Conquistas negras nas Olimpíadas 2024

Gabryele Martins
Luz Negra
Published in
7 min readAug 22, 2024

Em 1908, nos Jogos Olímpicos de Londres, o primeiro medalhista negro subiu ao pódio de uma olimpíada. John Baxter Taylor Jr, participou da equipe que conquistou o primeiro lugar no revezamento misto de 1600m. Desde então, atletas negros vêm escrevendo seus nomes na história da competição, protagonizando momentos inesquecíveis.

Em Paris (1924), Alfredo Gomes se tornou o primeiro atleta negro do Brasil a competir nos Jogos Olímpicos, tendo sido também porta-bandeira do país naquela edição e único preto numa comitiva de 12 atletas. Vale destacar que este fato ocorreu na segunda participação da delegação brasileira em olimpíadas.

Foto: Angelo Cozzi Mandarori — Publishers

Também podemos citar os famosos casos de Jesse Owens que se tornou um símbolo de resistência contra o nazismo e ideia de superioridade racial ariana ao conquistar quatro medalhas de ouro no atletismo, na edição de Berlim (1936) às vésperas da II Guerra Mundial; e de Tommie Smith e John Carlos, que na Cidade do México (1968) protestaram silenciosamente contra o racismo, exibindo no pódio os punhos cerrados com luvas pretas, enquanto o hino nacional estadunidense tocava.

De 1908 pra cá, atletas negros seguiram lutando, vencendo e conquistando. Nos Jogos Olímpicos de Paris não foi diferente. Por isso, escolhemos alguns momentos desta edição, para celebrar esportistas pretos que já estão marcados na história esportiva.

Rebeca Andrade — Ginástica Artística

Foto: Elsa — Getty Images

Não há como falar de olimpíadas sem mencionar Rebeca. A ginasta, de 25 anos, se tornou a maior medalhista olímpica brasileira, ao conquistar quatro medalhas em Paris (2024), sendo um ouro no Solo, duas pratas no Salto e na categoria Individual Geral e um Bronze (inédito) por Equipes.

Somadas às medalhas de ouro no Salto e prata no Individual Geral que levou em Tóquio (2021), Rebeca é dona de seis condecorações olímpicas.

Ela também foi protagonista de uma das fotos mais icônicas das Olimpíadas. Do alto do pódio onde foi ouro pela apresentação no solo, Rebeca foi reverenciada pelas colegas de modalidade Simone (prata) e Chiles (bronze).

Apesar da foto eternizada na história, o pódio do Solo Individual Feminino acabou envolvido em muitas polêmicas. Depois de todas as participantes se apresentarem na final, garantindo ouro a Rebeca e prata a Simone Biles, Chiles ficou em 5ª lugar, com uma nota de 13,666, atrás de Ana Bărbosu e Sabrina Maneca-Voinea, empatadas com 13,700. A equipe americana fez um pedido de revisão que, acatado pela comissão, recalculou a nota de Jordan, que passou a ser 13,766. Após o fim das Olimpíadas, a Confederação Romena entrou com um recurso que garantiu o bronze a Ana e os desdobramentos seguem até a finalização deste texto.

Mijaín López Nuñez — Luta Greco-Romana

Foto: Punit Paranjpe — AFP

O lutador cubano de 41 anos é o segundo maior medalhista olímpico da América Latina e maior da ilha de Cuba. Mijaín se despediu das competições com um ouro em Paris na categoria até 130kg da luta Greco-Romana, o quinto da carreira; as outras quatro medalhas douradas em olimpíadas, foram conquistadas em Pequim (2008), Londres (2012), Rio (2016) e Tóquio (2021).

Beatriz Souza — Judô

Foto: Noushad Thekkayil — Getty Images

A judoca paulista tem 26 anos e conquistou a primeira medalha de ouro para o Brasil em Paris (2024). Ela chegou à Cidade Luz amargando a não participação em Tóquio (2021) e como 5ª do ranking mundial. Beatriz voltou para casa com duas medalhas na bagagem, após garantir o lugar mais alto do pódio na categoria +78kg e o bronze por equipes.

Isaquias Queiroz — Canoagem de velocidade

Foto: Wander Roberto — COB

O baiano de 30 anos conquistou em Paris (2024) a medalha de prata na categoria C1–1000m. Com este feito, igualou Robert Scheidt e Torben Grael em número de medalhas olímpicas. São cinco ao todo, um ouro em Tóquio (2021) e duas pratas e um bronze no Rio (2016).

Simone Biles — Ginástica Artística

Foto: Hannah Mckay— Reuters

Considerada a maior ginasta artística da história, Simone Biles é dona de onze medalhas olímpicas, quatro conquistadas em Paris (2024). Aos 27 anos, a estadunidense foi ouro no Individual Geral, Salto e por Equipes; ela ainda levou pra casa uma prata no Solo.

Letsile Tebogo — Atletismo

Foto: Dylan Martinez — Reuters

Se tornou o primeiro campeão olímpico da história de Botswana, após vencer o grande favorito da prova dos 200m. A medalha rendeu ao país natal de Letsile um feriado para que os conterrâneos pudessem celebrar o ouro olímpico. O atleta foi recebido em festa num estádio lotado.

