes e a startup, a tecnologia para ser utilizada. “Se não fosse dentro do hospital, eles nunca teriam acesso a 35 mil notas clínicas para validar e treinar a IA, o que inviabilizaria a comprovação da tecnologia”, completou.

Já a Amazon levou uma exibição da sua ferramenta de IA generativa Bedrock, lançado em abril deste ano, e disponibilizado para os clientes da AWS. O time técnico da Amazon descreveu a solução como uma evolução do processo de machine learning, que oferece uma biblioteca de modelos de IA para clientes que usam o serviço de servidor, utilizando o modelo de fundação para gerar diversos resultados. Outra vantagem destacada pelo time técnico da Amazon é que a ferramenta é a solução para evitar o vazamento de dados, como os ocorridos pelo GPT, já que o Bedrock não utiliza os dados inseridos para retreinar o modelo.

Assim como debatido no Web Summit, também no Rio, em maio, é urgente a necessidade de discussão sobre ética da ferramenta, com o estabelecimento de uma regulação para o uso aqui no Brasil, citando o AI Ethics, na Europa, que avançou no parlamento. “É preciso promover direitos e atribuir responsáveis à luz da extração de direitos, no aspecto não só trabalhista, mas constitucionais”, afirmou Bianca Kremer, professora da UFF, durante o painel LED, da Fundação Roberto Marinho, que teve a participação também de Zulu Anápuaká, CEO do Open Banking Indígena, Ligia Zotini, fundadora da Voices e Guilherme Guedes, apresentador e jornalista do Multishow. A preocupação é que o modelo não seja repetidamente treinado a partir de uma lógica classista, racista e LGBTfóbica.

Política e tecnologia

O segundo dia de RIW foi marcado pela palestra “Política de Tecnologia na Era Digital” do filósofo e pensador camaronês, Achille Mbembe e, no palco principal do RIW, ele fez uma analogia sobre as diferentes formas de presença, viabilizada pela tecnologia, uma espécie de reencarnação propiciado pelas ferramentas digitais, do poder de existir em mais de um lugar, em mais de um corpo, a partir do uso dessas ferramentas. “Somos agora capazes de transitar entre o corpo físico da pessoa e a imagem deste corpo nas telas”, afirmou. Ele conta que, de certa forma, atravessar telas se transformou na principal forma de realidade dos humanos modernos.

Mbembe explorou nessa realidade o conceito de animismo, que na filosofia representa a crença no fato de não ser possível dissociar o mundo espiritual do físico. Da mesma forma, a tecnologia nos introduz em uma forma de animismo, entre corpo real e virtual. Se no passado o animismo era o todo de comunidades primitivas, hoje é compatível com inteligência artificial, robôs, metaverso etc. Com o mundo se tornando mais cibernético, o ser humano foi teletransportado para plataformas onde essa metamorfose humana acontece.

Ele destaca que esta era da informação traz acessos, mas também contribui para a combustão do mundo, já que cada estágio de produção leva a uma grande quantidade de lixos e resíduos tóxicos, além de termos a tecnologia a serviço da extração, lembrando que cada aparelho eletrônico que temos em mãos é resultado do trabalho de pessoas pobres que atuam em minas na extração de materiais, como platina e lítio. E uma vez utilizados, os equipamentos são enviados a containers para países como Gana, que tornou-se o maior cemitério de eletrônicos do mundo, em que os metais valiosos como o cobre são retirados e o plástico queimado a céu aberto.

A diversidade no DNA do brasileiro

Outra presença internacional do evento foi a da política e ativista dos direitos humanos moçambicana Graça Machel, que começou sua fala afirmando que a diversidade está no DNA do brasileiro e é esta a característica essencial do “como eu existo como sociedade”. Ela destaca que é a partir desse prisma que precisamos falar de ciência e tecnologia, uma vez que essa disciplina reúne um conjunto de fatores capazes de promover a transformação cultural e de consciência.

“Se dermos possibilidades e oportunidades, a transformação da nossa sociedade será possível. É preciso intenção e intencionalidade para mudar esse mindset”, descreveu a ex-primeira dama de Moçambique, e também da África do Sul, quando casou-se com Nelson Mandela, em 1998, o primeiro presidente negro do país. Graça continuou a sua fala afirmando que, pelas características do Brasil, temos condições de sair da posição de país sub-desenvolvido para país desenvolvido, usando como exemplo a Coréia do Sul, que era um país pobre e agora figura entre as 10 maiores economias do mundo. “Não há razão para o Brasil não fazer isso nos próximos 30 anos”, enfatizou.

