As próximas grandes revoluções tecnológicas

Edu Azeredo
Luneta
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8 min readFeb 22, 2017

Quarta Revolução Industrial? Achamos que é mais que isso!

Vivemos em um mundo chacoalhado pela revolução digital, e enquanto ainda tentamos nos acostumar ao mundo pós-digital, tem uma onda maior vindo.

Sim, é uma afirmação forte, e adivinhação não é com o que trabalhamos por aqui. Aliás, previsibilidade é algo cada menos presente no mundo. Mesmo assim, a tecnologia tem seus caminhos próprios e algumas tendências podem ser percebidas.

Descobertas múltiplas: A tecnologia de ontem é infraestrutura para a tecnologia de hoje

Elisha Gray: Assim como Graham Bell, ele inventou o telefone

Tendemos a observar invenções e descobertas como coisas vindas de epifanias e altamente dependentes da genialidade de um ou outro indivíduo. Mas essa visão romantizada não se sustenta na realidade, quando as invenções provém baseadas em trabalho consistente e suporte de conhecimentos anteriores que permitem que a atenção dos indivíduos seja focada em outras coisas.

Assim, tecnologias dominadas e difundidas fazem com que indivíduos completamente distantes uns dos outros e que nunca se comunicaram entre si chegassem às mesmas conclusões. Ou seja, o processo de inovação é menos aleatório do que pensamos.

Exemplos notáveis de descobertas múltiplas incluem Charles Darwin e Alfred Russell Wallace com idéias muito similares sobre Teoria da Evolução ou o caso de Alexander Graham Bell e Elisha Gray que inventaram o telefone no mesmo dia (Graham Bell ficou com a patente e o reconhecimento pelo feito, no final das contas).

Inclusive, eu não tirei isso do nada, mas do documentário Everything is a Remix.

Kevin Kelly, fundador da Wired, resume em seu livro The Inevitable essa característica da tecnologia e questões que surgem.

Há um viés na natureza da tecnologia que a pende para uma certa direção e não para outras. (…) Por exemplo, a forma de uma internet — uma rede de redes espalhada pelo globo — era inevitável, mas o tipo específico de internet que escolhemos ter não era. A internet poderia ser comercial ao invés de sem fins lucrativos, ou um sistema nacional ao invés de internacional, ou poderia ser secreta ao invés de pública. Telefonia — mensagens de voz transmitidas eletricamente à longa distância — era inevitável, mas o iPhone não. A forma genérica de um carro com quatro rodas era inevitável, mas SUVs não eram. Mensagens instantâneas eram inevitáveis, mas tuitar a cada cinco minutos não era.

Quarta Revolução Industrial?

Gente grande como o Fórum Econômico Mundial e empresas globais, denomina o atual contexto de inovação tecnológica, dominado por tecnologias como Internet das Coisas e Inteligência Artificial, como Quarta Revolução Industrial.

Recapitulando as três fases anteriores da Revolução Industrial:

  • Primeira fase: Durante o século XVIII. Criação do motor a vapor;
  • Segunda fase: Durante o fim do século XIX e início do século XX. Desenvolvimento de novos meios de transporte (carro, avião);
  • Terceira fase: Após II Guerra Mundial. Domínio da Tecnologia nuclear, desenvolvimento e expansão do uso dos computadores.

No entanto, achamos que o termo Quarta Revolução Industrial fala muito bem com CEOs e diretores de grandes empresas, mas deixa de cobrir muita coisa importante. Pois é um termo excessivamente focado na tecnologia e desvia a atenção para os impactos em outras áreas que serão impactadas pela tecnologia. É um termo que não dá conta da mudança de mentalidade necessária para as próximas revoluções tecnológicas.

Em alguns pontos da história a tecnologia causa profundas transformações sociais.

A Revolução Agrícola

“Não domesticamos o trigo. Ele nos domesticou.” Yuval Noah Harari

O domínio de técnicas de plantio trouxe enormes impactos na vida do ser humano. O mais evidente de todos, sem dúvida, foi a mudança do nomadismo para o sedentarismo. Mas outras mudanças importantes também ocorreram.

Reforçando ainda mais a tendência de sedentarismo, os humanos passaram a acumular mais objetos. A maior oferta de comida permitiu o aumento da população. A produção excedente ficava com grupos restritos, criando elites.

Mapa da Revolução Agrícola. Fonte: National Geographic

Apesar do termo sugerir um evento monolítico que se espalhou ao longo do globo, a Revolução Agrícola aconteceu de forma de independente em diversas áreas. Lembram das descobertas múltiplas? Pois então. Sem internet, imprensa, escrita ou qualquer tecnologia de compartilhamento de conhecimento, humanos chegaram separadamente à mesma conclusão de plantar sementes e se tornarem sedentários.

Com o sedentarismo, os seres humanos se tornaram mais “pesados”. Não mais eram portáteis ao ponto de terem somente os objetos que poderiam carregar — ideal para o nomadismo dos caçadores e coletores. Com suas casas passaram a acumular mais coisas.

A Revolução Industrial

Escola em Lagos, Nigéria. Nossa educação é o maior legado presente da Revolução Industrial. Sem dificuldades, você encontra em qualquer canto do mundo uma escola com alunos uniformizados, cada um na sua posição e um professor na frente da turma.

Com o advento do motor a vapor e outras invenções a partir do século XVIII, a produção das coisas que os seres humanos passaram a acumular no seu sedentarismo se tornou mais eficiente.

