A arte marcial de programar
Não é atoa que quando comecei a programar eu me deparei com um universo totalmente diferente do meu comum: Um bando de linhas de palavras e valores que, em teoria, mandariam instruções para uma maquina realizar uma determinada tarefa. Embora eu sempre tenha sido alguém que gostasse da área da ciências exatas, a computação é algo extremamente desafiador que não somente eu, mas muitas pessoas enfrentam no dia-a-dia.
Entretanto, embora esse mundo fosse desconhecido por mim e eu tenha me sentido como Cabral desbravando as águas em direção ao Novo Mundo, não me deixei ser intimidado pelas obscuras ciências arcanas, como são chamadas por alguns colegas as áreas que envolvem programação. Se algo que meus diversos anos praticando artes marciais me ensinaram é para nunca desistir de um desafio, sempre encontre algum jeito de o cumprir.
Então lá fui eu, tentar aprender um pouco de computação, desbravando algo totalmente novo que poucos desejam tentar aprender devido a sua tremenda dificuldade. Porém, como todos sabem, não importa a dificuldade de algo, sempre temos que começar com algo simples, então já era de se esperar que meu primeiro programa foi um “hello world”.
Como no judô, arte marcial a qual tenho mais tempo de prática, em que ensinamos a técnica mais básica que é cair sem se machucar para um iniciante, na programação somos ensinados algo simples como um comando de print em uma string para alguém que está iniciando a programar. E realmente é mágico ver a máquina realizar algo que eu pedi por meio de código.
Então assim comecei minha jornada como programador, uma trilha enorme para eu me tornar um dos maiores programadores que tem no mundo, com meu primeiro passo sendo aprender o print(). Estava muito ansioso, e queria logo fazer inúmeros programas, ganhar grande fama por projetos ambiciosos ou criar aplicativos nunca vistos em um piscar de olhos, mal comecei e queria já me tornar um faixa preta em código. Entretanto, logo descobri que para se tornar bom em programação, é necessário muita prática, muita repetição e, acima de tudo, muita persistência ao se deparar com problemas.
Aprendi que em programação para você ter o mínimo de conhecimento bem consolidado você deve exercitar e repetir o mesmo exercício centenas de vezes, até algo simples como atribuir valores para uma variável é necessário repetir milhares de vezes para compreender como funciona. Foi nesse momento que comecei a notar as similaridades de como programar é como uma arte marcial em que se deve repetir milhares de vezes uma única técnica para começar à entender.
Assim, por meio das minhas inúmeras repetições por meio de exercícios de programação, eu comecei aprender, pouco a pouco, novas técnicas da programação em si. A cada conceito novo aprendido e consolidado, sentia-me como tivesse sido graduado para uma nova faixa na arte marcial de programação: funções, orientação a objetos, banco de dados e outras diversas áreas passaram por meu aprendizado até agora.
Entretanto, como qualquer verdadeiro praticante de arte marcial, nunca me sentia satisfeito em como estava o meu nível de conhecimento. Eu não podia simplesmente parar de aprender, ou eu me sentia como se estivesse sendo deixado para trás, ou apenas definhando de pouco a pouco, não podia parar de aprender e melhorar, ou se não seria meu fim. E sempre estar aprendendo é algo essencial para poder viver na área de técnologia, especialmente na área de programação e ciência da computação.
Não é importante ser melhor que alguém, mas sim ser alguém melhor do que ontem
— Jigoro Kano, fundador do Judo.
Se for para analisar a ação de programar, ela realmente tem muitas coisas parecidas com arte marcial, as coisas aqui mencionadas antes são apenas poucas das diversas similaridades. Ter concentração absoluta, a mente livre de qualquer outras preocupações, ser dedicado e mais outras igualdades com a arte marcial é o que faz a programação ser algo tão atrativo para muita gente, e não só para mim.
Como a arte marcial não é apenas uma luta para alguém aprender alguns golpes, saber lutar ou se defender, e sim algo que serve de solução para problemas dentro de sua alma e mente, programação vai muito além do que linhas de códigos para fazer um computador executar algo. Programar é um jeito de se achar soluções para diversos problemas que podemos encontrar em nossa vida, sejam eles simples ou extremamente complexos. Há diversos exemplos de pessoas que inventaram aplicativos que ajudaram humanidade, em múltiplos tipos de lugares e situações.
Assim, aos poucos você vai vendo que programação é sim de fato uma arte marcial, ou pelo menos se assemelha muito com uma. Ela é algo que requer muita dedicação, paciência e vontade para evoluir, nunca se acomodar com o conhecimento que você tem e além de tudo, querer sempre usa-la para resolver problemas que você encontrar. E como na arte marcial, quando você chega na faixa preta não significa que acabou seu aprendizado, mas sim que apenas está começando uma nova fase, a que você vai começar a divulgar seu conhecimento para a sociedade.