Aulas magnas internacionais

Entre as aulas magnas que completaram a agenda do palco principal do RIW, precisamos destacar dois nomes: Alex Osterwalder, o criador do Business Model Canvas, e Marc Randolph, o fundador da Netflix. O primeiro foi um dos principais nomes do palco principal no penúltimo dia do evento e Marc, esteve no último dia de feira, trazendo 3 lições empreendedoras, que diz ter aprendido ao longo da vida e que podem ser utilizadas por qualquer empreendedor que deseja desenvolver um negócio de sucesso.

Para iniciar a sua fala, Marc Randolph começou mostrando o prédio da Blockbuster, relembrando o dia em que esteve na empresa de locação de vídeos, no início dos anos 2000, oferecendo a Netflix por US$ 50 milhões, e os diretores da blockbuster se negaram a comprar um negócio que hoje é avaliado em mais de US$ 200 bilhões e a Blockbuster que já chegou a ter mais de 9 mil lojas, tem apenas uma unidade remanescente, em Oregon, nos Estados Unidos.

Além de resumir a história da Netflix, Marc quis trazer para os participantes os principais fatos que podem fazer com que um negócio desenvolvido hoje obtenha sucesso. O primeiro deles é desconstruir o mito de que é preciso estar no Vale do Silício, ter um diploma de TI ou um MBA. “Os empreendedores mais bem sucedidos não são necessariamente os estudantes que tiram nota A”, afirmou para exemplificar que as pessoas precisam de duas coisas para uma jornada empreendedora: tolerância com o risco, uma vez que eles sejam calculados; o fato de que você vai aprender mais em um dia fazendo do que em 3 meses construindo um plano de negócios, e treine-se para ver o mundo como um lugar imperfeito, procure pela dor do usuário e por coisas que podem ser melhor resolvidas. “Se questione sobre o que há de errado, vamos pensar em problemas que conhecemos bem. Uma vez que você ver o mundo como um lugar imperfeito, as ideias vão aparecer”, finalizou.

Já Alex Osterwalder começou sua aula demonstrando que o Business Model Canvas, desenvolvido por ele em 2004 é uma ferramenta voltada essencialmente para gestão, não necessariamente para inovar e que todas as pessoas de uma empresa precisam ter duas mentalidades: uma para gerir de forma eficiente os recursos e outra para inovar, tendo uma visão de futuro e compreendendo o que poderia matar o seu negócio para que possa agir antes. “O modelo de negócio é uma boa ferramenta para a execução, mas uma ferramenta estúpida para a inovação porque inovação tem um risco específico que você precisa gerir e quando você está inovando a incerteza é muito alta”, descreveu.

Como evolução da sua ferramenta, ele apresentou um score em que líderes podem avaliar o progresso que as equipes de inovação estão fazendo na busca por modelos de negócios que funcionem. Uma parte importante da inovação é testar novas ideias de negócios com experimentos, mas na mesma proporção de importância perceber se o objetivo não é simplesmente realizar experiências, mas sim fazer progredir a inovação. “O teste vai dizer se você está certo, e para testar com o usuário, a evidência forte é o call to action, em que você pede que as pessoas executem algo e, se elas fazem, essa é a nossa métrica de sucesso”, afirmou. O framework apresentado por ele, pode ser baixado aqui.

Cérebro da Lu no ar

E não foi no Rio Innovation Week, mas foi no Google Cloud Summit São Paulo que o nosso VP de Tecnologia, Andre Fatala, figurou como o keynote speaker na abertura do evento do Google apresentando o projeto que usa a inteligência artificial para recomendação de produtos. O serviço foi lançado na semana passada na categoria de celulares da webstore e os usuários podem interagir com o chat, descrevendo as suas necessidades de uso para um aparelho celular e a Lu faz a melhor recomendação com IA.

Durante a sua participação no último dia 5 de outubro, Fatala mostrou o funcionamento da ferramenta e as diferentes maneiras que os usuários podem interagir com a Lu para receber a recomendação de um aparelho celular. A ferramenta está no ar desde o último dia 2 de outubro, mas neste período de teste, apenas pessoas que acessarem a categoria de celulares no site do e-commerce poderão interagir com a experiência.

Caso você tenha perdido…

Em um bate papo cheio de dicas e novidades sobre inovação, carreira e tecnologia, o pessoal do Luizalabs — a área de inovação e tecnologia do Magalu — conversa semanalmente com diferentes convidados pra trazer um pouco de conhecimento e informação para você!

Nesta semana ficamos por aqui, espero que tenham gostado e até a próxima ;)

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