O processo de produção deixou de ser à mão e passou a ser feito à máquina, e essas novas máquinas demandavam mão de obra para operá-las. Assim muitos trabalhadores rurais foram para cidade se tornar operários.

A educação pública surge exatamente no contexto de revolução industrial. Com seus uniformes como em um ambiente de fábrica, com horários tais quais os turnos, matérias segmentadas como uma linha de montagem. Tudo feito para replicar o ambiente de uma fábrica e garantir mão-de-obra apta para o trabalho num contexto industrial.

É exatamente assim como nós fomos educados.

A Revolução Digital

A partir da década de 1980 outra mudança de paradigma começa a ocorrer. Primeiramente com o computador se tornando uma máquina de uso pessoal e posteriormente a mudança se acentua com a chegada da Internet.

Com o advento da internet o mundo atingiu um patamar de conectividade nunca visto antes. E hoje talvez seja mais fácil falar com um amigo a 5000 km de distância do que com seu vizinho.

A facilidade de comunicação passou a permitir novas formas de organização entre as pessoas além de viabilizar modelos de negócio inéditos.

Foram alguns milênios entre a Revolução Agrícola e a Revolução Industrial. Do início da Revolução Industrial até o pontapé inicial da Revolução Digital foram poucos séculos. Podemos então imaginar que qualquer grande revolução que esteja no horizonte esteja a poucas décadas ou anos. O ritmo da evolução tecnológica é cada vez mais rápido, também.

As próximas grandes revoluções

Tomamos como referência para as próximas grandes revoluções a visão de Ray Kurzweil, um dos mais importantes futuristas da atualidade. De maneira sucinta, as próximas revoluções serão:

  • Genética, que nos permitirá reprogramar nossa própria biologia;
  • Nanotecnologia, que nos permitirá manipular a matéria na escala atômica e molecular;
  • Robótica, que nos permitirá criar uma inteligência não biológica maior que a inteligência humana.

Genética

Edição genética. Tecnologia dá margem para muitas discussões éticas. Foto: THINKSTOCK

Certamente a mais polêmica de todas as revoluções que se avizinham. Novas tecnologias que permitem a impressão de órgãos humanos e edição de genes de maneira precisa abrem novas possibilidades e questionamentos.

Por um lado temos novas possibilidades como o aumento da produção de alimentos e a erradicação de doenças, sejam elas congênitas ou não. Por outro lado, os dilemas éticos são enormes diante da possibilidade de editar embriões geneticamente para que possuam as características que desejamos.

Como levanta o historiador Yuval Noah Harari, os avanços tecnológicos da Medicina permitiram que os seres humanos chegassem ao melhor da sua condição, ou pelo menos desfrutassem dela por mais tempo. Porém com as novas tecnologias, os seres humanos podem ir além das suas condições naturais — e com isso podemos ter a desigualdade manifestada não somente em termos sociais, mas também em termos biológicos.

Nanotecnologia

Grafeno, o super material sucessor do silício. Smartphones flexíveis são uma possibilidade para o futuro.

Quando se falava em computadores nas décadas de 1960 e 1970, falávamos de máquinas gigantescas que ocupavam salas inteiras. Hoje, uma pessoa com um smartphone tem uma capacidade de computação maior que os super-computadores da NASA na época em que o homem foi à Lua.

Com a difusão de um novo material flexível, transparente e capaz de conduzir eletricidade mesmo reduzido à dimensão de um átomo — o grafeno — é de se esperar que a capacidade de se fazer mais em menos espaço físico continue.

As possibilidades da nanotecnologia vão além do processamento de dados. Outra área na qual a tecnologia em escala nano é muito discutida é a medicina. Tratamentos para câncer utilizando ou reparo de DNA com nanorrobôs são possibilidades concretas para os próximos anos.

Existem também aplicações mais inusitadas para a nanotecnologia. Como a possibilidade de se tornar um ciborgue com um sentido artificial como, por exemplo, neste caso onde é possível comprar um pequeno dispositivo que te permite perceber o norte magnético da Terra.

Robótica (Inteligência Artificial)

É provável que você já tenha ouvido falar no Watson. O supercomputador da IBM que ganhou notoriedade ao bater os melhores jogadores do game-show americano Jeopardy. Claramente, é o exemplo mais conhecido das possibilidades da inteligência artificial.

Medicina e advocacia são duas áreas que já percebem os impactos da tecnologia de IA, conforme casos de diagnósticos de doenças e aplicativos que auxiliam em recursos de multas de trânsito.

Os avanços da Inteligência Artificial (e a decorrente automação de tarefas intelectuais) têm tudo para se tornarem as grandes forças que transformarão o trabalho no futuro. O que nos leva a necessidade urgente de repensar a educação, uma vez que as escolas que temos foram desenhadas para preparar trabalhadores para fábricas no contexto de revolução industrial.

Mas será que isso tudo vai acontecer mesmo?

Já está acontecendo. E vai continuar acontecendo conforme as tecnologias vão se aperfeiçoando e barateando, tornando-se mais acessíveis. Se quando olharmos para trás, enxergamos a época desses avanços como uma única revolução, três, um anexo da Revolução Digital, Quinta fase da Revolução Industrial, tudo isso será uma mera discussão historiográfica. As tecnologias em desenvolvimento aqui faladas possuem um alto potencial de transformação.

Continuem nos acompanhando aqui e falaremos em detalhes sobre o que cerca essas e outras tecnologias.

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Edu Azeredo
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Falo de tecnologia e como nossas vidas são impactadas.