A visão de um introvertido sobre comunicação

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Eu sou alguém classificado introvertido. Odeio interagir socialmente por muito tempo, canso-me rápido quando estou em qualquer festa e quando estou em algum lugar, sempre tem um momento em que penso como queria estar em casa, trancado em meu quarto, jogando em meu computador por mais de 5 horas seguidas longe de qualquer tipo de ser humano.

A primeira vista sou o típico “nerd” que gosta de animes, quadrinhos, jogos e filmes sobre as diferentes e muito distantes galáxias. Além disso pareço ser o tipo de pessoa que não sabe nem dizer um oi para estranhos, muito menos para mulheres. Ou seja, se todos nós seguirmos essa lógica, era para eu ser também alguém horrível em comunicação. Isso é verdade, mas também é uma mentira. Verdade porque eu realmente prefiro meus jogos do que pessoas, e mentira porque eu simplesmente adoro fazer apresentações, e além disso, fiz teatro por um tempo. Ou seja, adoro comunicação.

Pensam que o ato de se comunicar bem somente existe para pessoas extrovertidas ou que se sentem confortáveis em estar sobre o centro das atenções ou “subir no palco”. Acredito que esse tipo de pensamento é errado. A primeira coisa é que não há como classificar totalmente uma pessoa somente como introvertida ou extrovertida, somente utilizando esses dois extremos.

Como Bryan Little disse em sua palestra na TED Talk “Who are you, really? The puzzle of personality”:

"As pessoas em si são um grupo de características únicas, que compõe unicamente cada um com um único indivíduo. Estas vão desde quanto elas são abertas, capacidade de conscientização, agradabilidade e, é claro, o quanto é extrovertida."

São todos esses grupos de características que afetam em que nível de habilidade em comunicação você está, porém não significa que não há jeito de mudar como você se comunica ou não há maneira de você melhorar sua comunicação.

Seja você mais extrovertido, que ame falar com novas pessoas e goste de praticar sua comunicação, ao ponto até de abraçar um desconhecido, ou um introvertido que tende a evitar participar de grandes interações ou exposição, quero que você acredite que se comunicar é algo treinável.

Para provar isso, eu passei uma semana pesquisando, assistindo e analisando diferentes palestras e apresentadores para averiguar diferentes técnicas que estes usam para tornar a sua comunicação uma verdadeira arte. Em algo que seja leve, fluido e até mesmo bem divertido de se ouvir.

Vou passar por algumas pequenas dicas que valem a pena para todos que queiram treinar e aprimorar a sua comunicação. Algumas delas eu falhei miseravelmente na vida até aprender, outras eu descobri durante as minhas pesquisas na semana.

Evite querer ser o centro das atenções

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Aqueles que começam a fazer algum tipo de apresentação ou que queira quebrar a barreira de introversão, acham que é necessário parecer ao todo momento alguém muito interessante, não importa sobre o que estamos falando. Acredite em mim que isso é um comportamento totalmente errado, porque eu mesmo cometia muito deste erro.

Isto faz com que você passe duas mensagens com quem você esta se comunicando: Ou elas vão te achar alguém egoísta que se acha superior a eles e vão parar de te ouvir, ou vão achar você alguém com muita pouca confiança em si mesmo e no que você fala, e também vão parar de te ouvir.

Perceba que se essa pessoa já está conversando com você ou se você já está fazendo uma apresentação, você já está sendo alguém minimamente interessante, e não tem porque buscar ativamente parecer alguém ou algo interessante.

A melhor coisa é somente seguir sua comunicação como se fosse uma conversa comum, sem qualquer tipo de exagero ou forçação de barra. Agir dessa maneira não só mostra que você tem domínio sobre o que está querendo falar, mas tem confiança em você mesmo e também passar a mensagem que as pessoas que estão te ouvindo estão no mesmo nível que você.

Procure ser alguém aberto

Naturalmente quando as pessoas estão sob o olhar de muitas outras tendem a ficar rígidas, cruzar os braços, enrolar em sua fala e entre outros tiques corporais. Todos fazem isso quando não estão acostumados em se comunicar, eu fazia isso muito (e ainda faço) antes de começar a praticar a comunicação.

Não tenha medo de expor as suas ideias ou de mostrar como você pensa em determinado assunto, e ao mesmo tempo não recuse o que os outros tem a dizer e contribuir para a sua fala. A chave de muitas apresentações que separa os palestrantes da média é a capacidade de ficar confortável no ambiente.

No momento que você fica confortável com sigo mesmo, com o ambiente e com sua fala, você conquista o espaço (como se demarcasse de forma indireta que você está presente) e as pessoas começam a prestar mais atenção em você. Além disso, sendo mais aberto faz com que você transmita mais confiança.

A criatividade e o humor se treinam

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Andrew Tarvin, palestrante e treinador de comunicação empresarial, disse em sua palestra “The Skill of Humor” na TEDxTAMU que não existe essa coisa que criatividade e humor nascem com a pessoa ou é um talento inato que ninguém possa desenvolver.

Ambas são habilidades treináveis que qualquer pessoa pode desenvolver, basta a pessoa querer praticar. Então sempre que possível ou tenha uma brecha em sua agenda, pratique a habilidade de criatividade, seja escrevendo em um caderno algumas rimas, criando cantadas bestas ou surgindo com piadas novas.

Além de serem boas atividades para fazer com que o tempo passe mais rápido e deixe o seu dia mais agradável e fácil de se digerir, isso faz com que você consiga ter uma maior dinâmica em sua comunicação e até mesmo surgir com resposta inusitadas e interessantes que antes você não conseguia se quer pensar.

