Blackfishing: o que é e por que é problemático?

Alberta Figueirêdo
Luz Negra
Published in
2 min readNov 14, 2022
Arte feita por Alberta Figueirêredo (na imagem estão presentes Anitta, Boca Rosa, Jesy Nelson, Kim Kardashian, Aga Brzostowska e Iggy Azalea)

Você sabe o que é “blackfishing”? Esse termo em inglês está ganhando cada vez mais visibilidade na mídia internacional para falar sobre pessoas brancas que simulam, por meio de maquiagem ou edição de fotos, traços étnicos e culturais da comunidade negra.

Nas mídias sociais é bastante comum celebridades internacionais estarem envolvidas em polêmicas sobre blackfishing, a exemplo temos a família Kardashian/Jenner. Kim Kardashian apareceu em 2019 com a pele mais escura para a capa da revista estadunidense 7 Hollywood, enquanto a irmã, Kylie Jenner, investe em procedimentos de preenchimento labial. Já aqui no Brasil, a cantora Anitta foi apontada por estar fazendo blackfishing na caracterização para o clipe de “Vai Malandra”, em 2017.

Reprodução de cena do clipe “Vai malandra”, disponível em https://www.youtube.com/watch?v=kDhptBT_-VI

Mas isso não fica restrito somente a elas, a cantora australiana Iggy Azalea, no clipe “I Am the Stripclub” recebeu inúmeras críticas por estar com a pele mais escura durante as gravações. Outro caso bastante conhecido é do cantor Bruno Mars, que se defende das acusações de apropriação cultural tanto na estética, quanto na música.

É nítido que elas não são mulheres negras, mas estão, principalmente no caso das Kardashian/Jenner, utilizando de procedimentos para ter essa aparência. Isso abre espaço para inúmeros debates, pois ao se apropriarem desta estética, acabam por conquistar possíveis contratos de parceria e comerciais com marcas que querem contratar mulheres negras, tendo em vista o crescimento sobre questões raciais.

Com um grande poder de alcance e influência, quando famosas, normalmente brancas, fazem o uso da apropriação de traços negros e abrem espaço para outras pessoas se inspirarem a fazer o mesmo, então mulheres brancas assumem um espaço de referência que deveria ser ocupado por mulheres negras. Mas o ponto principal é que tratam como moda, algo que pode ser usado e depois jogado fora. Não sendo apenas uma questão estética, mas que vem da luta de um povo marginalizado por séculos, que há décadas a fio vem sofrendo agressões físicas e verbais por causa dos seus traços étnicos.

O blackfishing coloca a estética negra como uma mercadoria, algo que está à venda. Na qual muitos acreditam estar fazendo alguma homenagem, uma forma bastante errônea de celebrar a cultura, não querendo ficar como espectador ou atrás das câmeras, mas sentindo a necessidade de pegar para si os pontos positivos, sem a experiência da descriminação e perseguição. Como disse Leslie Bow, professora de estudos asiático-americanos da Universidade de Wisconsin, “Blackfishing é uma forma de amor racista, de como nos apropriamos da alteridade”.

Texto e reportagem: Alberta Figueirêdo

Supervisão editorial: Rostand Melo

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