Herança: o futuro é ancestral

Luz Negra
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4 min readAug 28, 2024

Espetáculo da Cia Burlantins resgata e celebra a força da cultura afro-brasileira

Por Samya Amado

Espetáculo “Herança” da Cia. Burlantins no Sesc Centro Campina Grande. Foto: Rostand Melo.

Com direção de Grace Passô, uma das artistas mais inventivas da vanguarda teatral dos últimos tempos, “Herança” traz ao público uma nova maneira de contar as histórias tecidas no cotidiano: falar de um futuro com o espelho do passado. Ela, que ouviu cada história familiar, reinventou e adornou a trama com a serenidade de uma sábia bordadeira, devolvendo aos artistas a possibilidade de apresentar ao público a sua ancestralidade na concha das mãos.

O espetáculo cênico-musical da Cia. Burlantins integra a programação do Sesc Palco Giratório, maior festival itinerante do país. No último dia 26 de agosto, o Sesc Centro Campina Grande recebeu a companhia, festejando os 50 anos de carreira do ícone Maurício Tizumba, um dos baluartes da cultura afro-mineira.

Maurício Tizumba em cena no Sesc Centro. Foto: Rostand Melo

As histórias antes íntimas — quando postas no palco, refletem a vida de milhares de pessoas que veem em “Herança” um norte para a diáspora do povo negro. Encontrar a sua própria história sendo contada pelos multiartistas Júlia Tizumba, Sérgio Pererê e o próprio Maurício Tizumba, esquadrinha as memórias mais afetivas e viscerais.

A trama desafia a linearidade com os seus elementos poéticos e leva o público a reescrever o enredo da vida com os olhos postos em África. O passado, projetado no presente, nos apresenta a realidade de que o futuro é ancestral, poderoso e cheio de representatividade.

O protagonismo negro que permeia toda a construção do espetáculo desafia o óbvio. As projeções do povo Bamum e toda a sua história, esmiúçam a lembrança de que, apesar de toda tentativa de roubo e apagamento histórico, não há fogo que venha consumir as raízes dos nossos ancestrais.

Cada elemento do palco joga o foco para o que verdadeiramente importa: a história e quem a vive na pele, que pode ser você, Tizumba, eu ou Pererê. Todas as músicas e monólogos que atravessam os corpos dos artistas e invadem a plateia, formam um enlace genial, assim como cada ruptura nas narrativas apresentadas.

“Herança” abre a porta de casa, serve um chá de consciência racial, mostra que o belo nem sempre estará isento de dor, mas que o futuro carrega em si a glória de toda força ancestral. Os cânticos não encerram o espetáculo, mas abrem portais ao âmago da perpetuidade da vida, com o movimento, prosperidade e transformações trazidos por Oxumarê. Arroboboi! O que será, já é e carrega muita força.

Confira mais imagens de “Herança” e a ficha técnica do espetáculo:

Ficha Técnica do espetáculo:

Realização: Cia Burlantins e Napele Produções Artísticas
Idealização: Pedro Kalil
Elenco: Júlia Tizumba, Sérgio Pererê e Mauricio Tizumba
Participação especial: Rosa Moreira
Direção: Grace Passô
Assistência de direção: Aline Vila Real
Dramaturgia: Aline Vila Real, Grace Passô e Tomás Sarquis (Elaborada a partir de narrativas produzidas por Júlia Tizumba, Mauricio Tizumba, Rosa Moreira e Sérgio Pererê)
Direção musical: Sérgio Pererê
Músicas: Sérgio Pererê e Mauricio Tizumba
Assistência de movimento: Sérgio Penna
Vídeo arte: Renato Pascoal
Intervenções visuais: Desali
Projeções: Vjs Bah e Kraken
Cenário e figurino: Alexandre Tavera
Iluminação: Edmar Pinto
Sonorização: Cahuê Teixeira

Reportagem: Samya Amado

Fotografia: Rostand Melo

Supervisão Editorial: Rostand Melo

O Luz Negra é um projeto de extensão do curso de Jornalismo da UEPB, aprovado no edital da @proex_uepb para a cota 2024–2025.

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Projeto de extensão do curso de Jornalismo da UEPB.