Design: cabeça nas nuvens e pé no chão
Uma forma de mapear as competências necessárias para o desenvolvimento de produtos digitais seria colocá-las num espectro que vai de um lado mais estratégico (definição de objetivos e público-alvo) ao mais tático (implementação e operação do serviço).
O design se encontra no meio desses dois polos e acaba herdando atribuições de ambos: ao mesmo tempo em que deve estar ligado à estratégia do negócio e às necessidades e desejos dos clientes, também deve oferecer soluções com viabilidade técnica, além de dar suporte à implementação.
Dentro desse escopo, podemos ver como atribuições mais estratégicas: pesquisa, análise de resultados e conceituação de soluções; e como atribuições mais táticas: detalhamento e documentação da interface e acompanhamento da implementação.
Não é fácil encontrar designers que dominem ou que se sintam à vontade realizando todo esse espectro de atividades, portanto um meio mais realista de se montar uma equipe de produto equilibrada é ter designers com habilidades variadas, de forma que tudo esteja coberto.
À medida que a empresa cresce, pode ser interessante mapear e distinguir essas duas especializações, para que os papéis e processos fiquem mais claros pra todo mundo.
Designers mais voltados à estratégia têm uma atuação muito próxima ao gerente de produto. O foco é a experiência do cliente em alto nível, levando em conta os objetivos do negócio. Se prendem menos a detalhes e aspectos de viabilidade e mais à criatividade e inovação. Suas entregas principais costumam ser insights de pesquisas, concepts, wireframes e fluxos.
Já os designers mais voltados à tática atuam mais próximos à engenharia e tendem a abordar o design pela consistência, aparência e viabilidade de implementação da interface do usuário. Suas entregas são templates, layouts e componentes visuais. Para este perfil é importante conhecer bem a tecnologia e, eventualmente, até saber codificar para entender mais a fundo as possibilidades e limitações, experimentar e sugerir melhorias no front-end. Por causa dessa especialização, esse perfil é melhor aproveitado se for alocado para atender a uma aplicação ou plataforma específica.
Eventualmente, pode surgir o dilema de posicionar designers estrategistas como membros efetivos do time de gestão de produto ou de mantê-los num núcleo de designers, atendendo às demandas da empresa de forma unificada. No caso de designers voltados à tática, o dilema fica entre alocá-los como parte do time de desenvolvimento da aplicação ou também continuar num núcleo único de design.
A resposta, em ambos os casos, depende de fatores específicos de cada empresa: maturidade de processos, tamanho e estrutura das equipes, política interna etc. Vale experimentar e ver o que funciona melhor no seu contexto.
No Méliuz, temos atualmente um núcleo único de design prestando serviços para toda a empresa, mas com o crescimento da equipe e o amadurecimento dos processos, a tendência é fazer a alocação específica dos designers para demandas de cada área, a princípio como prestadores externos de serviço, mas eventualmente como integrantes efetivos desses times.
Talvez com a intenção de abranger mais oportunidades, muitos profissionais se auto-intitulam UX/UI designer, o que dá a entender que atuam tanto como designers estratégicos quanto táticos. Na prática, o que percebo é que dificilmente um designer é muito bom em ambos os enfoques.
Por mais que estar associado à estratégia do produto possa dar a impressão de maior importância (talvez por isso tantos designers queiram ter o título de “UX”), as duas especializações são igualmente valiosas na construção de um bom produto. Cada designer deve experimentar ambas e seguir a que tem maior aptidão ou motivação para trabalhar.
Sei que classificar todos os designers de produtos digitais dessa forma binária pode ser uma simplificação um pouco exagerada, mas a idéia é criar discussão e iluminar a estruturação de equipes e processos.
O que você acha? Deixe seu comentário!
