Por que é importante estudar sobre o futuro?

Pedro Rocha
Luneta
Published in
4 min readFeb 3, 2017
Imagem do início do Séc. XX, de uma série feita na França, imaginando como seria o ano 2000 (veja mais em http://www.ufunk.net/insolite/en-lan-2000-le-futur-imagine-en-1910-avec-24-illustrations-retro)

Dentre as poucas certezas que podemos ter na vida está o fato de que o tempo passa e as mudanças acontecem, gostemos ou não, no que diz respeito às técnicas, ferramentas e seus impactos na sociedade.

Diante disso, temos 2 opções: resistir às mudanças ou abraçá-las para fazer o melhor uso possível.

O desenvolvimento tecnológico ocorre, pouco a pouco, nos permitindo “pensar e fazer diferente”, assim como certos hábitos culturais podem moldar a forma das ferramentas e técnicas serem utilizadas. Sendo assim, é muito importante entendermos de tecnologia para imaginarmos como a sociedade poderá se comportar.

É com essa visão que os estudos de futuro, também conhecidos como Futurismo, se propõe a ver e entender as mudanças e avanços no mundo do empreendedorismo, ciências e novas tecnologias, de forma a tentar imaginar possíveis cenários futuros e, a partir deles, tomar melhores decisões no presente.

Resistir à mudança é natural

Nos achamos um tanto diferenciados, como espécie, mas olhando bem, ainda somos praticamente o mesmo "animal"(que surgiu 150.000 anos atrás e que 70.000 anos atrás sofreu o que se costuma chamar de "revolução cognitiva") que tinha de se defender na savana.
Faz parte do nosso comportamento como Homo Sapiens ver mudanças como risco, como algo perigoso e que, portanto, devemos nos proteger e evitar.

Isso se aplica a tudo. Você mudar de cidade, de escola, de carreira, aceitar novas relações na vida. Mudar é difícil, realmente, e pior ainda quando não estamos no controle e somente "sofremos a mudança".

Vejamos o que algumas pessoas pensaram sobre certos assuntos que, hoje, são um tanto inquestionáveis:

“Vivemos em um mundo com excesso de informação. A enorme quantidade de dados aos quais as pessoas são expostas diariamente é prejudicial em todos os sentidos”
— Conrad Gessner, cientista suiço, do séc. XVI, sobre a prensa mecânica

“Essas novidades causarão problemas sérios: as pessoas perderão sua capacidade de memória por falta de uso”
— Sócrates, o "Pai da Democracia", sobre a escrita

“É um perigo obter informações por este meio. As pessoas estão ficando cada vez mais isoladas, não sabem nada sobre como as notícias estão sendo produzidas”
— Malesherbes, estadista francês, do séc. XVIII, sobre jornais impressos

Um ponto em comum a essas 3 "resistências à mudança" é que podemos pegar os mesmos argumentos, sem mudar uma palavra, e utilizar séculos depois, para criticar novas tecnologias. Se retirarmos a legenda e deixarmos sem contexto, facilmente veremos pessoas dizendo "a internet realmente produz esses problemas", por exemplo.

E como posso ver essas mudanças?

Quando olhamos para o passado, parece fácil identificar mudanças na sociedade, mas o fato é que quem estava lá, vivendo o cotidiano daquela época, provavelmente não compreendia o que estava acontecendo e reclamava de certas coisas que "não eram mais como antigamente"(e olha que nem tinha Facebook). Precisamos de distanciamento para poder compreender melhor as grandes mudanças.

Apesar dessa questão, podemos sim perceber pequenos detalhes que vão acontecendo ao nosso redor, os sinais da mudança, e podemos decidir o que fazer com eles: ignorar, observar, estudar a respeito, abraçar a ideia.

O senso comum é de que as mudanças acontecem de repente, em um estalo de genialidade de alguém, mas a verdade é que pequenas mudanças estão acontecendo todos os dias e, quando alguém percebe como combinar muitas delas, temos uma grande mudança.

E o que posso fazer ao saber olhar para as mudanças?

Um monte de coisa, inclusive nada. Vai da opção de cada um de aproveitar ao máximo a "suposta estabilidade atual" ou de "aceitar a mudança como a nova constante" e passar a sempre atuar em pequenas mudanças, evitando ser muito afetado, de uma vez só.

Estudos de futuro são importantes para conseguir identificar os pequenos padrões que irão gerar uma mudança maior, permitindo se preparar para ela, ao invés de somente sofrê-la.

Por último, um exemplo simples e concreto: internet

Quando Tim Berners-Lee criou a World Wide Web(internet), ele queria uma forma de compartilhar artigos acadêmicos. Certamente não era o foco dele que essa ferramenta permitisse, no futuro, que pessoas criassem ferramentas online de comunicação instantânea, com videos por streaming empoderando milhões pelo mundo, facilitando muito que revoluções políticas e culturais ocorressem.

Apesar de não ter sido seu foco, alguém que buscasse conectar os pontos poderia ver que a ânsia por representatividade, a revolta com os sistemas sociais vigentes, a evolução das tecnologias de áudio e vídeo, misturado com a Lei de Moore(que mostra como equipamentos digitais tendem a diminuir e ficarem mais baratos de forma constante), entre muitos outros fatores "visíveis" por muitos, poderia esboçar tais análises e se aproveitar dessas previsões.
De fato, provavelmente teve muita gente fazendo isso.

Espero ter colaborado para sua ideia sobre "estudar o futuro" ter se ampliado um pouco! Qualquer ideia ou crítica será muito bem vinda!

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Pedro Rocha
Luneta
Editor for

On digital experiences, business, commons and the future