Não adianta ser genial pra quem pensa igual a você.

Cris Landa
Méliuz Design
Published in
4 min readOct 28, 2019

No meu último artigo aqui no blog, falei sobre como a gente pode aprender a lidar de uma forma mais saudável com a avalanche de artigos e referências sobre nossa área de trabalho. Tudo parece incrível demais, e a gente acaba não enxergando tudo.

Hoje, o assunto é como gerenciar nossos anseios por genialidade. Designer precisa mesmo ser genial? Como lidar com isso?

Bem, a gente gosta de espaço para trabalhar, de momentos de ócio para organizar as ideias e de posts-its na parede para ~cocriar~, idear, divertir, prototipagem, iterar. Mas tem vez que a gente também ama resmungar:

Mas a experiência não está boa.

A conversão não é tudo o que importa.

Mas eles não se preocupam com design.

É que eles não entendem isso.

De vez em sempre, muito designer resmunga frases como estas — e olha que muita coisa faz mesmo muito sentido. O perigo é quando a gente vai pelo caminho mais fácil, aí os sujeitos culpados das frases surgem aos montes, e a insatisfação se instaura.

É que a gente costuma ter (1) um pedacinho do coração no mundo da lua e (2) outro pedacinho sempre imaginando como criar um foguete pra chegar lá. A gente gosta de abstrair e, pior, entre a gente dá pra manter boas conversas num nível alto de abstração. No fundo, nós nos entendemos bem.

Mas é só botar o pé pra fora do mundo fantástico do design que a coisa muda. Alguém olha torto. É só um teste! Pra que mudar o logo? Outra tipografia? Pronto. Somos incompreendidos, é isto.

Por vezes, sinto que insistimos numa genialidade meio restrita demais, sabe, em que nossas ideias, tais como concebidas, hão de ser as soluções definitivas. E quem discorda é porque não entende de design. Risos.

A genialidade da comunicação

Mesmo que também seja nosso papel projetar, desenhar, viajar naquilo que ainda nem é realidade, encontrar conexões improváveis, tirar alguns coelhos da cartola e trabalhar duro até chegar naquele momento de eureca (que profissão linda, fala sério), nosso maior compromisso é tornar tudo isso realidade.

E pra fazer isso, a gente tem que ir além dos sonhos promissores. É aí que entra em cena outra genialidade, só que sem post-its: a boa e velha comunicação. Aliás, quem é que deixou o design existir sem a boa comunicação?

Quando falo dessa genialidade de comunicação, não significa ser super convincente ou ter os melhores argumentos, mas ser capaz de criar bons diálogos e bons espaços de conversa, lugares em que a discussão seja relevante, clara e acionável — isto é, precisa levar a ação, ao próximo passo. E, infelizmente, um bom design nem sempre vai se vender sozinho.

Resumindo, você pode ser incrível, de verdade, só não adianta nada ser genial pra quem pensa igual a você. A genialidade para tornar realidade as grandes ideias está além das grandes ideias (e dos grandes resmungos).

O que fazer então?

Antes prometer pra você mesmo que você tem razão:

  1. O que mais importa para quem está do outro lado? Não adianta entregar uma boa solução pra quem não tem (ou não sente) um problema.
  2. Minha opinião depende de conhecimentos prévios específicos? Se sim, consigo usar elementos comuns para justificar meus pontos ou traduzir meus conhecimentos?
  3. Contestar minha opinião depende de conhecimentos prévios específicos? Da mesma forma, eu posso estar deixando de fazer autocríticas por não conhecer bem algum assunto fora da minha área?

Por fim, um recado simples que vi num vídeo da Fast Company sobre o CEO da Patreon:

Don't quit. (Jack Conte, CEO do Patreon — via Fast Company)

No mundo real do design e das coisas acontecendo, não existe glória em ser incompreendido. Tenta de novo, de outro jeito, e de outro e de outro. Se você é genial mesmo, suas ideias precisam virar realidade — então, por favor, não desiste de fazer isso acontecer.

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