Um guia para ler conteúdos sobre design sem se sentir um nada depois

Cris Landa
Méliuz Design
Published in
4 min readSep 13, 2019

Se tem uma coisa que eu sinto nas leituras/estudos no dia a dia do design/desing/designer é que é muito comum terminar um artigo e se sentir mal ao achar que estamos distantes de algum padrão de trabalho, um jeito de ver os problemas ou algum processo de criação.

É muita gente cabulosa, alguns nomes famosinhos e blogs especializados que trazem o que há de mais grandioso por trás do design. E como bons jovens profissionais, a gente não pode ver um link no Medium que já vai clicando (digo, salvando pra ler depois).

Tudo muito lindo, tudo muito bom, até que você começa a ler artigo, ver vídeos, escutar podcasts e você já começa a balançar os pés, roer as unhas, dar uma risadinha de nervoso e…

Eita, eu sou um nada. 😰

É que a maioria dos artigos traz uma perspectiva muito bem refinada de processos e abordagens do design. Às vezes, mostrando que tudo é incrivelmente organizado; e quando não, até a dramaticidade ao longo dos percalços — sim, até quando dá ruim — parece uma experiência fantástica.

E aí você olha para os seus métodos de trabalho, seus processos-criativos™ e pensa que algo de errado não está certo. Por isso, seguem algumas dicas nada-acadêmicas que podem te ajudar a consumir esses conteúdos sem se sentir aquele mini-desespero.

1. As dificuldades só ficam épicas quando a gente olha de fora.

Não, não é fácil. Mas ninguém no Brasil hoje vai imaginar que as coisas sejam fáceis, certo? O ponto é que, ao vivo, as dificuldades estão misturadas ali no dia a dia. Um perrengue aqui, outro ali, mas que, na hora, nem sempre a gente nota que se trata de uma baita dificuldade. O drama fica mais dramático quando você conta depois.

Resumindo: na dúvida, minimize os disclaimers sobre um projeto ou uma carreira. Você já deu conta de muita coisa tensa na vida, não é agora que isso vai mudar. Ou seja, só vai!, mas me promete que vai ser generoso ao contar das suas histórias depois.

Dica: em vez de imaginar toda a história épica ao longo do projeto, tente visualizar a rotina de um dia no cotidiano da pessoa. Quase sempre fica mais simples e mais gente-como-a-gente.

2. Cada pessoa é um mundo totalmente diferente do seu.

Sabe quando a sua mãe dizia que você-não-é-todo-mundo? Não esquece isso, especialmente naqueles artigos que você chega a babar num projeto, num processo, num profissional ou numa empresa. O ponto é que todo material assim é sempre um recorte do todo; só aparece o que você quer que apareça. Justo! No fim de um projeto, a gente quer mostrar o que foi alcançado de melhor. Todo profissional quer ter orgulho do que faz.

O cuidadinho que fica é: seja uma pessoa curiosa, e busque mais daquele contexto. Sem isso, vai achar que tudo é receita pra dar certo, que você vive numa ilha de gramado menos verde. Conhecer outros gramados faz mega bem, mas conheça de verdade, não só a foto tratada, ok?

Dica: tenha suas referências/designers de estimação. Quando mais as conhecer, mais você vai ter critério para tirar o melhor de suas experiências.

3. A originalidade é uma colagem, e isso exige repertório.

Austin Kleon, no brilhante Roube como um artista, conta de que o bom artista não rouba de uma pessoa só, mas de várias. E isso serve para além das referências visuais. Para estudar métodos e processos, vale a mesma lógica. Tenha fome de repertório! Cuidado com a euforia por um artigo só e busque mais conteúdo. Quanto mais peças você tiver para sua colagem, mais maduro será seu resultado.

Dica: essa vem direto da redação publicitária — desconfie das suas primeiras 20 ideias. Geralmente, é a partir daí que as coisas vão estar boas o suficiente pra seguir adiante.

4. Dê moral pra sua intuição e seus instintos.

Não existe muita gramática pra falar de intuição, então dificilmente você vai encontrar um artigo apresentando frameworks para ter o insight mais incrível da sua vida. A genialidade fica nos bastidores, por baixo dos fluxos e métodos e mapas e canvas. Mas ela tá lá.

E taí uma oportunidade pra, quando rolar um bate-papo real oficial presencial com quem você admira, tentar conhecer mais sobre esse lado menos processual dos grandes projetos.

Dica: antes de por a mão na massa, tira 15 minutos pra pensar no que você faria se jogasse todas aquelas referências no lixo.

5. Tá tudo bem discordar dos seus heróis.

Sem culpa por achar que os gurus das ilustrações, UX, UI, design system, branding etc estão viajando. É nesse senso crítico que a gente vai descobrindo atalhos, estragos e brechas pra gente construir nosso cantinho no mundão profissional.

Por outro, isso não significa querer ter razão o tempo todo. Mas também tô partindo do pressuposto de que ser designer é ter humildade, antes de tudo.

Dica: cria um jeito seu de compilar os aprendizados de um material. Pode ser separar em prós e contras de um método novo, ou listar insights, dúvidas e informações úteis pra seguir adiante.

E tu, o que faz pra viver de boa com essa avalanche de conteúdo? Bora conversar! ;)

Falando em conteúdo, aproveita e conhece os outros textos lindos do nosso blog do Design aqui do Méliuz. ❤

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