A relação entre música e design.

Daniel Filho
Méliuz Design
Published in
4 min readDec 13, 2019

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Pois é, eu sei que esse título parece bem aleatório. Mas a verdade é que eu sempre achei as áreas tão parecidas em alguns sentidos e sempre senti facilidade em relacionar uma com a outra. Então que tal falar um pouco da minha visão a respeito dessas que são minhas grandes paixões?

Músico autodidata desde os 12 anos, com a música aprendi muita coisa que pra mim começou a fazer muito mais sentido depois de começar a trabalhar com design. A música me ensinou muito sobre padrões, composição, sensibilidade e até mesmo estética. Coisas que hoje em dia aplico todos os dias em meus trabalhos e que estão diretamente ligadas à minha área de trabalho.

Mas como assim design aplicado à música?

É simples: da mesma forma que um bom design tem regras e princípios, a música também o faz. E estes estão diretamente ligados e relacionados entre si. Um bom exemplo de como posso apresentar isso são as Leis da Gestalt, que na minha visão podem ser facilmente aplicadas à música, no caso. Vou exemplificar pra ver se fica mais claro. Uma destas leis, a Lei do Fechamento, está relacionada a como nosso cérebro reconhece formas que estão "escondidas" dentro de outras formas.

Da mesma forma que nosso cérebro reconhece uma forma "escondida" e interpreta isso como algo, isso também acontece na música. Ao ouvirmos uma melodia que nos seja muito familiar e antes do final alguém pausar essa música, nosso cérebro consegue "completar" a melodia. Isso acontece porque as harmonias em músicas geralmente seguem uma sequência lógica de notas que estão contidas em escalas. Mas a explicação disso fica pra outro texto.

Outro bom exemplo seria a Lei da Continuidade. Quando desenhamos uma tela ou um fluxo de uma atividade em um app ou site, precisamos manter uma unidade entre essas telas, para evitar que o usuário se perca e não se confunda em sua atividade. A música precisa também precisa ter uma continuidade e unidade em aspectos como notas, acordes, estilo. Caso contrário ela fica confusa e talvez até perca o sentido.

Música e comunicação

Outra questão importante sobre a relação entre design e música é que ambas são grandes ferramentas de comunicação. A música muitas vezes se utiliza do design para comunicar algo. Nos ensina muito sobre branding, identidade visual, estilo e até mesmo estética. A música, assim como o design é capaz de criar padrões visuais que conseguimos aplicar de várias formas para alcançarmos expectativas em nosso público alvo.

Um exercício que podemos fazer é ouvir uma música clássica por exemplo e imaginar o que nos vem à cabeça. Eu por exemplo, quando faço isso, consigo pensar em tipografias mais refinadas, elementos visuais mais detalhados, algo mais "classudo". O que é completamente diferente de quando ouço grunge, por exemplo. A primeira coisa que vem em minha cabeça são imagens mais sujas, pesadas, tipografias mais duras, falhadas, etc. Esse é um exercício bom para se fazer quando estou buscando inspiração para um trabalho novo.

Aplicando isso no design de produto

Agora você deve estar se perguntando "Ok, mas e o que isso tem a ver com design de produto?"

Quando recebemos uma tarefa de melhoria em nosso app ou site, ou qualquer que seja o produto, precisamos sempre pensar no que seria melhor para o usuário. Dentro desse pensamento, meio que sem querer, consigo aplicar estes princípios. Seja pensando num estilo que converse mais com o usuário ou num fluxo que seja mais fluido para ele, como já exemplifiquei antes ao falar da continuidade nas telas de um fluxo de atividade. É algo que já está presente no meu processo de trabalho.

“Good design is as little design as possible.”
— Dieter Rams

Do mesmo modo que, quando ao tocar em uma banda, um músico precisa ter a sensibilidade para fazer sua música, conhecer seu público-alvo, saber onde seu instrumento deve aparecer, escolher um timbre certo ou verificar a afinação, um designer também precisa ter sensibilidade para trabalhar bem o seu design. Estudar bem o seu usuário, aplicar seus conhecimentos através do que foi observado, escolher os elementos corretos que irão compor a interface visando sempre a experiência mais agradável ao usuário.

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