O que está acontecendo com o planeta?

Maria Clara
Mídia Independente Coletiva
4 min readAug 12, 2021
Listras de aquecimento (warming stripes) mostram as temperaturas médias globais de 1850 a 2018. O gráfico foi desenvolvido por Ed Hawkings e se tornou um símbolo do ativismo climático. Azul escuro representa as temperaturas médias mais baixas já registradas. Quanto mais forte o vermelho, mais altas as temperaturas médias. Fonte: reprodução da internet.

Aquecimento global, mudanças climáticas, emergência climática, crise climática: termos que definem um cenário que vem se desenhando desde o século XIX e que agora se apresenta como um desafio para o futuro da vida humana e do planeta. Nos anos 90, era comum falar em “efeito estufa”. Este efeito é um fenômeno físico e um processo natural da Terra que ajuda a manter a atmosfera e a superfície do planeta aquecidos, dificultando a perda do calor que vem do sol e contribuindo, durante milhões de anos, para o desenvolvimento das diversas espécies e paisagens que compõem nosso planeta. Porém, desde o início da era industrial - das primeiras fábricas até as indústrias modernas, passando pelos carros, o trem a vapor, as usinas de energia elétrica e a indústria do petróleo - esse efeito tem se intensificado.

Em 1896, o químico francês Antoine Lavoisier publicou o primeiro trabalho que associou a quantidade de gas carbônico (CO2) na atmosfera com a temperatura média do planeta. O CO2, ou dióxido de carbono, é um gás incolor e faz parte de diversos processos da natureza: é gerado pelos seres vivos toda vez que expiramos, pelas atividades vulcânicas e pela queima de substâncias inflamáveis. Ele se acumula na atmosfera e é responsável pelo efeito estufa, criando uma barreira que retém parte do calor do sol.

A quantidade de CO2 presente na atmosfera tem aumentado expressivamente nos últimos anos, especialmente após a intensificação da industrialização e da exploração e uso do petróleo e seus derivados no mundo todo. Isso se deve ao fato de que praticamente todas as indústrias emitem CO2 em seus processos de fabricação. Além das atividades industriais, outras fontes majoritárias de emissão de CO2 são a geração de energia elétrica, o setor de transportes e a agropecuária. A geração de energia elétrica em muitos países ainda acontece queimando combustíveis como o carvão em usinas térmicas. Carros, motos, ônibus, aviões, lanchas e outros meios de transporte à combustão queimam combustíveis derivados do petróleo em seus motores e lançam para a atmosfera o gás carbônico. No caso da indústria agropecuária, as emissões de CO2 estão relacionadas com as áreas verdes e florestas que são desmatadas para dar lugar aos pastos ou às lavouras de monocultura, e à práticas nocivas como as queimadas, que vem devastando a Amazônia e o Pantanal.

Diferentes aquecimentos produzem futuros diferentes. A meta atual é limitar o aumento da temperatura média terrestre em 1,5°C para que os impactos sejam os menores possíveis para os seres vivos e o ambiente. Imagem UNCC

Ou seja, determinadas atividades econômicas desenvolvidas pelos seres humanos contribuíram e contribuem para aumentar a intensidade do efeito estufa, e isto está alterando o clima do planeta. Eventos climáticos extremos, como inundações, deslizamentos, secas e incêndios florestais cada vez mais frequentes e mais potentes são algumas das consequências da alteração no clima do planeta. Nos últimos meses, o verão no hemisfério Norte tem sido marcado por chuvas intensas, como na cidade chinesa de Zhengzhou, onde choveu o equivalente à média anual de precipitação em apenas três dias. Na Alemanha, enchentes destruíram cidades e vilas localizadas ao longo do rio Ahr. No total, 165 pessoas morreram em decorrência das enchentes e a premier Angela Merkel reconheceu a urgência de políticas de mitigação e adaptação das cidades e países para os eventos climáticos extremos. No Canadá, temperaturas recordes acima dos 40°C levaram à morte de pessoas e causaram incêndios florestais.

A crise climática provocada pelo aquecimento global afeta não só as temperaturas, mas também o regime de chuvas, o volume dos oceanos, a estabilidade das geleiras do polo Norte e na Antártida e também a biodiversidade. E tudo isso, claro, tem efeitos sobre a vida humana. Alterar o regime de chuvas significa chuvas mais intensas com maior frequência, mas também secas mais prolongadas, o que, no caso do Brasil, impacta diretamente na geração de energia elétrica: com menos água nos reservatórios, a energia fica mais cara e o risco de racionamento aumenta.

As chuvas torrenciais, no entanto, são velhas conhecidas de países de clima tropical e subtropical. Todo verão um ou mais estados do Brasil sofrem um desastre ambiental, seja enchente, seja deslizamento. Isso porque os elementos das cidades modernas (concentração urbana intensa, pavimentação e estruturas de concreto, saneamento e coleta de lixo insuficiente, sistema de drenagem obsoletos, etc) são os catalisadores perfeitos para transformar fenômenos climáticos extremos, como as chuvas intensas que ocorreram na Alemanha e na China, em catástrofes.

Dessa vez, a surpresa no hemisfério Sul foi a onda de frio, que fez com que cidades brasileiras registrassem temperatura de quase 10 graus negativos, como Bom Jardim da Serra, que chegou a -7,6°C. Muitas cidades tiveram que se preparar para acolher as pessoas em situação de rua e abrigá-las do frio intenso. Mesmo assim, a cidade de São Paulo registrou a morte de 16 pessoas em situação de rua.

As mudanças climáticas vêm acompanhadas por uma crise que afeta não apenas a natureza, mas também põe em risco a vida das pessoas em diversos lugares do mundo. A crise climática pode se transformar em crise humanitária se não for tratada seriamente, se não colocar o bem estar do planeta no centro da solução e se não pensar em formas de proteger a vida das populações mais vulneráveis.

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Maria Clara
Mídia Independente Coletiva

Caçadora de mim. Foto da capa: Cristian Palmer on Unsplash.