Todos nós já passamos por aquele momento estamos em uma conversa em que tentamos fazer uma piada, falar algo relevante ou até mesmo tentar uma cantada em alguém, e somente falha. Entretanto cerca de 3 ou 4 horas depois quando você está deitado na sua cama a perfeita resposta para aquele momento passado surge. Essa prática de criatividade fará com que essa resposta perfeita chegue mais rápido, diminuindo para 2 horas depois, 1 hora depois, 10 minutos e até que chega no nível de ser no momento da conversa.

Improvisação não como uma saída, mas como ferramenta

Whose Line Is It Anyway | Show de improvisação da CW

As pessoas pensam erroneamente que improvisar é algo somente que você inventa para tentar se safar de algum momento durante uma conversa ou apresentação quando algo inusitado acontece. Olha, tenho que dizer que a improvisação é muito mais do que só uma saidinha para resolver algo que dá errado.

A improvisação é uma ferramenta poderosa que você pode utilizar para alterar a dinâmica de uma conversa ou de uma apresentação de forma esperta e fluida. Ela te ajuda a moldar sua fala para encaixar com o momento, lugar e pessoas com quem você está se comunicando. Muitas vezes graças a improvisação você pode salvar uma conversa que está seguindo um caminho para total falha.

Entretanto a improvisação é algo que você tem que treinar porque mesmo sendo uma ótima ferramenta para melhorar e destacar a sua forma de se comunicar, ela é muito difícil de se dominar. Uma má improvisação pode estragar completamente uma conversa ou apresentação que ocorreria normalmente se você não tivesse a utilizado.

Todo mundo consegue fazer o uso de improvisação, porém a chave é praticar. Existem diversos exercícios teatrais clássicos que você pode usar como “Mágico Se”, “Somente Perguntas”, “ABCDário” e entre outros. Arranje colegas e comece a praticar. Se quiser material para se basear, um bom show de improvisação que vale a pena ser estudado é o Whose Line Is It Anyway, em que nele os atores trabalham a improvisação utilizando os exercícios clássicos de teatro.

Linguagem corporal é tão poderosa quanto sua fala

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Muitas pessoas esquecem o quão forte é o uso de seu corpo durante uma conversa ou apresentação. Já mencionei um pouco dela sobre você tentar ser menos rígido ou não cruzar os seus braços para demonstrar confiança.

Preste atenção em como seu corpo comporta-se durante as apresentações, como você anda ou como você se curva ou se direciona para alguém. Pode ser que você esteja falando o segredo do universo de como ter a melhor vida, mas se você não tiver uma boa linguagem corporal as pessoas provavelmente vão ignorar o que você está falando ou até mesmo ficar desconfortáveis com você.

Isto é algo muito difícil de se dominar pois como a improvisação, humor e criatividade, o uso de linguagem corporal requer muita prática. Por isso sempre que você estiver apresentando tente se filmar para se observar.

Algumas dicas básicas são evitar de ficar olhando para baixo, procurar sempre olhar em direção da sua plateia mas ao mesmo tempo não se fixar em uma pessoa só, manter a coluna ereta e fazer o uso certo da quantidade de gesticulação.

Posso ficar horas falando sobre a linguagem corporal porque é um assunto extenso do qual deve ser destrinchado com calma, e não cabe me prender muito nele nesse artigo (Talvez eu faça outro sobre só linguagem corporal). Por isso recomendo você ver apresentações de teatro e também a TED Talk de Antoni Lacinai “6 Communication truths that everyone should know”. Lá ele fala um pouco sobre linguagem corporal para palestrantes.

E por fim, aprenda a escutar

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Não adiante querer se tornar o melhor falante se você não for um ainda melhor ouvinte. A habilidade de escutar alguém é muito difícil de se desenvolver e poucos realmente a dominam. Como Bill Nye disse “Todos que você encontrará sabem de algo que você não sabe”.

Ouvindo as pessoas é o momento que você consegue se por do outro lado e sentir na pele como as pessoas se sentem prestando atenção em alguém que está falando. É nessa hora que você percebe jeitos diferentes de como uma pessoa pode se comunicar, e até mesmo aprender algo sobre alguém.

A habilidade de ouvir não só te ajuda a entender muito bem os dois lados da arte de comunicação, mas ajuda a você a desenvolver a empatia. Se você for alguém que consegue ser empático tanto como ouvinte quanto como falante, as pessoas começaram a prestar mais atenção em você e desejarão conhecer que tipo de pessoa você realmente é.

Concluindo, do ponto de vista de um “introvertido”

A comunicação não é algo fácil de se fazer. Eu fui alguém que pecou muito nisso durante a minha vida porque achava pouco necessário querer se comunicar ativamente com os outros. Este pensamento fez com que eu perdesse diversas oportunidades na vida, seja de amizade, amores ou até mesmo de trabalho.

Por isso procurei trabalhar muito minha comunicação, e comecei a olhar como se fosse uma arte. E como qualquer tipo de arte, todos conseguem a praticar e ficar bom nelas, basta apenas você persistir e aprender com seus erros.

Então vá lá, treine o jeito como você fala, como você faz piadas e como você ouve. Se divirta e explore esse mundo magnifico da arte da comunicação, porque mesmo que você se considere alguém que nem consiga nem se quer dar um oi para um estranho, isso pode ser trabalhado e todos podem se tornar ótimos comunicadores.

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Victor Falcetta do Nascimento
Apple Developer Academy | Mackenzie

Olá, eu sou Victor. Escritor e desenvolvedor de softwares cursando Ciência da Computação, praticante de Judô e Jiu Jitsu, amante de teatro e de poesias.