A angústia da felicidade…

Veronica Heringer
MadameHeringer
Published in
6 min readJul 18, 2016

Será que a felicidade gera angústia? ansiedade? depressão?

Quanto mais eu vivo a minha vida no exterior, descubro que a resposta a essa pergunta é um absurdo e barulhento sim.

Sim, um sim formal.

Sim!, um sim empolgado!

SIM!, um sim desesperado que precisa alertar todos do topo dos pulmões!

E eu já disse esse SIM! várias vezes. Aas últimas, a pessoas diferentes aqui mesmo no Canadá; brasileiras ou não.

A grande verdade é que somos todos humanos e a realidade do consumo enquadra a forma que pensamos. Ricos ou não, estamos todos enlouquecidos, tentando descobrir o que vai ajudar a nossa popularidade, a ser a pessoa mais especial do nosso círculo de amigos, da nossa família.

O optimismo desenfreado de nossos pais nos anos 80, hoje se traduz em baixa-estima mal-agradecida. Numa realidade que não nos permite ver que o que já somos, que nos faz viver como não se houvesse amanhã.

Dinheiro não traz felicidade…

Outro dia disse para uma amiga canadense que ela "não precisa viver a vida como se fosse morrer amanhã; não precisa pensar no legado como se ele fosse começar hoje." Eu me senti na obrigação de mandar a real porque também pensava assim e acabei louca, com o mesmo senso de identidade indefinido e eternamente em transição.

Eu reconheço os sintomas porque a pouco tempo eu também me via assim mas posava no Instagram sorrindo como se tudo que acontecia dentro da minha casa e dentro de mim fosse perfeito. Eu pirei e só consegui me reencontrar quando decidi ver o mundo de uma forma diferente e ouvir os conselhos dos amigos de carne e osso.

Assim como a minha amiga, eu também destruí tudo que estava na minha frente para ressurgir das cinzas (porque um reinício dramático é sempre melhor que um comedido!). Assim como ela, eu perdi vários amigos, escolhi empregadores péssimos e me deixei controlar pelo meu próprio ego. E assim como ela, o exemplo que recebi dos meus pais é que a vida é dura e nem os ricos são tão felizes assim.

Dinheiro não traz felicidade… dinheiro não traz felicidade…

A gente sai da favela mas a favela não sai de dentro da gente…

Certos conceitos viram verdades para as vozes loucas que tentam abafar a nossa felicidade. No final a gente acaba agindo como os fantasmas do nosso passado mesmo…

Tenho um amigo tijucano que era a definição do tijucano no cativeiro provinciano do Rio de janeiro. Ao ponto de outro dia amigos facebookqueianos o marcaram numa corrente fotofilosófica que dizia: "O tijucano sai da Tijuca mas a Tijuca não sai de dentro do Tijucano." O que na minha opinião, só diz isso quem não conhece o cara hoje. Mas como eu ia dizendo, esse é o meu amigo que sabe viver… que devia dar TED talk!

O cara veio pro Canadá falando nós vai, nós vem, como ele mesmo diz, pra ser designer num studio pequeno em Vancouver e hoje é Diretor de Design numa super startup. É um dos caras mais agradecidos pela vida que eu conheço, seguindo já pro terceiro filho sem dia ruim. Esse meu amigo me deu os conselhos mais preciosos, e eu louca só os escuto agora. A vida tem mesmo o seu tempo…

Deus ajuda quem cedo madruga…

E eu já tive tanto emprego no Canadá. Emprego que me pagou bem e me fez sentir miserável e emprego que paga mal mas me traz propósito na vida. Emprego que dá vontade de acordar de manhã e ir trabalhar porque o chefe é legal, os coworkers são gente-fina e no final das contas as contas estão pagas e eu sou reconhecida e falada dentro da corporação. O emprego me permite ter tempo para escrever, ir à dança flamenca, ver meus amigos e fazer curso de caligrafia quando dá vontade.

Comparado aos meus primeiros anos no Canadá, a minha realidade é de uma riqueza de dar inveja, mas comparando a…

A comparação é uma das ferramentas mais cruéis que a gente tem contra si mesmo. É fato, eu não vou ser rica como a Kim Kardashian porque privilégio é um fato de merda que nunca vai me permitir acessar as mesmas oportunidades que a Kim.

Lembra quando diziam que você nasceu com o bumbum virado pra lua? Talvez isso tenha sido a sua realidade de onde você veio, mas comparada ao mundo dos ricos e famosos a sua distância desse poll de oportunidades só pode ser medida em anos-luz.

Por isso, eu hoje me comparo a mim mesma, ao meu passado, quando olho para a minha vida hoje, em 2016, dez anos após a minha chegada nesse país. Eu também cheguei aqui falando nós vai, nós vem, contando centavo pra comprar a minha prancha de snowboard, achando que o que eu sabia da vida era o suficiente. Eu era tao inocente que acreditava que já tinha vivido tudo de interessante e que nada iria mudar nessa vida. Cheguei aqui achando que já conhecia o pai dos meus filhos, achando que nunca mais iria sofrer uma dor de cotovelo. Boy, I was wrong…

E hoje de manhã enquanto eu acordava e fazia cafuné no meu marido gringo, eu comecei a pensar como os medos de hoje são tão bobos se eu deixar a vida se desenrolar. Se eu permito acontecer, o mundo é realmente um lugar melhor para se viver.

É fato que eu vou manter as minhas promessas feministas e criar seres humanos que respeitem outros seres humanos de forma igualitária. É fato que eu não vou me acomodar e vou dividir a parental leave com o maridão. Num cheguei aqui mal sabendo quem era a Martha Stewart e hoje sou carneirinha do império dela? Campo Grande pode sair de mim sim!

(E olha que até Campo Grande evoluiu, até Campo Grande é melhor que o bairro do meu tempo. As pessoas estão melhores, mais felizes, mais independentes, mais viajadas…)

Série da semana: Baronese Von Sketch

Livro da semana: The Three Pillars of Zen: Teaching, Practice, and Enlightenment

Artigo da semana: Sobre feminismo, empatia e uma boa soneca

Hack da semana: Truque da cola

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Veronica Heringer
MadameHeringer

1/2 Brazilian, 1/2 Canadian, Digital Strategist, proud Gen Y-er. Opinions are my own! writes @madameheringer & @halfhalf2016