Alex Magrão
Mídia Independente Coletiva
5 min readJan 19, 2022

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Fotografia de Rás Akani

(parte I, racismo negro)

O racismo possui origens históricas e só pode ser compreendido no Brasil dentro do processo de colonização europeia nas Américas, África e Ásia, no qual deu poderes de uma ‘raça’ (colonialista) para subjugar outras raças (colonizadas) e que criou séculos de escravidão e genocídio.

Recentemente foi publicado na Folha de São Paulo, um artigo sob o título “Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo”, de autoria de Antonio Riserio. O texto em si não traz nada de novo, é o velho arrazoado do discurso de “racismo reverso”.

Já no primeiro paragrafo o artigo se apresenta

“ [RESUMO] Ataques de negros contra asiáticos, brancos e judeus invalidam a tese de que não existe racismo negro em razão da opressão a que estão submetidos. Sob a capa do discurso antirracista, esquerda e movimento negro reproduzem projeto supremacista, tornando o neorracismo identitário mais norma que exceção.”

No desenrolar do texto são citadas algumas ações como de boicote ao comércio pertencente a coreanos nos EUA por parte dos negros do Brooklyn até a postura de grupos criminosos de não furtarem de seus iguais, um acordo de só roubar pessoas brancas, o que além de não configurar racismo, apesar da insistência forçosa do autor, está longe de ser algo que se possa classificar como uma agenda supremacista. Quando se fala em projeto supremacista negro parece que estamos a beira de uma nova ordem mundial, a égide de uma dinastia afrodescendente, mas estamos longe disso.

Já contra “judeus” tem um aspecto particular dentro da retórica do autor e merece o destaque de outra parte de seu libelo, ao apontar o racismo negro antissemita cita as manifestações contra o Estado de Israel, onde se lê: “Tudo bem criticar o governo de Israel. Os próprios israelenses costumam fazê-lo, vivendo em um regime democrático, ave raríssima no Oriente Médio. Outra coisa é pregar o desaparecimento de Israel, como querem o Irã e alguns movimentos de esquerda. Aqui, o antissemitismo. O ódio multicultural-indenitário a Israel parece não ter limites.”

O destaque aqui é mais necessário posto que tenta confundir a justa postura crítica ao estado sionista de Israel com um condenável antissemitismo geral.

Primeiro é preciso ter em mente que Israel mantém um regime segregacionista dentro da Palestina ocupada, um franco processo genocida, onde aí sim existe uma supremacia judaica sionista sobre grupos de minorias, mesmo de judeus de pele clara contra judeus negros como os falashas, negros judeus exilados de origem haitiana que são mantidos prisioneiros no Saharonim, um verdadeiro campo de concentração no meio do deserto do Negev.

Segundo, que classificar Israel como uma ave rara da democracia é pra ofender até mesmo a um pavão sem plumas: Israel vive sob a batuta severa de um Estado confessional judaico, uma teocracia sionista que prega uma superioridade semita sobre seus conterrâneos árabes, mantem sob regime de permanente ocupação militar palestinos na faixa de Gaza e na Cisjordânia, aleijados dos mínimos direitos democráticos e mesmo de direitos humanos básicos.

Isso pode ser visto mesmo na politica sionista de enfrentamento a recente pandemia, onde a população judaico israelense gozou da mais avançada política de controle da pandemia e um rápido avanço na aplicação da vacina, enquanto que boicotou de diversas formas a aquisição de imunizantes para os palestinos.

Uma outra confusão histórica já bem reprisada, é a de negar um caráter racial à escravidão ou de relativiza-lo, usando para isso a estratégia de citar escravagistas negros e de negros exercendo diversos papeis na escravização de nossos irmãos: A história ensina: quem hoje figura na posição de oprimido pode ter sido opressor no passado e voltar a ser no futuro. Muçulmanos escravizaram e mataram multidões de pretos durante séculos de tráfico negreiro na África.

Sergio Camargo, presidente da Fundação Palmares, ao lado do Presidente racista do Brasil, Jair Bolsonaro.

Podemos acrescentar a isso o fato de senhores de escravos negros serem uma figura presente na escravização africana dentro das américas e em particular no Brasil, isso pode ser observado na existência de negros alforriados donos de negros escravizados, pode-se dizer ainda mais: muitos negros tiveram papel chave no trafico negreiro, na subjugação de seus irmãos de cor. Quanto a isso não devemos temer a história, senão que observa-la atentamente para entender como o racismo passado sustenta até hoje o racismo presente e como negros podem contribuir para tal, não faltam traidores da raça como o presidente da fundação Palmares Sérgio Camargo.

O fato de negros terem papel de escravagistas não inverte aqui os papeis, eram negros que escravizavam negros, mas a supremacia branca se manteve inabalada. Não se tem registro de engenhos de escravos brancos, minas de extração com centenas de escravos brancos, pelourinhos de escravos brancos. A mão negra pode ter aparecido no cabo da chibata, mas nunca a pele branca na ponta do açoite.

Outras partes do texto são exemplos de atitudes discriminatórias e preconceituosas por parte de militantes negros que se assemelham a discursos racistas brancos que serviram e servem para tentar justificar o racismo branco vigente. Essas manifestações tem diversas implicações, são negativas e devem ser combatidas dentro do próprio movimento negro, além de serem sectárias, confundem e atrasam a luta tão necessária . Em um texto próximo subsequente a este trabalharemos mais atentamente as diferenças entre racismo, preconceito e discriminação.

outra parte do texto a qual se é necessário retomar é da de colocar gangues negras de NY como se fossem uma expressão do racismo negro:

“…Na história racial de Nova York, negros aparecem tanto como vítimas quanto como agressores criminosos. Judeus e asiáticos, ao contrário, quase que só se dão mal.”

Aqui temos duas falácias, a primeira delas é fruto do próprio racismo do autor ao colocar a criminalidade de uma parcela da população negra como sendo uma forma de opressão da comunidade negra sobre outras minorias étnicas, a outra é a de desconhecer sobre o que se fala.

Existem gangues judaicas em Nova Iorque como a histórica Kosher Nostra, gangues chinesas como os Continentais, gangues irlandesas, japonesas, italianas… tantas gangues quanto comunidades de imigrantes que são marginalizadas, mas só pessoas sem compromisso com a verdade veriam em alguma dessas gangues uma manifestação de racismo, a não ser é claro da parte de nosso douto autor.

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