Ele também garantiu a prata no Revezamento 4x400m.

Cindy Winner Djankeu Ngamba — Boxe

Foto: Richard Pelham — Getty Images

A atleta camaronesa garantiu o bronze na categoria 75kg, sendo a primeira medalha da delegação de refugiados, criada em 2016. Cindy precisou sair do país onde nasceu por ser lésbica.

Julien Alfred — Atletismo

Foto: Patrick Smith — Getty Images

Aos 23 anos, se tornou a primeira medalhista da história de Santa Lúcia, pequena ilha de 180 mil habitantes, no Caribe. Julien voltou pra casa com um ouro nos 100m e uma prata nos 200m.

A atleta fez o quarto melhor tempo da história nos 100m e desbancou a favorita na prova.

David Pina — Boxe

Foto: Richard Pelham — Getty Images

Primeiro medalhista olímpico de Cabo Verde, conseguiu o bronze inédito ao avançar para a semifinal na categoria até 51kg. Ele é o segundo atleta medalhista olímpico da África lusófona, a primeira foi Maria Mutola de Moçambique.

Thea Lafond — Atletismo

Foto: Michael Steele — Getty Images

E também falando em primeiras medalhas, Thea Lafond é a primeira medalhista olímpica de ouro de Dominica. A atleta de 30 anos, ocupa o 3º lugar no ranking mundial e bateu o recorde do país caribenho no Salto Triplo.

Paola Egonu — Vôlei

Foto: Siphiwe Sibeko — Reuters

Italiana de nascimento e filha de imigrantes nigerianos, a atleta de 25 anos ajudou a Itália a conseguir a primeira medalha no vôlei feminino. Além da conquista inédita, Paola também foi eleita melhor jogadora do torneio e melhor oposta. Egonu recebeu um mural em sua homenagem na cidade de Roma, infelizmente a arte foi vandalizada, escancarando o racismo presente no país.

Pódio Preto na Maratona Feminina

Foto: Franck Fife — AFP

Holanda, Etiópia e Quênia figuraram no pódio da maratona feminina.

Sifan Hassan garantiu o ouro para os Países Baixos ao estabelecer um novo recorde olímpico na categoria. A atleta etíope, naturalizada holandesa, se tornou a primeira corredora a ganhar medalhas em todas as provas de distância numa mesma edição olímpica desde 1952; ela subiu ao pódio usando o hijab, véu islâmico proibido aos atletas franceses nas Olimpíadas de Paris(2024), celebrando a origem muçulmana, que é tão perseguida na França.

Completaram o pódio a atleta etíope, Tigst Assefa, que levou a prata e a queniana Hellen Obiri, que ficou com o bronze. A premiação das atletas se deu durante o encerramento dos Jogos Olímpicos. Pela primeira vez a maratona feminina foi condecorada na cerimônia.

Pódio Preto no Salto Triplo Masculino

Foto: Cameron Spencer — Getty Images

No Salto Triplo Masculino, Jordan Díaz (ouro), Pedro Pichardo (prata) e Andy Hernández (bronze), que representaram Espanha, Portugal e Itália, respectivamente, são cubanos de nascimento, mas recentemente se naturalizaram e agora defendem novas nacionalidades.

Protagonismo Negro na Delegação Brasileira

Foto: Naomi Baker — Getty Images

Para o Brasil, a edição teve um gosto especial com 9 de 15 medalhas de modalidades individuais conquistadas por atletas negros. Nos esportes coletivos podemos destacar Tarciane e Ludmila (prata com a seleção feminina de futebol), Ana Cristina (bronze no vôlei), Ana Patrícia (ouro no vôlei de praia) e o inédito bronze por equipes da ginástica artística que consagrou Flávia Saraiva, Lorrane Oliveira, Rebeca Andrade, Julia Soares e Jade Barbosa.

E para além das medalhas, Paris (2024) também representou barreiras sendo quebradas. Luiz Maurício quebrou o recorde sul-americano do lançamento de dardo, atingindo a marca de 85.91m, e colocou o Brasil na primeira final olímpica da prova após 92 anos; Barbara Domingos, da ginástica rítmica, fez história ao se tornar a primeira brasileira finalista na modalidade; o nadador Guilherme Costa, conhecido como Cachorrão, quebrou o recorde sul-americano nos 400m e teria conquistado medalha em todas as Olimpíadas do Século XXI, menos nesta.

Edival Pontes, paraibano que conquistou o bronze no taekwondo. Foto: Wander Roberto — COB

Numa edição histórica para a delegação brasileira, nossas medalhas refletiram mais que as cores de nossa bandeira e nossas atuações foram além da linha melódica do nosso hino. O Brasil, Nação, se curvou ao Brasil real, que é feito por Beatriz Souza, por Edival Pontes, por Marta Vieira e por aqueles a quem eles representam.

Reportagem: Gabryele Martins

Supervisão Editorial: Rostand Melo

Redes Sociais: Virgínia Vasconcelos

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